A proposta de emenda à Constituição que submete decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) ao Congresso Nacional foi recebida com críticas por integrantes da Corte e pelo Ministério Público. O texto foi aprovado nesta quarta-feira na Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania da Câmara e agora será analisado por uma comissão especial.
Para o ministro Marco Aurélio Mello, a proposta vai de encontro à cláusula pétrea da Constituição que determina a separação entre poderes.
"Nós temos um sistema em que se verifica o primado do Judiciário. A última palavra não cabe ao setor político, cabe ao Judiciário. O guarda da Constituição é o Supremo", disse o ministro. As cláusulas pétreas não podem ser alteradas por emendas, somente com a convocação de uma Assembleia Constituinte.
O ministro acredita que a proposta soa como uma retaliação por decisões tomadas recentemente pelo Supremo que vão contra o interesse da maioria da Câmara e de setores específicos, sem identificar quais são as decisões.
"Não creio que para a sociedade brasileira, para o almejado avanço cultural, esta submissão dos atos do Supremo seja boa. Ao contrário, é perniciosa", disse.
Para o ministro Gilmar Mendes, a proposta "evoca coisas tenebrosas". Ele lembrou a Constituição de 1937, concebida no regime do Estado Novo de Getúlio Vargas, que permitia a submissão de decisões do Judiciário à Presidência da República. "Acredito que não é um bom precedente, a Câmara vai acabar rejeitando isso."
Mendes disse que os movimentos do Legislativo contra o Supremo são marcados "por decepções, frustrações imediatas", equilibradas posteriormente por decisões que agradam à maioria. "É preciso ter muito cuidado com este tipo de interação e acredito que, em geral, tem-se sabido valorizar a democracia, o Estado de direito, e acredito que será assim que a Câmara encaminhará."Os dois ministros criticaram trecho da proposta que aumenta o quórum para declaração de inconstitucionalidade, de seis para nove votos.
A Corte tem 11 ministros e geralmente está desfalcada devido a aposentadorias agora, por exemplo, aguarda o substituto de Carlos Ayres Britto, que se aposentou em novembro do ano passado.
Marco Aurélio admitiu a adoção de quórum especial para declaração de inconstitucionalidade, mas também alertou para as dificuldades que isso pode trazer na prática. "Aí teríamos nove [votos], quem sabe a utopia, a unanimidade.
Teríamos que ouvir o Nelson Rodrigues no que dizia que toda unanimidade é burra."O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que não conhece o texto que tramita no Congresso, mas que "à primeira vista, é algo que causa perplexidade do ponto de vista constitucional". Segundo ele, a proposta "não parece casar muito bem com a harmonia e independência entre os poderes".
Deixe sua opinião