O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava Jato, deu prazo até 13 de julho, segunda-feira próxima, para que a Odebrecht explique qual a relação do doleiro foragido Bernardo Freiburghaus com a empreiteira diante da revelação de que ele manteve 135 contatos telefônicos com Rogério Araújo, diretor da empresa, afastado do cargo depois que foi preso em 19 de junho. Araújo é apontado como um dos responsáveis pelos pagamentos de propinas no esquema de cartel e corrupção na Petrobras.
Lava Jato aponta propina de Odebrecht também para Cerveró
“Resolvo a bem da ampla defesa, antes de decidir sobre o novo pedido de prisão preventiva, conceder nova oportunidade à Odebrecht e aos seus executivos”, estabeleceu Moro, em despacho desta terça-feira, 7, em que analisa parecer do Ministério Público Federal pela necessidade de manutenção da custódia preventiva dos executivos e do presidente da empreiteira, Marcelo Bahia Odebrecht.
Documentos anexados pela força-tarefa da Lava Jato aos autos da investigação na segunda-feira, 6, revelam os contatos diretos entre Araújo e Freiburghaus, entre 2010 e 2013, e depósitos na Suíça em contas do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa (Abastecimento).
Moro alertou que no dia 2 de julho deu prazo para que a Odebrecht e a defesa dos executivos se manifestassem e esclarecessem a suposta relação da empresa com o operador de propinas Freiburghaus. Segundo o magistrado, porém, a empresa não se manifestou. “Isso ainda não foi feito, muito embora a Odebrecht e a defesa dos executivos tenha inclusive peticionado nos autos sobre outras questões. Resolvo a bem da ampla defesa, antes de decidir sobre o novo pedido de prisão preventiva, conceder nova oportunidade à Odebrecht e aos seus executivos.”
O juiz da Lava Jato quer que a Odebrecht esclareça não só as transferências apontadas pela Procuradoria da República, supostamente relacionadas à empresa, como também o motivo dos contatos telefônicos entre o executivo Rogério Araújo e o operador de propinas, que reside na Suíça e é dado formalmente como foragido pelo Ministério Público Federal.
“A Odebrecht nunca admitiu, porém, qualquer relação com Bernardo Freiburghaus, atualmente foragido na Suiça”, assinala o juiz. “Na data de ontem, dia 6, o MPF apresentou nos autos resultado de quebra de sigilo telefônico decretado judicialmente que revela a existência de dezenas de ligações telefônicas entre Bernardo Freiburghaus e Rogério Santos de Araújo, diretor da Odebrecht.”
Moro observa que a análise realizada pelos procuradores da força-tarefa aponta correlação entre as datas das ligações e as datas dos depósitos efetuados nas contas de Paulo Roberto Costa - este admitiu, em delação premiada, ter recebido na Suíça US$ 23 milhões em propinas da Odebrecht, via Freiburghaus.
Com base nesses novos dados, a Procuradoria pediu nova decretação da prisão preventiva dos executivos da Odebrecht. No documento entregue nesta segunda, 6, ao juiz, a força-tarefa assinala: “Deste modo, requer o Ministério Público Federal, em face dos novos elementos ora apontados, seja novamente analisada e reforçada a decisão que determinou a prisão preventiva de Rogério Araújo, Marcelo Bahia Odebrecht e Márcio Faria, com suporte no artigo 312 do Código de Processo Penal, eis que a decisão encontra amparo na necessidade de garantir a adequada instrução criminal, além de assegurar a aplicação da lei penal e a própria preservação da ordem econômica, dada a magnitude dos valores envolvidos, além de evitar a reiteração delituosa.”
A Odebrecht tem nega reiteradamente envolvimento com o esquema de corrupção e cartel na Petrobras. A empreiteira também nega relações com o doleiro foragido Bernardo Freiburghaus e afirma taxativamente que jamais pagou propinas a ex-dirigentes da Petrobras.
Lava Jato aponta propina de Odebrecht também para Cerveró
A força-tarefa da Operação Lava Jato suspeita que a Odebrecht pagou propinas também para o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, preso desde janeiro deste ano. A informação consta de manifestação do Ministério Público Federal. Em petição, nove procuradores da República reafirmam a necessidade da manutenção do decreto de prisão preventiva de executivos e do presidente Marcelo Bahia Odebrecht, todos da maior empreiteira do País, capturados pela Lava Jato em 19 de junho.
“A conta Forbal era conta de Nestor Cerveró, o que indica pagamentos da Odebrecht também em favor de Cerveró no exterior”, destacam os procuradores em referência a conta que o ex-diretor mantinha no Uruguai em nome da Forbal Investment Inc.
A Forbal Investment Inc é uma offshore constituída por Cerveró em 29 de abril de 2008, no paraíso fiscal de Belize, na América Central. Ele havia deixado a função estratégica na estatal um mês antes.
Cerveró foi condenado a 5 anos de prisão por lavagem de dinheiro e também é acusado de corrupção passiva - ele teria recebido US$ 30 milhões em propinas em contatos de navios-sonda da Petrobras, em 2006 e 2007.
A suspeita nasceu do rastreamento de uma operação de dólar-cabo feita, segundo a força-tarefa, pelo suposto operador de propinas da Odebrecht Bernardo Freiburghaus no banco Julius Baer, na Suíça, e o estatístico Alexandre Amaral de Moura. Em depoimentos aos procuradores, em 30 de junho, Moura detalhou a transação em que autorizou as transferências de US$ 300 mil para a conta Forbal, de Cerveró, e de US$ 340 mil para a conta Quinus, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
“As declarações de Alexandre Amaral dão conta de operação de dólar-cabo em que Bernardo Shiller (Freiburghaus) disponibilizou valores em espécie para Alexandre. Este tinha valores no exterior e pretendia trazer para o Brasil. Para operacionalizar essa internação, Alexandre entrou em contato com Bernardo. O último, ao invés de orientar o primeiro a fazer um contrato de câmbio, usou tal operação para dissimular pagamentos de propina da Odebrecht para Paulo Roberto Costa. Assim, Alexandre efetuou um depósito de U$ 340.000,00 a crédito da offshore Quinus Services, mantida por Paulo Roberto Costa no HSBC Private Bank da Suiça, da qual Bernardo era procurador. Esse crédito foi efetuado porque, simultaneamente, a Odebrecht queria remeter recursos para pagar propinas a Paulo Roberto Costa. Em contrapartida, no Brasil, Bernardo coletou recursos disponibilizados em espécie pela Odebrecht e entregou a Alexandre”, informa o Ministério Público Federal.
Os procuradores, baseados no relato de Moura, destacam ainda: “Esse tipo de operação feita por Bernardo é chamada de operação dólar cabo. Ela se notabilizou no caso Banestado e é um sofisticado método de lavagem de dinheiro usado pela Odebrecht. Trata-se de uma compensação financeira que quebra o rastro dos recursos. Caso alguém seguisse os recursos de Alexandre, no exterior, acabaria na conta de Paulo Roberto Costa, quando na verdade a transferência para este correspondeu a pagamento em espécie no Brasil. Caso alguém seguisse os recursos pagos em espécie no Brasil pela Odebrecht, acabaria chegando a Alexandre, quando na verdade eles eram meio para pagar Paulo Roberto Costa no exterior.”
O valor depositado na conta Quinus integra a fortuna de US$ 23 milhões em propinas pagas a Paulo Roberto Costa. O ex-diretor confessou o recebimento do dinheiro. Cerveró, oficialmente, sustenta que não tem envolvimento com o esquema de desvios na Petrobras e negou diante do juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, ter contas fora do Brasil.
Nesta segunda-feira, 6, os procuradores entregaram ao juiz Sérgio Moro o resultado do cruzamento de ligações telefônicas entre o diretor da Odebrecht Rogério Araújo, afastado do cargo após ser preso, e o operador de propinas Bernardo Freiburghaus, que está foragido na Suíça. São 135 telefonemas, registrados entre julho de 2010 e fevereiro de 2013 - neste período, a Odebrecht, segundo a força-tarefa, depositou os valores nas contas de Paulo Roberto Costa, na Suíça.
A Odebrecht tem nega reiteradamente envolvimento com o esquema de corrupção e cartel na Petrobras. A empreiteira também nega relações com o doleiro foragido Bernardo Freiburghaus e afirma taxativamente que jamais pagou propinas a ex-dirigentes da Petrobras.
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