Passatempo
Arruda escreve cartas na prisão
Agência Estado
Brasília - O governador José Roberto Arruda passa o dia escrevendo cartas na cela da Superintendência da Polícia Federal. Em alguns manuscritos, ele cita integrantes da alta cúpula do DEM e de outros partidos e as relações que mantiveram com o governo do DF. São documentos entregues a amigos e familiares. Ninguém diz se são meras menções ou acusações contra antigos aliados.
Esse assunto entrou em discussão na reunião com os advogados, sábado à noite. A avaliação de todos foi de que, por enquanto, não há motivos para Arruda disparar sua metralhadora política contra os adversários. Isso poderia atrapalhar os planos de tirá-lo da cadeia a curto prazo, já que o governador seria interpretado pela Justiça como um preso chantagista.
Levantou-se então a possibilidade de ele contar o que sabe caso saia da prisão. Arruda, entretanto, não se convenceu ainda de que esse é o caminho ideal para sair da crise em que mergulhou desde novembro, quando estourou a operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O governador coloca na balança o peso político que teria uma enxurrada de denúncias contra antigos aliados: para o público externo, poderia ter um efeito positivo, mas, dentro do ambiente da política, haveria o risco de ser encarado como "traidor", o que prejudicaria uma possível volta à disputa eleitoral daqui alguns anos por alguma legenda relevante.
São Paulo - O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga a participação do empresário Marcos Valério no escândalo de corrupção que ficou conhecido como mensalão do DEM de Brasília. Marcos Valério é considerado o principal operador dos mensalões (supostos esquemas de arrecadação ilegal de recursos) do PT e do PSDB.
A investigação está nas mãos dos promotores do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NOC) que apuram se a empresa SMPB de Valério também participou do suposto esquema de arrecadação e pagamento de propina que envolve o governador afastado e preso José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM).
A suspeita é que contratos da SMPB com a Câmara Legislativa do Distrito Federal também tiveram recursos desviados para financiar o esquema e a campanha de Arruda ao governo local em 2006. O esquema teria começado na gestão do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), o mais recente adversário político do ex-democrata, e envolveria a empresa Notabilis Comunicação e Marketing.
Atualmente, a Notabilis está no nome de Orlando Pontes, irmão de Omézio Pontes, ex-assessor de imprensa do governador e um dos investigados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suposta participação no esquema de corrupção. Entre 2003 e 2005, no entanto, Omézio e Orlando tinham como sócio Marcos Santanna Arruda, filho do governador afastado e preso.
Os contratos da Câmara com a SMPB ultrapassaram os R$ 50 milhões. A reportagem teve acesso às ordens bancárias pagas pela Câmara para a agência de Marcos Valério e também a cópia dos extratos bancários da empresa que mostram repasses para a Notabilis. Pelo menos entre 2003 e 2004, foram 14 transferências que totalizaram R$ 408 mil.
A primeira transferência da SMPB para a Notabilis foi registrada em 23 de outubro de 2003, no valor de R$ 26.460,50. No mesmo dia, foi realizada a alteração contratual da Notabilis, incluindo Marcos Arruda entre os sócios da empresa. A inclusão no quadro social da empresa tem data de 23 de outubro de 2003, mas só foi registrada no Cartório Marcelo Ribas em 06 de novembro de 2003, sob o nº 0002273, no livro A-03. Em 2003, o capital social da Notabilis passou de R$ 15 mil para R$ 200 mil.
Uma auditoria realizada pela Câmara Legislativa apontou irregularidades no contrato da Casa com a SMPB. A licitação teria sido direcionada e deveria ter sido anulada porque a SMPB e a Giacometti, outra empresa que participou do processo, tinham o mesmo endereço e telefone.
Entre os vídeos gravados por Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção, o deputado distrital Benício Tavares (PMDB), confirma que foi o ex-governador Joaquim Roriz que pediu a contratação da agência de Marcos Valério. "O Roriz me chamou para colocar aquela agência SMPB e você acha que dava para fazer alguma coisa? O Roriz na minha cola...", disse.
Depoimento
Em depoimento ao Ministério Público e também no inquérito do STJ, Durval Barbosa, afirmou que Arruda o procurou em 2003 pedindo a contratação da Notabilis. O encontro teria sido o desdobramento de uma conversa que teria ocorrido no final de 2002, pelo então deputado federal, José Roberto Arruda, que pediu ajuda para a campanha eleitoral de 2006, com aval de Roriz.
Na época, Durval comandava a Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan) e teria se comprometido a repassar uma mesada para a Notabilis. Entre 2003 e julho de 2006, a empresa apresentou 39 notas fiscais, totalizando R$ 720 mil.
Omézio, segundo ele, teria participado da negociação. O ex-assessor de imprensa de Arruda aparece em dois vídeos gravados por Durval recebendo maços de dinheiro.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse que desconhecia a relação da SMPB com a Notabilis e que não comentaria nenhum questionamento porque não tinha conhecimento da investigação. Os advogados de Arruda não retornaram as ligações. Marcos Arruda e Omézio Pontes não foram localizados.
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