Não deram certo as longas negociações e concessões do governo para acalmar os militares em relação à Comissão da Verdade. Desde que foi aprovada pela presidente Dilma Rousseff, nove dias atrás, observa-se uma crescente inquietação nesse meio quanto aos rumos da comissão. Teme-se, sobretudo, a possibilidade de caminhar para um processo de judicialização.
Com os militares da ativa legalmente impedidos de se manifestar sobre questões políticas, a reação ocorre por meio de oficiais da reserva. Fala-se até na formação de uma frente para impedir ações da comissão.
Na semana passada, o capitão da reserva José Geraldo Pimentel divulgou em seu site uma carta na qual afirma que o primeiro passo da comissão será criar bases legais para um processo de mudança na Lei da Anistia. Em seguida, continua, os agentes das Forças Armadas seriam levados a tribunais. A Lei da Anistia, aprovada em 1979, proíbe a punição de crimes por motivos políticos durante o regime militar (1964-1985), o que inclui, também, as torturas e desaparecimentos cometidas por agentes do Estado.
"Condenar os militares e agentes do Estado que lutaram contra os ex-terroristas e ex-guerrilheiros é o grande objetivo", diz. Para evitar que isso ocorra, o autor recomenda aos militares que ainda mantêm documentos sobre aquele período que não os apresentem.
"Se vocês tiverem em seu poder registros dos acontecimentos da luta travada contra os comunistas, desfaçam-se dos documentos, ou os guardem em lugar seguro", assinala. "Só a posteriori, quando o rancor da vingança desaparecer, é que poderão torná-los públicos."
Manifestações semelhantes partiram de vários outros pontos na internet. O Clube Militar do Rio criou um link em seu site para abrigar manifestações sobre a comissão. Um dos artigos, assinado pelo general da reserva Maynard Marques de Santa Rosa, qualificou-a de "estratagema de um grupo de vingadores obstinados, dirigida aos que lhes frustraram o projeto de aqui implantar a tirania contraditória".
Críticas
Entre familiares de mortos e desaparecidos no período da ditadura, assim como no meio de partidos de esquerda, o movimento ocorre é contrário: critica-se o governo pelas concessões.
Segundo o deputado federal Ivan Valente (PSol-SP), esses militares da reserva ainda acreditam que têm força para criar uma crise institucional e política no país. Seu objetivo seria o de tentar intimidar o governo. "Mas isso não existe. Eles não têm projeto para o país nem representam a nova geração de oficiais, que não devem carregar a canga daquele passado", diz o deputado.
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