Análise
Especialistas divergem sobre o uso de recursos públicos para obra
Na avaliação do cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as greves do ABC tiveram papel decisivo na história moderna do país e, diante disso, é importante a construção de um museu educativo que conte esse episódio. "De uma forma ou de outra, o Lula teve destaque nisso. Não vejo problema [na destinação de dinheiro público ao museu], desde que os recursos sejam bem gastos e usados dentro da legalidade."
Já o cientista político Mário Sérgio Lepre afirma que, apesar da importância das greves para o país, a aplicação de verbas públicas nesse projeto não diz respeito a um tema de interesse da sociedade brasileira. "O museu é importante, mas tem de ficar por conta de alguma fundação. Não me parece saudável nem razoável gastar dinheiro público nisso. Essa verba poderia ser mais bem utilizada", defende. "Mas o Lula ainda tem muita força de direcionamento. No sentido em que ele indica, muitas pessoas vão apoiá-lo e movimentar toneladas de interesses nessa direção."
Oposição
A opinião de Lepre é a mesma defendida pelo presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP). "Lula pode fazer o museu que quiser, desde que não seja com recursos públicos. Que ele faça, com os recursos dele, do partido dele, com recursos privados", criticou em nota. "[Lula] não [está] satisfeito por ter usado, de forma indevida, no governo, os recursos públicos, como no caso do mensalão; depois que sai ainda continua utilizando-os". (ELG)
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O Ministério da Cultura será o principal financiador de um museu em São Bernardo do Campo (SP) que pretende contar a história dos trabalhadores do Grande ABC e que deve dar destaque às atividades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como líder sindical na década de 1970. Chamado de Museu do Trabalho e do Trabalhador, apenas o prédio deve custar R$ 18 milhões dos quais R$ 14,4 milhões sairão do governo federal e outros R$ 3,6 milhões serão bancados pela prefeitura de São Bernardo do Campo. O anúncio do início das obras será feito hoje, com a presença da ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
O prédio será erguido num terreno de cerca de 10 mil metros quadrados ao lado da prefeitura de São Bernardo, um dos cenários das greves do fim da década de 1970 que antecederam a criação do PT. No local, funcionava o antigo mercado municipal da cidade. Entre as principais atrações, está prevista uma sala que vai recriar, com recursos audiovisuais, o ambiente das reuniões a céu aberto lideradas por Lula.
O convênio entre o Ministério da Cultura e a prefeitura para a construção do prédio foi assinado em 2010, quando Lula ainda ocupava o Palácio do Planalto. No entanto, a primeira parcela de recursos da União, de R$ 1 milhão, só foi liberada agora devido a problemas burocráticos. Além do dinheiro para a construção do prédio, Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo e ex-ministro do Trabalho no governo Lula, revelou que pretende recorrer à Lei Rouanet, mecanismo de renúncia fiscal do Ministério da Cultura, para bancar os gastos com o interior do museu.
Apesar da forte ligação do museu com o início da história política do ex-presidente, Marinho nega que este será "o museu do Lula". "O museu tratará da história do trabalhador desde a década de 20", disse. "Não será o museu do Lula. Não será nem o museu do metalúrgico." Segundo ele, a proposta do museu será semelhante à dos museus da Língua Portuguesa e do Futebol, em São Paulo. "Terá muita tecnologia, será um museu atual."
Lulismo
Sócio do escritório de arquitetura que está projetando o museu, Marcelo Ferraz disse recentemente que a obra foi encomendada a ele pelo próprio presidente Lula. "Vamos tratar do trabalho do homem numa dimensão ampla, com foco na região do ABC. Ele poderia estar em qualquer lugar do mundo, mas está em São Bernardo cidade ícone do trabalho. Porém, não será o memorial do metalúrgico", afirmou Ferraz, em entrevista ao site AECweb, especializado em construção.
O projeto do ABC será o segundo museu com referências à trajetória de Lula. Na Câmara de São Paulo, tramita uma proposta do prefeito Gilberto Kassab (PSD) que autoriza a cessão ao Instituto Lula de um terreno oferecido para o Memorial da Democracia, na região da cracolândia. O memorial receberá o acervo de Lula na Presidência e pode custar até R$ 60 milhões.
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