Morreu na manhã desta quinta-feira (5) no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu, oeste do Paraná, o jornalista Juvêncio Mazzarollo, de 69 anos. Ele ficou conhecido como o último preso político do Brasil, no final do período da ditadura militar. Mazzarollo estava internado há dez dias, devido a um acidente vascular cerebral (AVC), o segundo em menos de três anos.
O perfil combativo de Mazzarollo levou-o a integrar as redações de dois jornais em Foz do Iguaçu, onde estabeleceu moradia na década de 1970. Na cidade atuou como professor no Colégio Agrícola e após tecer duras críticas ao poder público e liderar uma greve, foi exonerado pelo então governador Jaime Canet Júnior.
Fez parte da redação do jornal Hoje Foz, do empresário Sefrin Filho, como revisor e colunista. Foi no jornalismo que Mazzarollo pode dar vazão às constantes indignações com mazelas sociais, comprometido com a luta das liberdades democráticas do país.
Em 1979, conheceu os jornalistas João Adelino de Souza e Aluízio Palmar, este último que havia acabado de voltar do exílio. "Trabalhávamos em matérias de cunho social, defendíamos causas, e a marca do Juvêncio sempre foi a indignação", comentou Palmar. O foco de Mazzarollo esteve constantemente voltado para questões sociais como a causa indígena, pequenos proprietários de terras desapropriados com a construção de Itaipu e a intervenção militar nas pequenas cidades.
Após a venda do jornal Hoje Foz para o governo do Estado, Mazzarollo sobreviveu dando aulas de inglês. Logo depois ingressaria com os antigos companheiros na redação do recém-fundado jornal Nosso Tempo. Pelas constantes críticas tecidas ao sistema, foi chamado em 1982 pelo comando militar e processado pela Lei de Segurança Nacional. "Nós três fomos chamados e seguimos para a Auditoria Militar, devido a uma série de críticas publicadas no jornal", lembra Palmar. Em pleno processo de transição do governo João Figueiredo, Mazzarollo foi o único condenado. Passou cerca de dois anos entre as carceragens do Corpo de Bombeiros, presídio do Ahú, em Curitiba, e penitenciária de Piraquara.
Mesmo aprisionado o jornalista manteve regularidade no envio de artigos ao jornal em Foz do Iguaçu. Os companheiros contam que ao longo dos anos manteve na prisão o mesmo perfil de indignação. "Era um homem corajoso, determinado e destemido, era um gigante e não se dobrava por mais difícil que fosse o obstáculo", lembra Adelino de Souza.
Ao requerer julgamento no Superior Tribunal Militar, em Brasília, fez longa greve de fome e conseguiu sua libertação pouco tempo depois. A mobilização também chamou a atenção de estudantes que integraram passeatas em seu favor na capital. Em 1984, quando retornou a Foz, publicou o livro "A Taipa da Injustiça", no qual revelava o viés autoritário do início da construção da Usina de Itaipu. No início dos anos 2000 atuou como assessor especial para o Programa Água Boa, da usina. Integrante da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Foz do Iguaçu, Mazzarollo também manteve-se alinhado à igreja e às causas ligadas ao meio ambiente.
O corpo de Mazzarollo foi velado na tarde desta quinta-feira na capela do cemitério São João Batista e trasladado à sua cidade natal, Veranópolis, no Rio Grande do Sul, onde será sepultado. Juvêncio Mazzarollo estava divorciado e deixa uma filha. Todo o material produzido pelo jornalista ao longo do período que integrou o jornal nosso Tempo, foi digitalizado e está disponível no site www.nossotempodigital.com.br
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