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Celebrada na condição de primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff até agora deixou passar seis oportunidades de atuar em consonância com a expectativa corrente em relação às mulheres, de maior rigor na vida pública.

Uma maneira de fazer isso seria mostrar genuína disposição de liderar um processo de mudança nos critérios de funcionamento do governo de coalizão.

Duas mulheres deram exemplos recentes nos quais Dilma ainda dispõe de tempo para se mirar: Eliana Calmon e Marília Muricy, baianas conectadas com a necessidade de não se deixar o Brasil, por mais sucessos que tenha na economia, perder-se nos desvãos da desqualificação moral.

Ambas demonstraram coragem e firmeza efetivas para sacudir nichos até então intocados. Eliana, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, com suas diatribes sobre a conduta de magistrados, lança alguma luz sobre a caixa-preta do Judiciário. Faz a diferença.

Marília, autora do relatório que recomendou a saída de Lupi, deu sentido à Comissão de Ética Pública que desde a criação, no governo Fernando Henrique, nunca havia sido contundente na tarefa de zelar pela confiabilidade dos ocupantes de cargos no primeiro escalão federal.

Tanto uma quanto outra recebem críticas daqui e dali, mas mantêm suas posições. A corregedora a cada dia aponta com clareza uma deformação no Judiciário e a conselheira, quando confrontada com a insatisfação do Palácio do Planalto a respeito do voto – aprovado por unanimidade pelo colegiado –, reafirmou a posição.

No caso da presidente da República, suas ações têm implicações mais amplas, evidente. Até certo ponto são compreensíveis as dificuldades políticas que enfrenta.

Não é do dia para a noite que se vira de cabeça para baixo um sistema herdado, em vigor há muito tempo e, sob a ótica do pragmatismo extremo – governamental e eleitoralmente falando –, vitorioso. Por isso mesmo a presidente conta a seu favor com o benefício da dúvida.

Até agora Dilma Rousseff não tem seguido a trilha da ousadia. Para efeito de propaganda ela é a dona da dita "faxina", mas no confronto com a realidade o que emerge de fato é a tomada de decisão a reboque dos fatos e a manutenção das igrejinhas nas mãos dos mesmos párocos.

Na reforma, ela pode mudar essa situação. Tudo vai depender da escolha que fizer: inovar ou deixar tudo mais ou menos como está, na suposição de que o time, sendo vencedor, deve continuar obedecendo as mesmas regras.

O que a presidente pensa sobre a reforma não se sabe. Ela tem consultado alguns ministros, Gleisi Hoffmann, José Eduardo Cardozo e Fernando Pimentel, conversa a respeito com o vice-presidente Michel Temer, obviamente deve se aconselhar com o ex-presidente Lula, mas até agora nada transpirou a respeito do essencial: a adoção de critério mais profissional para a nomeação de ministros.

Embora as apostas em Brasília apontem para alterações meramente pontuais, não se pode perder a esperança de Dilma nos reservar uma boa surpresa, conferindo conteúdo substantivo à sua gestão, a fim de que a condição de primeira mulher presidente do Brasil não seja um dístico vazio.

Atarefada

Versão corrente no Palácio do Planalto para explicar porque Dilma não demitiu Carlos Lupi na quinta-feira, quando foi anunciada a recomendação da Comissão de Ética Pública: ocupadíssima com o pacote de medidas de incentivo ao consumo e os preparativos da viagem à Venezuela, a presidente preferiu deixar para "tratar desse problema na segunda-feira".

Cerimonial

Há duas vantagens, na visão do governo, na nomeação do secretário executivo Paulo Roberto Pinto como interino no Ministério do Trabalho: a presidente não abre espaço agora para a disputa do lugar e também evita a cerimônia de posse, com a presença de Lupi e os elogios de praxe ao demitido.

Desta vez qualquer desagravo, por mais formal que fosse, soaria especialmente constrangedor.

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