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Atualizado em 27/03/2006 às 23h48

Ao anunciar as demissões do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mudar sua equipe diante do fato de o Estado de direito não ter sido respeitado no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que fez acusações contra Palocci na CPI dos Bingos.

- O Estado de direito, os direitos da cidadania estão acima das circunstâncias e dos indivíduos. E na medida em que o Estado de direito não foi respeitado neste episódio, o presidente imediatamente muda sua equipe, com afastamento do presidente da Caixa Econômica Federal e do ministro da Fazenda e da nomeação de Guido Mantega - disse Aloizio Mercadante, para quem Palocci demonstrou reconhecimento pelo erro que foi cometido.

Palocci pediu para deixar o cargo no fim da tarde desta segunda-feira, quase ao mesmo tempo em que o presidente da Caixa prestava depoimento na Polícia Federal (PF) sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo. Numa carta ao presidente Lula, Palocci negou qualquer participação na quebra do sigilo bancário da conta do caseiro. Diz que não pediu, não divulgou, nem mandou divulgar o extrato da conta do caseiro. Palocci disse ainda que é vítima de acusações resultantes da luta política.

Durante o interrogatório na PF, porém, Mattoso citou duas vezes Palocci. Disse que entregou o extrato da conta do caseiro ao então ministro da Fazenda, no dia 16 deste mês, um dia antes de as informações serem vazadas para a imprensa. A polícia deve, a partir de agora, aprofundar as investigações para apurar envolvimento de Palocci e de um assessor dele no vazamento do extrato do caseiro para a revista "Época".

BNDES e CEF

O presidente do BNDES, Guido Mantega, assumirá o ministério da Fazenda. Para seu lugar no BNDES irá Demian Fioca, atual vice-presidente do banco. A nova presidente da Caixa é Maria Fernanda Ramos Coelho, atual superintendente nacional de desenvolvimento e estratégia empresarial da estatal. Maria Fernanda é funcionária de carreira e trabalha na estatal há 22 anos. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, pediu demissão em caráter irrevogável alegando que foi levado para a pasta por Antonio Palocci.

Ainda no pronunciamento, Mercadante elogiou a passagem de Palocci pelo Ministério da Fazenda afirmando que ele recuperou a credibilidade do Brasil, melhorou as finanças, estabilizou a economia e fixou bases sólidas para retomada do crescimento, mas afirmou que, mesmo assim, o presidente decidiu mudar a equipe por causa do desrespeito ao sigilo do caseiro.

- O governo errou e o erro é reconhecido. O afastamento dos responsáveis é exatamente o reconhecimento disso - disse Mercadante.

Reações

A saída de Palocci provocou imediatas reações na oposição e entre aliados do governo .

O caseiro comentou, através de seu advogado Wlício Chaveiro, a demissão do ministro da Fazenda.

- Está ficando claro que o lado mais fraco não é do simples caseiro, é o da mentira.

Palocci estava sob fogo cerrado da oposição há 13 dias, desde que Francenildo o desmentiu na CPI dos Bingos. O caseiro afirmou que o ministro freqüentava a casa em Brasília alugada por ex-assessores em Ribeirão Preto acusados de corrupção. O ministro nega ter ido à casa. A quebra sem autorização judicial do sigilo do caseiro acirrou as críticas da oposição.

O nome do então ministro da Fazenda foi trazido à crise política por Rogério Buratti, seu ex-secretário de Governo na prefeitura de Ribeirão Preto (1993-94), que o acusa de receber, quando prefeito, uma propina mensal de R$ 50 mil da empresa Leão & Leão para manter contratos de coleta de lixo e varrição de ruas. O Ministério Público e a Polícia Civil de São Paulo dizem ter provas para indiciar o ministro e assessores por peculato e formação de quadrilha devido às irregularidades em Ribeirão Preto. Outra acusação de Buratti contra Palocci, em depoimento no MP, é de que o ministro teria tido, em 2002, um encontro com dois angolanos donos de bingos. Eles, segundo Buratti, teriam doado R$ 1 milhão à campanha do PT.

Diante das denúncias de Buratti, o ministro fez um pronunciamento num domingo, onde negou veementemente as acusações. Ele as chamou de infundadas, confirmou ter recebido da Leão & Leão apenas doação legal para campanha, declarada à Justiça eleitoral, e, na época, convenceu aliados e opositores. Depois, porém, novas denúncias de irregularidades de assessores e acusações contra ele fizeram Palocci ficar novamente na berlinda. O ministro chegou a dizer que tiraria quatro dias de folga no feriadão de 15 de novembro para pensar sobre o futuro e o presidente Lula precisou divulgar nota para dar fim a boatos e garanti-lo no cargo.

Palocci antecipou sua ida à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para tentar dar um fim às especulações sobre sua saída do governo. Leia também:

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INTERATIVIDADE

Guido Mantega, na sua opinião, era a melhor escolha para suceder Antonio Palocci?

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