Cunha (de frente) conversa com Carlos Marun (PMDB-MS), seu defensor mais ferrenho na sessão de cassação| Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Embora estivesse afastado do mandato de deputado federal por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) desde o mês de maio, o peemedebista Eduardo Cunha, cassado na noite de segunda-feira (12), ainda exercia influência no jogo político em Brasília. Por isso, na ressaca pós-cassação, o meio político avalia que só agora o “capítulo Cunha” teria de fato se encerrado, com a perda definitiva da cadeira conquistada nas urnas de 2014. A partir de agora, as forças políticas na Câmara dos Deputados devem naturalmente se reorganizar e o chamado “Centrão”, que detinha Cunha como um de seus pilares, pode “se pulverizar”.

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“Cunha era uma espécie de porto-seguro para o ‘Centrão’. Agora, a tendência é que parte do ‘Centrão’, que tem uma atuação fisiológica, siga para a parte da base aliada do governo Temer que é comandada pelo [presidente da Câmara dos Deputados] Rodrigo Maia (DEM-RJ). Eles devem se submeter à agenda de Maia para tentar ganhar alguma benesse do governo federal”, resume o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz. “Neste particular, a cassação de Cunha foi boa para o governo Temer”, aponta ele. A “bancada de Maia” é formada atualmente pelo PSDB, DEM e PPS.

Sem “Centrão”, PSDB ganha força para comandar a casa em 2017

Além de o próprio governo Temer, que indiretamente teria se beneficiado com o esfacelamento do “Centrão”, outra força política que também sairia fortalecida da sessão que cassou Cunha é a do PSDB, que está de olho no comando da Câmara dos Deputados a partir de 2017, quando Rodrigo Maia (DEM-RJ) deixa o posto.

Em julho, o PSDB concordou com o nome de Maia para a presidência da Casa, mas avisou que gostaria de ver um parlamentar da própria legenda na eleição seguinte, no início do ano que vem. O temor dos tucanos, contudo, era a possibilidade de o “Centrão” lançar um nome do grupo com força para herdar a cadeira de Maia.

Agora, com o enfraquecimento do grupo ligado a Cunha, o PSDB reaparece com chances reais de ficar com a principal cadeira da Câmara dos Deputados.

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União de 13 legendas médias e pequenas da Câmara dos Deputados, como PP, PSD e PR, o “Centrão” foi criado em meados de maio, dias após o STF determinar o afastamento de Cunha. A maior parte dos integrantes da bancada informal, políticos de modo geral inexpressivos dentro do cenário nacional, eram aliados de Cunha, embora seus dirigentes negassem agir a mando do peemedebista. A primeira vitória do bloco, contudo, evidenciou a conexão com o então parlamentar afastado: a condução de André Moura (PSC-SE), aliado próximo de Cunha, para a cadeira de líder do governo Temer, a pedido do “Centrão”.

Mas, de lá para cá, o “Centrão” foi se enfraquecendo, coincidentemente na medida em que Cunha também perdia espaço: em junho, o Conselho de Ética acolheu o pedido de cassação contra o peemedebista; pressionado, Cunha renunciou ao cargo de presidente da Casa no mês seguinte, em julho; ainda naquele mês, a Comissão de Constituição e Justiça derrubou o último recurso de Cunha contra a decisão do Conselho de Ética e seu pedido de cassação seguiu para o plenário. No meio disso tudo, o enfraquecimento do “Centrão” ficou evidente com a derrota do nome do grupo, Rogério Rosso (PSD-DF), também aliado de Cunha, na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados. A vitória foi de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que lá atrás tinha sido preterido para a vaga de líder do governo Temer.

A última evidência do “fim” do “Centrão” foi a confirmação da cassação de Cunha por uma maioria esmagadora, às 23h50 de segunda-feira (12). O grupo não se uniu para salvar o mandato de seu “líder informal”.

“Cunha não tem substituto”

Dos 513 parlamentares, 450 votaram favoráveis à cassação do ex-presidente da Casa, quando eram necessários 257 para que a cassação fosse efetivada. Apenas 10 deputados federais votaram a favor de Cunha e outros nove se abstiveram. Outros 43 não apareceram na sessão e, na condição de presidente da Casa, Rodrigo Maia optou por não votar.

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Entre os 19 que defenderam o mandato de Cunha, seja registrando o voto “não” ou a “abstenção”, 15 são integrantes do “Centrão” e os quatro restantes são do PMDB, partido de Cunha. No pequeno grupo de 19 nomes, há lideranças políticas, como o próprio André Moura, que demorou para chegar ao plenário e, por fim, acabou se abstendo. Apesar disso, a conexão entre Cunha e a parcela de aproximadamente 200 parlamentares filiados às legendas do “Centrão” parece ter se deteriorado de forma definitiva.

Com a cassação, Cunha fica inelegível até janeiro de 2027, fato que, somado à possibilidade de condenação em processos da Operação Lava Jato, praticamente o elimina da vida política. “A opinião pública, a omissão do Planalto na votação, a quantidade de inimigos que ele [Cunha] fez e, principalmente, as eleições de outubro, tudo isso contribuiu para a derrota acachapante. É um sinal de que ele está fora de combate”, afirma o analista político do Diap Antônio Augusto de Queiroz.

Questionado se o “Centrão” ainda teria condições para articular um “substituto” de Cunha, com capacidade de agregar novamente o grupo, o analista político do Diap é enfático: o peemedebista “não tem substituto”. “Ele reunia duas características que você não encontra em nenhum outro nome do ‘Centrão’: ele era, de um lado, bastante articulado e qualificado, e, por outro lado, bastante temido”, conclui ele.