Morreu na manhã desta terça-feira o menino de 5 anos que teve 90% do corpo queimado durante um assalto em Bragança Paulista, a 90 km da capital. Os pais dele, o casal Eliana Faria da Silva, de 32 anos, e Leandro Donizete de Oliveira, de 31, morreram carbonizados. Ele estava internado no Hospital São Francisco.
Um suspeito de ter ateado fogo ao carro com a família dentro, após um assalto, é o ex-presidiário Joabe Severino Ribeiro, de 36 anos, natural de Sergipe. Ele foi preso na manhã desta terça pela polícia.
A quarta vítima, Luciana Michele Oliveira Dorta, de 27, contou à polícia parte do crime. Ela também sofreu queimaduras.
O menino havia sido achado por policiais quando caminhava em estado de choque na estrada onde as vítimas foram atacadas.
A mãe dele, Eliana, era gerente de uma rede de lojas da região e foi obrigada pelos criminosos seriam dois ou três a sacar cerca de R$ 20 mil da Sinhá Moça (loja do ramo de tecidos, no centro da cidade). Ela, o marido (que era mecânico da empresa Arcor) e o filho foram abordados pelos bandidos na porta de casa, no bairro São Cristóvão, na noite de domingo, quando voltavam de uma confraternização na empresa em que Leandro trabalhava. Eles chegavam em um Palio ano 96. Os assaltantes estavam em um Kadett vermelho.
Todos foram amarrados, obrigados a entrar no Palio e a seguir para a casa de outra funcionária. A idéia era pegar as chaves do estabelecimento para roubar o dinheiro do movimento de sábado. Por volta das 22h30, Leandro foi colocado no porta-malas. A esposa e a criança foram mantidos dentro do carro. Então, seguiram para a residência de Luciana, que deu as chaves da loja à sua chefe. Os bandidos foram, com a família, até a loja, mas retornaram quando perceberam que o molho de chaves não incluía a do cofre. Luciana, então, decidiu ir junto com a chefe, e também virou refém. Na Sinha Moça, o bando pegou o dinheiro do cofre.
Depois, os criminosos voltaram com as vítimas até a residência do casal, onde o Kadett estava parado. Um dos bandidos seguiu no Kadett e os outros foram no Palio, com as vítimas amarradas. Na Estrada Velha Bragança-Atibaia, pararam, pegaram um galão com gasolina, jogaram no Palio, incendiaram e fugiram.
Luciana teria se desvencilhado das amarras e saído do carro, puxando a criança. Desesperada, ela parou um veículo e pediu ajuda a um casal, que a levou a um hospital. Acionados, policiais encontraram o menino em estado de choque na estrada. O Palio ainda estava em chamas. Dentro dele estava o corpo carbonizado de Leandro, que havia sido colocado no banco da frente. Eliana estava ao lado do carro, queimada e com uma perfuração na nuca.
O delegado seccional de Bragança, Paulo Tucci, trabalha com a hipótese de latrocínio (matar para roubar), mas não descarta vingança. Segundo ele, é provável que os bandidos, que não usaram capuz, tenham reconhecido as vítimas. O casal, segundo amigos, teria parentes policiais.
O ato que chocou os moradores de Bragança e de todo o Brasil reabre a discussão sobre a punição para crimes hediondos. Até dez meses atrás, crimes hediondos eram tratados com o rigor previsto em uma lei de 1990. Mas o Supremo Tribunal Federal decidiu atenuar as punições.
Foi uma decisão controvertida do Supremo Tribunal Federal que assegurou a todo autor de crime hediondo o direito de cumprir parte da pena em regimes aberto ou semi-aberto. Para enfrentar a resistência de juizes que se recusam a conceder esses benefícios está sendo preparada uma ordem para todo o poder judiciário, que é a súmula vinculante.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) defende o aumento das exigências para que autores de crimes violentos saiam da cadeia.
- Para crimes violentos a progressão deveria ser com um tempo mais adequado. Um terço de cumprimento da pena seria, no meu modo de ver, uma boa medida -diz o ministro do STJ Gilson Dipp.
Pelo menos 40 projetos sobre crimes hediondos estão sendo discutidos no Congresso.
- Deve-se endurecer a legislação de execuções penais. Bandido tem que estar na cadeia. Se for um bandido perigoso, mais ainda, porque ele está colocando em risco toda a sociedade - argumenta o líder do governo, o senador Romero Jucá do PMDB-RR.
A proposta é vista com preocupação pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
- Nós devemos é recuperar o indivíduo para uma vida normal dentro da sociedade, portanto, ela afirma, cientificamente, que o aumento da pena não resolve o aumento da criminalidade - afirmou o presidente da OAB, Roberto Busato.
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