“O (Carlos) Minc (ministro do Meio Ambiente) é um moço carioca que não saiu do Rio de Janeiro, não pisou na terra. Ele não tem um décimo dos técnicos que eu tenho.” Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, justificando por que os argumentos da área ambiental do governo federal estão equivocados| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Veja quais são as principais mudanças no código ambiental
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Os ministérios interessados nas mudanças no Código Florestal – o do Meio Ambiente e o da Agricultura – não se entendem quando o assunto é a flexibilização da legislação ambiental. Depois de um grupo de trabalho interministerial patinar em divergências e acabar extinto, as farpas entre os ministros Reinhold Stephanes, da Agri­­­cultura, e Carlos Minc, do Meio Ambiente, se tornaram recorrentes.

Mas, na briga ministerial, quem aparenta ter tido mais apoio do presidente Lula é a área desenvolvimentista. Lula tem tratado a questão ambiental, por exemplo, como um entrave às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essa postura inclusive foi uma das razões que levou à saída da senadora Marina Silva (PV-AC) da pasta hoje ocupada por Minc.

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Incompetência

Os primeiros desentendimentos entre os dois ministros começaram no fim do ano passado, quando Stephanes afirmou que o desmatamento "é problema de incompetência do Ministério do Meio Ambiente, que não consegue colocar na cadeia os caras que derrubam madeira".

Em resposta ao colega, Minc declarou que custava a crer que "uma pessoa com a experiência dele (Stephanes) tenha feito um comentário tão injusto". Mas ele disse que iria conceder perdão "não aos desmatadores, mas ao ministro temporariamente descompensado". Diante da saia-justa criada ao governo, Lula proibiu os dois de discutirem por meio da imprensa.

Em entrevista à Gazeta do Povo na última sexta-feira, Stephanes disse respeitar Carlos Minc, mas voltou a defender o projeto em tramitação na Câmara que altera a legislação ambiental. "O código atual foi formulado em bases erradas, sem sustentação técnico-científica nem consulta aos ruralistas", afirmou. "Não defendo a flexibilização do código, mas a correção dos erros cometidos."

Segundo Stephanes, se a legislação atual for cumprida à risca, 1 milhão de pequenos e médios produtores teriam que deixar suas propriedades e 70% do território brasileiro não poderia ser utilizado para a agropecuária. "Nenhum país do mundo se desenvolve dessa forma. Falta bom-senso e racionalidade", reclamou o ministro paranaense. "O Minc é um moço carioca que não saiu do Rio de Janeiro, não pisou na terra. Ele não tem um décimo dos técnicos que eu tenho."

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Já o diretor do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João de Deus Medeiros, criticou a tentativa do Congresso de formalizar o descumprimento da legislação ambiental por meio da alteração do código atual. "O cumprimento da legislação não é uma alternativa ou opção. Se determinações legais não são cumpridas, o infrator tem de ser responsabilizado. É realmente surpreendente que um projeto como esse parta de legisladores", disse Medeiros. "É um exagero criar esse quadro catastrófico de que toda a produção agrícola estaria inviabilizada. Hoje está mais do que provado que a agricultura é extremamente dependente dos serviços ambientais."

Para o Ministértio do Meio Ambiente, um dos pontos mais controversos do projeto do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) é o que garante a emissão automática de licenças ambientais nos casos em que o órgão competente não se manifestar em um prazo de 60 dias – o governo editou uma medida provisória idêntica neste ano, que não chegou a ser votada no Senado.