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Ação policial do dia 29 de abril deixou 213 feridos: para o MP, Richa foi intencionalmente omisso. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Ação policial do dia 29 de abril deixou 213 feridos: para o MP, Richa foi intencionalmente omisso.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O governador Beto Richa, o ex-secretário da Segurança Fernando Francischini, os coronéis da PM César Kogut, Arildo Luís Dias, Nerino Mariano de Brito e o tenente-coronel Hudson Teixeira foram acusados formalmente de improbidade administrativa pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), nesta segunda-feira (29), em razão da “batalha” do Centro Cívico, no dia 29 de abril. O anúncio sobre a ação foi feito pelo MP exatamente no dia em que o episódio que deixou 213 feridos completou dois meses .

Responsabilidades

O papel de cada agente público na operação no Centro Cívico:

Beto Richa

Segundo o MP, a lei que trata da improbidade coloca a responsabilidade em agentes públicos considerados omissos. Esse seria o caso do governador. Além disso, de acordo com o MP, ninguém do governo “ousaria” realizar uma ação de tal porte sem o respaldo político e administrativo dele.

Fernando Francischini

O ex-secretário da Segurança foi o articulador político e operacional da ação policiais. Segundo o MP, todo o suporte financeiro e administrativo para a operação foi assegurada por Francischini. Além disso, ele esteve à frente das principais decisões operacionais, se envolvendo na orientação do policiamento e dando diversas ordens, segundo a investigação do MP.

Coronel César Kogut

O MP explicou que em alguns momentos do planejamento da ação, o ex-comandante-geral da PM esteve em viagem. Mas quando retornou, tomou conhecimento de todo aparato policial da operação e não o mudou. Teve papel fundamental trocando o comandante da operação tenente-coronel Chehade Elias Cheha por outro, o tenente-coronel Hudson. Segundo o MP, Chehade estava mais preparado e levava as negociações de forma satisfatória.

Coronel Nerino Mariano

Ex-subcomandante-geral da PM, foi o intermediário de Francischini e o responsável pela gestão operacional da operação.

Coronel Arildo Luis Dias e tenente-coronel Hudson Teixeira

Foram considerados pelo Ministério Público os executores da operação.

O MP começou a ajuizar a ação civil pública em que acusa as autoridades de violar dois direitos fundamentais: de reunião e de livre manifestação, além de colocar em risco o patrimônio público e deixar feridos durante a operação.

Governo reclama de não ter tido acesso à investigação

Como o procedimento investigativo tem mais de cinco mil páginas, o ajuizamento, que é digital, deve terminar nesta terça-feira (30). Conforme determina a lei para casos de improbidade, os acusados deverão apresentar uma defesa prévia. Depois, o juiz decide se acolhe ou não a denúncia do Ministério Público.

O MP também enviará cópia da denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR), que avaliará possibilidade de responsabilizar criminalmente os envolvidos. Esse procedimento é necessário já que Richa e Francischini têm foro privilegiado. Para os demais citados, caberá à procuradoria desmembrar o processo para determinar qual órgão tem competência para analisar cada caso. Eles podem ser acusados de abuso de autoridade e do chamado crime de perigo comum – aquele que coloca em risco a coletividade.

“Richa é o grande comandante da segurança pública, uma atribuição constitucional. Houve uma omissão dolosa [intencional] do governador”, disse o procurador Eliezer Gomes da Silva. Kogut é ex-comandante-geral da PM. Ele deixou o cargo no início de maio, após o então secretário de Segurança Pública Francischini afirmar que a culpa pelos excessos na operação ter sido da PM. Já Francischini pediu demissão pouco depois. Os comandantes operacionais foram Nerino Mariano de Brito e Arildo Luís Dias.

O procurador Eliezer disse ainda que as finanças do estado podem sofrer danos com eventuais ações indenizatórias de vítimas.

O MP afirmou ainda que o Palácio Iguaçu serviu de centro de detenção e observação para a operação. Segundo Eliezer, várias pessoas detidas durante o dia 29 de abril permaneceram em uma sala do Palácio. Além disso, as janelas serviram de ponto de observação para alguns agentes. De acordo com o procurador, esses são alguns dos fatores que caracterizaria a omissão do governador. O MP ainda informou que vários policiais que trabalharam na operação foram recebidos com festejos e elogios por integrantes do alto escalão do governo estadual naquele dia.

O MP também diz que não conseguiu encontrar indícios da presença de black blocks durante os protestos, como alegou o governo para justificar a ação violenta. Para embasar a ação, o MP ouviu 580 pessoas em 33 cidades e recebeu 530 gigabytes de imagens do episódio.

Governo reclama de não ter tido acesso à investigação

A Procuradoria-Geral do Estado (PGE), responsável pela defesa dos agentes públicos do governo, informou que o Ministério Público do Paraná (MP) negou acesso à investigação sobre o dia 29 de abril. De acordo com a nota enviada à reportagem, a PGE apresentou requerimento para ter acesso. “A Procuradoria estranha o fato de o MP ter optado, primeiramente, em expor o caso à imprensa, sendo que, até o presente momento, não lhe foi possibilitado o acesso às conclusões”, informa o texto. Segundo a nota, assim que a PGE tomar conhecimento do teor da investigação, agirá em defesa dos interesses do estado.

Durante a entrevista coletiva, no entanto, o MP afirmou que concedeu acesso aos advogados do governador Beto Richa e do ex-secretário Fernando Francischini a 14 volumes da investigação. O MP informou que era o que havia sido produzido até aquela data. Além disso, o MP disse que pediu à Secretaria da Segurança Pública e ao governo estadual, por ofício, várias informações sobre a operação, mas que até agora não recebeu resposta.

Já a Polícia Militar do Paraná (PM) informou, também por meio de nota, que respeita as conclusões da investigação do MP. Mas diz que o inquérito policial militar instaurado para investigar a operação de 29 de abril ainda não foi concluído. Como o comandante-geral atual terá a responsabilidade de dar uma solução ao que for apurado, a PM prefere não se manifestar a respeito.

A reportagem pediu para a assessoria da PM entrevistas com todos os policiais citados, mas não houve resposta sobre essa solicitação. A reportagem tentou localizá-los sem sucesso. O ex-secretário da Segurança também foi procurado, mas não foi encontrado pela reportagem.

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