Ponta Grossa
"Vó Tereza", mesmo sem saber, faz política
Tereza de Jesus Oliveira tem 60 anos e é aposentada. Mas os cargos que acumula a fazem ter uma agenda lotada. Ela é presidente da Associação dos Moradores da Vila Quero-Quero, um lugar com 460 famílias, afastado 13 quilômetros do centro de Ponta Grossa, com uma única rua asfaltada. Tereza é coordenadora do Clube de Meninas, do Clube de Mães, do Programa da Sopa e ainda é conselheira municipal da Saúde e do Bolsa Família. Ela não tem filiação partidária nem pretende concorrer a um cargo público.
A aposentada, que é viúva e tem uma única filha, é chamada de "Vó Tereza" pelos moradores da vila. "As crianças da vila me pedem benção quando me veem", conta ela. Vó Tereza ficou conhecida no Quero-Quero quando entrou para a Pastoral da Criança, em 2004. Foi eleita presidente da Associação e já acumula dois mandatos seguidos. No próximo mês, haverá eleição. "Se as pessoas quiserem que eu continue, eu continuo", adianta, afirmando que pretende proseguir o trabalho até quando "Deus der saúde". A associação pede, há seis anos e sem sucesso, um centro comunitário e uma área de lazer no bairro. Cansada de esperar pela sede própria, Tereza alugou uma casa por R$ 150 reais e paga as despesas de aluguel, água e luz com o valor arrecadado nos bazares feitos com peças artesanais produzidas pelos clubes de mães e de meninas e doações de parceiros. O apoio governamental vem apenas na doação de pães, legumes e verduras para o Programa da Sopa, que atende 80 famílias carentes todos os sábados. "Não sei se o que eu faço é política, só sei que eu agarrei amor no meu trabalho", diz.
As mulheres ainda têm um longo caminho para conquistar na política. Mas, na exata data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, elas têm o que comemorar. O grau de confiança do eleitorado feminino em suas representantes vem crescendo ano a ano. A pesquisa nacional "Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado", realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc-SP, revela que 78% das eleitoras achavam que representantes do sexo feminino estavam preparadas para governar. Em 2001, apenas 59% das entevistadas tinham essa mesma opinião.
A pesquisa foi feita em agosto de 2010, em plena campanha eleitoral do ano passado, quando a disputa era protagonizada por duas mulheres: Dilma Rousseff (PT), que saiu vencedora, e Marina Silva (PV), que praticamente forçou o segundo turno por despolarizar os votos dos dois principais postulantes à Presidência: a petista e José Serra (PSDB).
Mais jovens confiantes
Segundo a pesquisa, o índice de confiança sobe entre as mulheres mais jovens e passa para 84% das entrevistadas na faixa etária dos 25 aos 34 anos. Apenas 13% das mulheres com mais de 60 anos declararam que as candidatas estão preparadas para assumir um cargo público.
Entre os homens, que foram ouvidos na pesquisa de 2010, ao contrário da de 2001, a confiança também está em alta: 78% acreditam que as mulheres podem governar. A pesquisa ouviu 2.365 mulheres e 1.181 homens em 25 estados, inclusive no Paraná.
Outro dado da pesquisa que sugere o maior envolvimento das mulheres na política é a percepção do eleitorado feminino sobre a democracia: 63% das entrevistadas preferem a democracia como regime de governo. Em 2001, apenas 47% apostavam nesse tipo de modelo. Mas, no intervalo da pesquisa, o número de mulheres que simpatizam com a ditadura se manteve estável. Em 2001, 13% das mulheres acreditavam que a ditadura era um bom sistema de governo, contra 12% das entrevistadas do ano passado.
A política parece ter ganhado mais peso no cotidiano, segundo as respostas da pesquisa. Em 2001, 70% das mulheres diziam que a política tem influência sobre o cotidiano. No ano passado, essa parcela subiu para 80% porcentual muito semelhante aos dos homens; 82% deles dizem sentir essa influência.
O levantamento constatou ainda que entre as causas apontadas, pelas próprias mulheres, para o baixo número de representantes femininas no poder estão: o machismo, com 44% das respostas; a falta de interesse da própria mulher em se candidatar (14%); e o preconceito e a discriminação (11%). Apenas 3% das entrevistadas acham que há menos mulheres que homens no poder porque elas são "frágeis".
Envolvimento
Para o coordenador da pesquisa, Gustavo Venturi, é arriscado dizer que as mulheres estão mais "politizadas" que há nove anos. Mas, segundo ele, é possível concluir que elas reconhecem a importância da política e da democracia. "Isso demonstra um maior envolvimento da mulher com a política, não apenas na militância porque sabemos que a participação da mulher na política institucional ainda é baixo, em torno de 10% , mas na maior consciência da importância da política."
Para a jornalista Karina Janz Woitowicz, doutora em gêneros e mobilização política, a presença feminina é mais forte na política não formal. "A mulher ainda precisa reconhecer seu espaço na política formal", comenta. Segundo ela, além de a participação feminina ser pequena nos cargos públicos, não se percebe um comprometimento com a agenda ligada à mulher. "Existem demandas específicas, como o atendimento integral à saúde, a participação econômica e a violência à mulher que não são debatidas."
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo