Com orçamento previsto de R$ 523 milhões, o Ministério do Turismo é mais um dos alvos do embate do governo federal com o Congresso – e também traz à superfície o racha no PMDB. A sigla está “dividida” entre correntes ligadas ao vice-presidente Michel Temer (PMDB) e outras duas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Temer não terá vida fácil no novo cargo
O anúncio do vice-presidente Michel Temer (PMDB) como novo responsável pela articulação política tem a intenção clara de pacificar as relações do governo federal com o Congresso. O objetivo, porém, não deve ser assim tão fácil de ser alcançado. Deputados já se movimentam para impor novas derrotas ao Executivo e a atuação de Temer será decisiva: se falhar, o governo ficará ainda mais enfraquecido; se for bem sucedida poderá enfrentar retaliações da oposição e do próprio partido.
A troca na Secretaria de Relações Institucionais, que era comandada pelo petista Pepe Vargas, foi uma sugestão do ex-presidente Lula, abrindo mais uma representação do PMDB no primeiro escalão. Temer foi escolhido por ter trânsito e diálogo com os caciques partidários.
Em poucos dias na nova função, Temer conseguiu que líderes dos partidos se comprometessem a não votar propostas que impactassem os cofres públicos, manobrou para retirar assinaturas da CPI do BNDES no Senado e adiou a votação do projeto que limita o número de ministérios. O desempenho foi “surpreendente”, na visão do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR). “Ele conseguiu tudo isso, acho que pouca gente esperava”, diz.
Apesar da adesão, alguns deputados já dão sinais de que o acordo não será cumprido na íntegra.
Mesmo elogiando a postura pacificadora de Temer, o próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha, afirmou que não iria abandonar a sua posição de “independência” de colocar para votação matérias polêmicas.
Os peemedebistas reclamavam de nunca serem ouvidos pelo governo na tomada de grandes decisões. E a escolha de Temer para o cargo seria mais uma pitada de sal na insatisfação. Deputados ouvidos pela reportagem disseram que a bancada não foi consultada sobre a escolha do nome. O clima tenso, porém, não é motivo de preocupação para o presidente estadual do partido e assessor direto de Temer, Rodrigo Rocha Loures. Ele acredita que as diferenças estão caminhando para serem superadas. (AA)
No fim de 2014, o governo prometeu nomear para o Turismo o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB), apadrinhado político de Cunha. Mas Renan prefere a permanência do seu indicado para o posto, o atual ministro Vinícius Lages.
Temer se reuniu com Cunha, Renan e outros caciques partidários em duas ocasiões nos últimos dias, na função de mediador. O vice sinalizou que manterá a indicação de Alves para o Turismo, mas, para agradar a Renan, deve encaixar Lages em outro cargo importante da União. Também deverá ouvir a opinião do presidente do Senado sobre a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga deixada por Joaquim Barbosa.
Apesar de estar à frente da campanha pela redução no número de ministérios, uma das bandeiras da oposição, o PMDB hoje controla sete das 38 pastas – além da vice-presidência, que agora tem a função de articulação política (leia mais ao lado).
Historicamente, o partido trava disputas para aumentar o espaço dentro do governo. Por causa disso, um deputado peemedebista, que não quis se identificar, afirma que a negociação de cargos e posições é uma “artimanha corriqueira” para a legenda se fortalecer. “Existe muito fisiologismo. Abre a sede do povo, infelizmente”, disse.
A pasta do Turismo é dividida entre PT e PMDB desde o início da gestão do ex-presidente Lula. Mas o ministério está nas mãos dos peemedebistas ininterruptamente há quatro anos.
Temer, por sua vez, afirmou que as arestas entre PT e PMDB “tendem a acabar”.
Racha no partido
Cunha e Renan têm protagonizado posições independentes na Câmara e no Senado e impondo uma série de derrotas ao governo. Eles não foram consultados sobre o novo papel de Temer como articulador político no Congresso. Para alguns, a mudança acirra a crise no partido e coloca em risco a bandeira da independência. “Temer assume posição de protagonismo junto ao governo. Mas, o partido, quem comanda é o Cunha e, no Senado, é o Renan”, diz o deputado João Arruda (PMDB-PR), coordenador da bancada paranaense.
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