O acidente com o vôo 3054 da TAM, que matou 199 pessoas, completa um mês nesta sexta-feira e os parentes das vítimas fazem uma manifestação na Avenida Washington Luiz. As famílias farão uma caminhada silenciosa do aeroporto de Congonhas até o local do acidente, na Avenida Washington Luiz. Lá, pretendem deixar rosas brancas no chão, fazer um minuto de silêncio e uma oração pelos mortos.
Até agora, 194 corpos foram identificados. Até o dia 6 de agosto, todos os funcionários do Instituto Médico Legal (IML) de Pinheiros trabalharam exclusivamente no reconhecimento das vítimas. Um funcionário que trabalhava no prédio da TAM Express e que pulou para escapar do incêndio é a única vítima do acidente que continua internada. Ele passou por três cirurgias, mas ainda não há previsão de alta.
Investigações
Técnicos da Aeronáutica, Polícia Federal e CPI do Apagão Aéreo trabalham nas investigações. Muitas hipóteses já foram levantadas, como a chuva que deixou a pista escorregadia, falha mecânica no avião ou falha humana. O número de operações em Congonhas diminuiu de 712 pousos e decolagens para 561.
Até agora, porém, não se sabe o que provocou o acidente. Os parentes das vítimas ainda cobram das autoridades e da TAM todo o tipo de informações. Eles não sabem o valor das indenizações e reclamam de falta de transparência nas investigações das causas do acidente. Alguns dizem que não receberam dinheiro para o funeral. Outros afirmam que viviam do salário da vítima e pedem ajuda ao governo.
Além de tudo isso, ainda são obrigados a enfrentar os problemas da burocracia, como fechar contas em banco de familiares ou obter informações na previdência social. O drama para essas pessoas parece não ter fim, mesmo depois de muitos já terem enterrado seu mortos.
Lembranças da tragédia
A cada dia, eles são obrigados a conviver com as lembranças da tragédia. Parentes do comandante Kleyber Aguiar Lima, de 54 anos, que pilotava a aeronave, receberam nesta quinta-feira a mudança com roupas e objetos pessoais da vítima em Fortaleza. O enterro aconteceu somente na quarta-feira passada.
- As emoções que vivemos nesse primeiro mês são diversas. As coisas aconteceram gradativamente, de modo que sempre tem algo que nos reporta à dor - disse Sherydan Lima, uma das irmãs do comandante.
O enterro dos restos mortais de Kleyber simbolizou para a família a materialização da morte. Segundo Sherydan, isso pôs fim à sensação de que o irmão estava apenas viajando.
Nesta quinta-feira, os parentes reclamaram das dificuldades diretamente ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Cerca de 185 pessoas tiveram um encontro com ele em São Paulo. Cobraram tudo o que puderam.
- Há parentes passando por dificuldades. É gente que dependia do salário das vítimas para viver - disse o consultor Luiz Moyses, um dos participantes da reunião.
Durante a reunião, o ministro Jobim também foi informado que 23 minutos da gravação das caixas-pretas teriam sido apagados. Parentes dizem ter recebido a transcrição das fitas e constataram o problema.
- Esses dados poderiam ajudar a esclarecer as causas da tragédia - diz Cristofer Haddad.
Traumas
Reportagem do jornal O Globo desta sexta-feira mostra que os vizinhos de Congonhas estão traumatizados após o acidente. O que antes era apenas um misto de receio e perturbação, provocado pelo barulho das turbinas transformou-se em martírio a cada pouso e decolagem. Muitos pensam em deixar o bairro. Vizinhos do antigo terminal de cargas da TAM Express, atingido pelo Airbus e que desmoronou no impacto, começam a arrumar as malas e já procuram outros endereços para se instalar.
- Moro de aluguel e até estava negociando a compra do apartamento. Mas, depois de tudo o que aconteceu, não há quem me faça continuar aqui - disse o diretor de recursos humanos Alexandre Bustamante, que mora num prédio exatamente atrás de onde funcionava a TAM Express. Uma rua separa o edifício do local do impacto.
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