O ministro Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, foi vaiado e chamado de mentiroso por militantes do Psol ao afirmar, em discurso na 9.ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio, que "não há reforma neoliberal e não há corte em nenhum programa social do povo brasileiro" no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).
"Esse é o discurso da direita. É a fala da Rede Globo", acrescentou o ministro, enquanto parte da plateia gritava: "O povo não é bobo, o ministro é mentiroso!". Cerca de 600 pessoas lotaram o térreo da Fundição Progresso, na Lapa (centro do Rio), para acompanhar a fala de Rossetto sobre reforma política. O grupo estava dividido desde o início do debate. De acordo com a UNE, foi a "primeira grande reunião do novo ministro com movimentos sociais".
À esquerda do palco, militantes de correntes ligadas ao PSOL criticavam o ajuste fiscal e o corte de direitos trabalhistas anunciados pelo governo Dilma, reeleita com o apoio de integrantes do PSOL. Em coro e usando instrumentos de percussão, eles já haviam interrompido algumas vezes o discurso de Rossetto com gritos como: "É o maior tarifaço que eu já vi; contra o ajuste da Dilma e do (Joaquim) Levy!" ; "Ô Rossetto, que palhaçada, cadê a reforma agrária!" e "O que que aconteceu? O governo Dilma abraçou a Kátia Abreu!".
À direita, militantes principalmente do PT e do PC do B aplaudiram e defenderam Rossetto. O grupo cantou o jingle de campanha "Olê, olê, olá, Dilma, Dilma!" e atacou a Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST), ligada ao PSOL: "A CST é de direita!".
O ministro reagiu pelo menos três vezes afirmando que considerava "uma piração, uma maluquice total" a atitude dos críticos, mas acabou conseguindo terminar seu discurso. As vaias só vieram quando ele, já nas considerações finais, após as falas de vários militantes, defendeu as medidas anunciadas pelo governo, afirmando: "Nós não estamos na Grécia. O Brasil iluminou o povo grego para lutar".
Pouco antes, uma estudante havia acusado o governo do PT de realizar um "estelionato eleitoral" para "agradar aos banqueiros". "Tem de cortar é dos ricos", disse ela.
Após o debate, em entrevista, Rossetto, molhado de suor, minimizou o embate: "Isso faz parte da democracia do nosso país. Tão importante quanto as manifestações foram os aplausos." Seguranças formaram um cordão para a saída do ministro. Ele deixou o local sob gritos de: "O povo não é bobo, o ministro é mentiroso!"