O Ministério Público Federal denunciou nesta sexta-feira (6) à Justiça o ex-senador Gim Argello e o empresário Ronan Maria Pinto, dono de empresas de ônibus no ABC paulista, e mais 18 pessoas, entre elas os empresários Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e o publicitário Marcos Valério, já condenado no processo do mensalão.
Argello e Ronan haviam sido indiciados pela Polícia Federal na última terça-feira e transferidos da carceragem da PF para o Complexo Médico Penal na Região Metropolitana de Curitiba.
Gim Argello e outras 10 pessoas foram denunciadas por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução às investigações. Entre elas os empresários Léo Pinheiro, da OAS; Ricardo Pessoa, da UTC; e Marcelo Odebrecht, da Odebrecht, o filho de Argello, Jorge Afonso Argello Junior; dois assessores do ex-senador, Paulo Roxo e Valério Neves Campos; Walmir Pinheiro, diretor financeiro da UTC; José Zardi Ferreira, Dilson Paiva Filho e Cláudio Melo Filho.
O empresário Ricardo Pessoa, da UTC, um dos delatores da Lava-Jato, afirmou à Justiça que Argello lhe pediu R$ 5 milhões para que não fosse chamado a depor na CPI da Petrobras em 2014. O dinheiro foi depositado nas contas de campanha de partidos indicados por Argello. O mesmo pedido foi feito pelo então senador a outras empreiteiras. Além da UTC, ele teria recebido valores da OAS, Toyo Setal e Odebrecht. Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Engevix não teriam aceitado pagar.
O empresário José Antunes Sobrinho, da Engevix, também fez acordo de delação e contou que o operador Júlio Camargo o chamou para tomar “Gim tônica” em Brasília, o que significava que deveria ir conversar com Gim Argello. Segundo o MPF, a Toyo Setal pagou R$ 2 milhões. Por indicação de Argello, a OAS fez depósito de R$ 350 mil na conta da paróquia São Pedro, em Taguatinga, no Distrito Federal, frequentada por Argello.
Ronan e mais oito pessoas foram denunciadas por lavagem de dinheiro: o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o publicitário Marcos Valério, o empresário Natalino Bertin, que teria repassado o dinheiro para Ronan, e outros intermediários, como Sandro Tordin, presidente do Banco Schahin, Enivaldo Quadrado, Luiz Carlos Casante, Breno Altman e Oswaldo Rodrigues Vieira Filho.
O empresário é acusado de receber R$ 5,7 milhões oriundos de um empréstimo fraudulento retirado em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Bumlai admitiu que tirou um empréstimo de R$ 12 milhões no banco Schahin para pagar dívidas de campanha do PT. O empréstimo não foi pago. Foi quitado fraudulentamente depois que o Grupo Schahin, dono do banco, obteve contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras.
Os primeiros documentos envolvendo Ronan foram apreendidos no escritório da contadora do doleiro Alberto Youssef. Eram contratos de mútuo (empréstimo entre empresas) da S2, do publicitário Marcos Valério, com a Remar Assessoria, do Rio de Janeiro. Em seguida, num segundo contrato do tipo, a Remar repassou o dinheiro para a Expresso Santo André, de Ronan Maria Pinto.
O publicitário Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão no mensalão, afirmou em 2012, quando tentou firmar acordo de delação para reduzir sua pena, que Ronan havia chantageado dirigentes do PT e pedido dinheiro para comprar o Diário do Grande ABC. O alvo da chantagem seriam informações sobre o assassinato de Celso Daniel, que era prefeito de Santo André e foi morto em 2002. Para o juiz Sérgio Moro, o caso pode estar ligado ao esquema de corrupção do PT. Quando foi assassinado, o prefeito era também tesoureiro da campanha que levou Lula à Presidência da República.
O lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano afirmou em depoimento de delação premiada ter ouvido que o empréstimo “teria sido tomado para pagar chantagem que o presidente Lula estaria sofrendo”.
Delúbio Soares participou da reunião no Banco Schahin com José Carlos Bumlai, quando o empréstimo foi combinado. O jornalista Breno Altman, do site Brasil 247, foi citado por Marcos Valério. Ligado ao ex-ministro José Dirceu, ele teria providenciado pagamentos de multas a Enivaldo Quadrado, subordinado do doleiro Alberto Youssef flagrado no mensalão em irregularidades na corretora Bônus Banval.