Mais de 5 milhões de brasileiros sofrem de um dos três tipos hepatite, mas ainda se sabe muito pouco sobre essas doenças no país. Num esforço para traçar um panorama dessas doenças, o Ministério da Saúde, em parceria com a Universidade de Pernambuco e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), deu início, neste mês, ao primeiro Inquérito Nacional das Hepatites A, B e C.
- A idéia do estudo é identificar quem tem as doenças ou o vírus a que provoca as hepatites B ou C para, a partir daí, tentar adotar políticas mais eficazes para o tratamento - explica a médica Leila Beltrão Pereira, da Universidade de Pernambuco, que está à frente do projeto.
Segundo a médica, o levantamento já foi concluído nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste do país. Em outubro, o trabalho será realizado no Sul e, em fevereiro, terá início no Sudeste.
Segundo dado coletados até agora, a incidência de hepatite A é maior na região Nordeste, onde 40% da população de 5 a 9 anos e 52% dos 10 a 19 anos têm a doença.
Já as hepatites virais apresentam uma maior incidência na região Centro-Oeste. Segundo Leila, 0,36% da população com 10 a 19 anos e 0,27% do grupo dos 20 a 69 anos apresentam o HBV, o vírus responsável pela hepatite B. A hepatite C apresenta uma incidência de 1% nas crianças e adolescentes de 10 a 19 anos e de 21,1% na população dos 20 a 69 anos.
- A maior surpresa ficou por conta da incidência da hepatite C, que foi maior do que esperávamos - conta Leila.
Os resultados do levantamento podem ser especialmente úteis para o tratamento da hepatite C. Diagnosticada pela primeira vez em 1989, a doença provoca seqüelas graves, como o desenvolvimento de cirrose e câncer do fígado, e vem crescendo no Brasil.
- A hepatite C é um grande problema de saúde pública - explica o médico João Galizzi Filho, que em outubro assume a presidência da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH). - Como é considerada uma doença silenciosa, porque o paciente às vezes leva entre 20 a 30 anos para descobrir que a tem, o número de diagnósticos da doença está crescendo. Em termos de mortalidade, suas conseqüências são mais graves. Dois milhões de pessoas que têm a doença, e 20% desenvolverão cirrose.
A idéia de Leila, no entanto, é proporcionar um melhor tratamento para os tipos A e B também.
- Queremos que o trabalho ajude a melhorar a questão do saneamento, que está ligado à hepatite A. No caso da hepatite B, vamos oferecer a vacina às pessoas que ainda não apresentam o vírus da doença - explica a médica.
O levantamento deve ser concluído em dezembro de 2006.