O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu partir para a ofensiva caso os partidos de oposição insistam em entrar com uma representação no Conselho de Ética pedindo a cassação do seu mandato. Em conversa com aliados, Severino disse que não se afastará do cargo em hipótese alguma. Ele ameaçou entrar com processos contra tucanos e pefelistas caso tentem cassá-lo sem provas.

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Em conversas com amigos e auxiliares, o presidente da Câmara disse que não aceitará um processo político. Ele reagiu à carta divulgada pelos partidos de oposição que pede seu afastamento baseado em dois fatos: as denúncias de que ele teria recebido um mensalinho de R$ 10 mil do dono de um restaurante que tem uma concessão da Câmara e a defesa que fez da versão apresentada pelo PP para justificar o recebimento dos recursos do esquema do empresário Marcos Valério de Souza.

- Quero saber quem terá coragem de me tirar daqui. Isso é golpe! Se for esse o jogo, vou partir para o tudo ou nada. Não vou aceitar esta covardia. Vamos para a ofensiva. A situação na Câmara vai ficar insustentável. Se é para tentar me cassar sem prova, muita gente vai dançar! - ameaçou Severino em pelo menos duas conversas relatadas ao jornal 'O Globo'.

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Sem esconder sua irritação, ele passou a segunda-feira ao telefone com aliados para formar um grupo forte em sua defesa. Ele calcula que somente no chamado baixo clero tenha pelo menos 150 deputados, incluindo parlamentares do PP e do PL. Severino também espera contar com o apoio de pelo menos 50 deputados do Campo Majoritário do PT que estariam sob a influência do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu.

Com apoios assegurados, ele iria para o ataque para tumultuar o ambiente no Congresso. Pediria a cassação, por exemplo, de tucanos como o deputado Custódio Mattos (MG) e o senador Eduardo Azeredo (MG), acusados de receber caixa dois de Valério em 1998. Também iria atacar pefelistas como os deputado Roberto Brant (MG) e Rodrigo Maia (RJ).

- Se quiserem me cassar, vai ser um salve-se quem puder - avisou o presidente da Câmara.

Segundo amigos, ele ainda está muito abalado com as denúncias. Decidiu manter a viagem a Nova York, onde participa de um encontro na ONU, para dar a impressão de normalidade. Na segunda-feira, o líder do PP, deputado José Janene (PR), já saiu em defesa de Severino:

- Isso não vai dar em nada. É uma denúncia vazia. Se fosse levar em conta denúncia sem prova, era preciso pedir a saída de Azeredo, do ministro Antonio Palocci (Fazenda) e até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que a oposição está fazendo não é sério.

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Reportagens da "Veja" e da "Época" afirmam que Severino teria recebido propinas mensais de R$ 10 mil entre março e novembro de 2003, que teriam sido pagas por Sebastião Buani, dono de um dos restaurantes da Câmara desde janeiro de 2000. Depois, Buani negaria as entrevistas e o pagamento de propina.

O corregedor e segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que a situação política é delicada. Mas ressaltou que é preciso ter provas para tentar abrir um processo de cassação contra Severino:

- Se encontrar prova, nem mesmo os 512 deputados conseguem tapar o sol com a peneira.

Também apoiaram Severino outros parlamentares do PP que não são de seu grupo, como o deputado Francisco Dornelles (RJ). Em São Paulo, o deputado Delfim Netto também pediu cautela à oposição.

- Querer afastar o presidente da Câmara com base numa denúncia não comprovada, e sem investigação, é uma brutalidade que enfraquece a própria instituição - disse Dornelles.

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Ciro reagiu às críticas de que poderia ser parcial na investigação por ser amigo de Severino:

- Severino é meu amigo, mas o corregedor não tem amigo. Se tiver prova, posso condenar um amigo.

A assessoria de Severino divulgou nota na qual diz que ele não poderia ser exposto à execração pública por causa de acusações "sórdidas, irresponsáveis e sem provas". A nota faz um balanço de sua gestão como primeiro-secretário, sustentando que Severino conseguiu uma economia de R$ 100 milhões nos contratos de obras e serviços, e que, como presidente da Câmara, reduziu os gastos com viagens à metade. O texto reclama ainda da acusação de receber mensalinho: "Uma das mais torpes acusações, sem provas, diz que minhas secretárias recebiam mensalmente envelope lacrado contendo numerários a mim destinados".

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