Peças-chave da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sergio Moro defenderam as delações premiadas como recurso investigativo importante. Em palestra a promotores e magistrados, Dallagnol afirmou que sem o recurso da delação, não seria possível expandir o escopo da Lava Jato. “Nos grandes esquemas de corrupção, você tem um agente profissional que recebe dinheiro de várias origens e coloca num mesmo saco. O dinheiro não tem nome”, disse.
Antes das delações, o cenário era mais 80 mil documentos apreendidos, os mais esclarecedores deles escritos em códigos – um exemplo é a famosa agenda do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Para o procurador, a delação de Costa criou um “efeito dominó”, que tornou claro inúmeros outros atos de corrupção na Petrobras e fora dela. Com isso, o procurador defende que foi possível recuperar R$ 1,8 bilhão aos cofres públicos. “O ‘follow the money’ é uma falácia”, declarou ele, nesta sexta (11).
Para Dallagnol, o colaborador funciona como um “criptografista”, traduzindo o significado de documentos que não fariam sentido sem sua interpretação.
O procurador criticou o ‘mito’ de que as prisões da Lava Jato têm o objetivo de extrair confissões. “É impressionante como isso colou, mas é um argumento absolutamente mentiroso. Basta nós dizermos que, em mais de 70% dos casos, acordos foram feitos com réus soltos”.
Moro
O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato no Paraná, criticou a falta de rigor da Justiça brasileira e do próprio com os casos de crime de colarinho branco – inclusive em pequenos municípios. “Se as nossas cortes transferissem um terço do rigor com que tratam o crime de tráfico de drogas para os crimes contra a administração pública, isso já faria uma grande diferença”, diz. “Isso mostra que, mesmo sem uma reforma legislativa [projetos de lei anticorrupção], muito pode ser feito usando instrumentos que estão a nossa disposição.”
O juiz também defendeu a necessidade de juízes e promotores acreditarem na Justiça. “Quantas vezes algum dos senhores não teve descrédito na Justiça? Eu sempre brinco: um juiz que não acredita na Justiça é pior que um padre ateu. Por mais que, muitas vezes, soframos derrotas, nunca se pode perder a fé na Justiça e trabalhar para que a Justiça altere esse quadro [de corrupção]”, disse.
Também participou da mesa o procurador Rodrigo Chemim, que traçou um quadro comparativo da Operação Lava Jato com a Operação Mãos Limpas, realizada na Itália no início dos anos 90.
Ele relembrou que, após todo o processo de investigação e punição de corruptos e mafiosos no país, houve um vácuo político que permitiu a ascensão de Sílvio Berlusconi – e a anulação de muitos dos avanços conquistados naquela época. Portanto, na sua leitura, a sociedade terá que permanecer atenta para evitar que os avanços trazidos pela Lava Jato sejam desmontados após o fim do processo.
10 medidas
Além da palestra, Moro e Dallagnol aproveitaram a ocasião para coletar assinaturas para as Dez Medidas Contra a Corrupção, projeto de lei de iniciativa popular encabeçado pelo Ministério Público Federal (MPF). Para começar a tramitar no Congresso, são necessárias cerca de 1,4 milhão de assinaturas – até o momento, o projeto conta com 960 mil subscritores.
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