A permanência do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no comando da autoridade monetária, foi bem recebida pelos analistas de mercado. Meirelles comunicou nesta quinta-feira (1) que desistiu de concorrer nas eleições de outubro e que permanecerá no comando da instituição até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou seja, até o fechamento deste ano.
Segundo os analistas ouvidos pelo G1, uma eventual troca no comando do BC aumentaria as incertezas do mercado, que já se prepara para um ciclo de aperto monetário, com a esperada alta na taxa básica de juros a partir da próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do BC, no final deste mês. A expectativa de elevação da Selic se intensificou após a divulgação do relatório de inflação do BC, que mostrou que o IPCA deve ficar em 5,2% este ano, acima do centro da meta, de 4,5%.
Para Luiz Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, a permanência de Meirelles "tira" um pouco da dúvida do mercado, em um momento em que a taxa de juros deve começar a subir. "Estamos entrando num ciclo de alta (da Selic), que é um momento de incerteza. Junto com uma situação de mudança na diretoria, eram duas mudanças bastante fortes num mesmo momento, então isso aumentava as especulações de mercado, as incertezas", diz ele. "Para o mercado [a permanência de Meirelles] é positiva, porque quanto menos incerteza melhor".
Alguns analistas de mercado consideraram que houve uma decisão política depois da última reunião do Copom, em que foram mantidos os juros, segundo Ricardo Almeida, professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo). Para ele, esses especialistas erraram em suas previsões e a possibilidade de Meirelles sair do BC alimentou a teoria da decisão política. "Ele dizendo que fica agora mostra que a decisão foi, sim, técnica", diz o economista.
Carlos Daniel Coradi, da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores, diz que a decisão já era esperada: "o presidente Lula prefere que ele permaneça e faça a transição apropriada para o novo governo". O momento de mudança na taxa de juros também pesou na decisão, segundo o analista: "é melhor [o juro] subir na mão dele do que na mão de um presidente desconhecido. Essa solução de continuidade, para o mercado estrangeiro, especialmente o ligado ao mundo econômico, é muito importante", aponta.
Para Miguel Daoud, economista da Global Financial Advisor, o fato de Meirelles ficar no BC "é ótimo". "Esse limbo acabou provocando uma instabilidade nas expectativas de inflação. Esse período de vai-não-vai causou um ruído no mercado", diz o especialista.
Meirelles agora vai ter que se concentrar na política econômica. "Agora ele vai ter que parar de falar de política e conduzir o BC sem se expor tanto", diz Daoud.
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