Uma câmera na mão e muita indignação no coração. Foi assim que Dona Vitória (nome fictício), uma aposentada de 80 anos, moradora de Copacabana, resolveu dar um basta na rotina de violência com que grande parte da população do Rio convive como se fosse normal. Mas para Dona Vitória não era normal ter como despertador os tiros vindos da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Vizinha da favela que movimenta cerca de R$51 mil semanais só com a venda de drogas, ela também não se conformou em ver o livre trânsito de traficantes armados de fuzis e metralhadoras e de viciados em busca de entorpecentes.
Há dois anos, filmadora em punho, Dona Vitória começou a documentar o tráfico local a partir da janela de seu apartamento. Sofreu ameaças, tiros foram disparados para sua vidraça, mas ela permaneceu firme. Narrando todas as cenas que captava como se fosse uma cineasta, seu relato é um misto de espanto, revolta e emoção. Como no dia em que, estupefata, flagra um grupo de crianças de 6, de 10 e de 12 anos de idade cheirando cocaína perto de uma ribanceira.
- Olha aí o futuro do Brasil. Não é possível, minha gente, essas crianças cheirando pó e ninguém faz nada - desabafa.
Ao todo foram produzidas 22 fitas, com cerca de 33 horas de gravação. O "Extra" acompanhou sua luta durante um ano. De posse do material, Marcelo Itagiba, secretário estadual de Segurança Pública, mandou a polícia agir. E a ação foi imediata: 15 bandidos presos, outros tantos identificados e Dona Vitória ficou sob a guarda do estado, depois de abandonar o apartamento onde viveu por 38 anos.
Agora, a aposentada diz que faz questão de ver um bom desfecho para a história que bravamente começou a contar. O que para ela significa a polícia ocupar definitivamente o morro e fazer dali uma comunidade na qual o estado se faça presente não só com pistolas e fuzis. Outro sonho de Dona Vitória é que, passado o período em que ficará incluída no programa federal de proteção à testemunha, ela possa voltar à terra natal e dormir sossegada.
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