As empresas e instituições financeiras multinacionais que usam o suborno e toleram lucros ilícitos estão alimentando a corrupção nos países mais pobres do mundo, disse na quarta-feira a Transparência Internacional (TI).
A entidade com sede em Berlim afirmou em seu novo relatório de percepção da corrupção que, enquanto os governos de lugares pobres precisam combater esse problema, os países ricos são também responsáveis, e muitas vezes culpados.
"O dinheiro de propinas normalmente vem de multinacionais sediadas nos países mais ricos do mundo. Não pode mais ser aceitável que essas companhias vejam o suborno nos mercados de exportação como uma estratégia empresarial legítima", observou o relatório.
O estudo, que reúne pesquisas em 180 países e territórios, faz um ranking segundo a estimativa sobre o grau de corrupção entre funcionários públicos e políticos.
Somália e Mianmar são os lanternas da lista, com nota 1,4. No outro extremo estão Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia, países elogiados pela eficiência de seus tribunais e a transparência de suas finanças públicas, com nota 9,4.
O Brasil, com nota 3,5, aparece em 72o lugar, empatado com Marrocos, Índia, México, China, Suriname e Peru. O país latino-americano mais bem avaliado é o Chile, com nota 7.
Os centros financeiros globais são culpados por permitir que autoridades corruptas escondam e invistam dinheiro, disse a TI, citando o exemplo de Nigéria e Filipinas, onde as autoridades se apropriaram de milhões de dólares.
"As críticas dos países ricos à corrupção nos pobres têm pouca credibilidade enquanto suas instituições financeiras estiverem sentadas sobre a riqueza roubada das pessoas mais pobres do mundo", declarou Akere Muna, vice-presidente da TI.
Entre os países com nota abaixo de 3 (o que indica a sensação de corrupção generalizada), 40 por cento são classificados pelo Banco Mundial como países de baixa renda, segundo a TI.
Lugares atingidos por guerras, como Afeganistão, Iraque e Sudão, também sofrem muito com a corrupção e estão na parte de baixo da tabela, disse à Reuters Huguette Labelle, presidente da entidade.
Segundo ela, esses países ficam mais vulneráveis até por causa dos programas de reconstrução da infra-estrutura. "Esta é uma área propícia à corrupção, já que todos tentam obter esses contratos lucrativos e ficam mais inclinados a tentarem colocar dinheiro embaixo da mesa", afirmou.
"A corrupção produz pobreza, semeia a violência e desestabiliza dramaticamente os países."
O relatório, porém, aponta progressos significativos em alguns países africanos, como Namíbia, Suazilândia e África do Sul, graças a reformas políticas e empenho das autoridades.
Além disso, segundo a TI, o processo de adesão à União Européia (UE) ajudou países como a Romênia a lidar com o problema.