Uma mulher transmitiu a ordem de dentro das prisões para os atentados de julho na capital paulista. O aviso, conhecido no jargão do crime como ‘salve’, foi dado às 20h08 do dia 12 de julho por Marilene Carlos Simões, conhecida como ‘Marlene’, a Leandro de Souza Queiroz, responsável pela operação da célula oeste da facção criminosa. Era na casa de Marilene, na Rua Sinfonia Branca, na Lapa, que funcionava o escritório e a contabilidade da célula, que dominava a venda de drogas em pelo menos 51 presídios do estado. Na Lapa a polícia apreendeu em 19 de julho 20 kg de cocaína pura que seria misturada, embalada e entregue a presídios e prendeu Marilene e outros comparsas.

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O conteúdo do ‘salve’, transmitido pelo rádio Nextel número 30*5.4232 faz parte da denúncia de 25 integrantes do crime organizado encaminhada à Justiça pelo Ministério Público de São Paulo. "Salve geral: Identificar viagras com certeza não mexer com a PM, nem com os familiares, os atentados devem ser somente com fogo e bomba e atingir os comércios e comitês das pessoas que já sabemos quem são. Obs: Pixar os muros contra a opressão do governo Alquimin e pedir apoio dos quatro cantos do estado. Aquele Estado que estiver com + estrutura legal nos apoiar junto nessa batalha (sic)".

As 20h16, Marilene passou o resto do teor do salve a um homem não identificado: "A partir das 9 horas da noite não estar nas ruas da capital em conjunto a C, R quem tiver passagem na rua a ordem é para assassinar! Pedimos a todos que tenha cautela inteligência e não se expor ao perigo (sic)".

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- Ela era uma grande articuladora – diz Márcio Sérgio Christino, um dos promotores que assinam a denúncia do MP, acrescentando que ainda não pode dizer, porém, se era a única a exercer esse papel.

Escutas de conversas

A denúncia do MP teve como base escutas de conversas entre integrantes do bando feitas a partir de maio por telefones Nextel. Os celulares pré-pagos foram praticamente aposentados há dois anos, depois que o bando recebeu garantia de que as ligações não poderiam ser monitoradas pela polícia. Os aparelhos Nextel eram fornecidos por Wellington Lagares, um dos denunciados, que criou para a compra dos equipamentos a empresa Transnews Express Transporte.

Foram essas escutas que revelaram a ação de Marilene. No dia 3 de junho, ela negociou com Milton Davis Guimarães, integrante da facção recolhido à penitenciária de Irapuru, a entrega de R$ 80 mil em dinheiro na Penitenciária de Presidente Venceslau, para onde a Secretaria de Administração Penitenciária transferiu cerca de 700 integrantes da facção. Três dias depois, Marilene combinou a morte de um policial que deveria ser providenciada por dois ‘terroristas’ da quadrilha, como são chamados os jovens que agem com motocicletas.

Foi também Marilene quem combinou com Lucas Renato Moreira – o homem que movimentava boa parte do dinheiro da célula da quadrilha numa conta poupança aberta na agência no Bradesco – o pagamento de viagens da advogada de Marcos Camacho, o Marcola.

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As escutas deram ao Ministério Público provas de que a advogada Maria Cristina de Souza Rachado, acusada de corromper Marcus Vinicius Pilastre, funcionário terceirizado da Câmara federal, para obter depoimentos prestados por delegados paulistas à CPI do Tráfico de Armas. Maria Cristina, casada com um delegado afastado este ano para investigações, está presa.

Usando o celular 814*.9041, Maria Cristina ligou para Lucas às 17h16 do dia 3 de junho para combinar o valor de uma viagem. Na segunda-feira seguinte, esteve em Presidente Bernardes, onde visitou seu cliente Marcola.

As escutas mostraram também Marilene negociando o valor a ser pago aos integrantes da quadrilha que recolhem o ‘dízimo’ da quadrilha – valor de contribuição de bandidos que estão livres. Segundo relato do MP, os coletores recebem R$ 300 por semana. Para fazer seu serviço, Marilene recebia por semana R$ 1.250.

Outra mulher aparece com destaque na denúncia do MP. Trata-se de Carla Patrícia de Andrade, responsável por alugar os imóveis usados pela quadrilha para instalar escritórios e depósitos de armas e drogas.

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