Candidato a presidente o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ainda não é, mas está no páreo e deixa isso muito claro: avisa aos navegantes que não tem "temperamento para vice" enquanto pavimenta o terreno com base na arte de fazer amigos e influenciar pessoas.
Não cria conflitos, trabalha para dirimir os existentes e só coleciona os contenciosos absolutamente necessários. Um exemplo é a tênue, porém picante, tensão com o PT de cuja órbita procura distanciar o PSB.
No plano local, já entrou na eleição reconciliado com o senador Jarbas Vasconcelos, adversário durante 20 anos. Quando saiu dela vitorioso no primeiro turno em Recife, tratou logo de pedir desculpas aos que "eventualmente tenha ofendido" no calor da disputa.
Na cena nacional, desfila de braço dado com o ex-presidente Lula, reafirma os laços com a presidente Dilma Rousseff, confere substância ao PSD de Gilberto Kassab, já é visto como objeto de desejo no PMDB e cultiva as melhores relações com o PSDB.
Dividiu vitória com Aécio Neves em Belo Horizonte e recebe mensagens constantes de interlocutores de Fernando Henrique Cardoso a quem confere toda deferência.
O que isso tudo quer dizer?
Por ora significa que é tempo de semeadura.
Não se consegue obter de Eduardo Campos uma resposta precisa sobre prováveis alianças nem sobre nada que diga respeito ao seu futuro político.
Em parte porque ele mesmo não tem respostas precisas, em parte porque não lhe é conveniente revelar o conteúdo de certas tratativas.
O governador capta as mensagens e decodifica.
Para ele, no momento o PSDB joga "com acerto, do ponto de vista da oposição" na cizânia da base governista e atua para abrir espaço na tropa que em tese estaria unida para sustentar a reeleição de Dilma, em 2014.
Nesse caso, o PSB seria um ótimo parceiro por dois motivos: representaria a "renovação" com mais eficácia que o PSDB desgastado depois de oito anos de Presidência e outros tantos de embate com o PT e tem em Pernambuco um porto seguro no Nordeste.
Kassab, se José Serra perder em São Paulo, aposta que "vai trabalhar com Dilma". Em ministério, para ele ou correligionário próximo. Terminado o mandato na prefeitura, vai precisar de uma referência de poder "para cuidar daquelas 50 crianças". Vale dizer, a bancada de deputados federais que filiou ao PSD.
Sobre sua permanência ao lado de Lula, Dilma e do PT, a posição de Eduardo Campos é mais complexa.
Não fecha nem deixa a porta completamente aberta. Simplesmente não põe (ainda) essa aliança em jogo. Fala dela como quem procura manter o distanciamento do analista.
Na visão do governador, primeiro de tudo há uma questão a ser resolvida a agenda do governo e o equívoco a ser corrigido a maneira de tratar os aliados.
A pauta do Planalto, na opinião dele, não por ser eleitoral. "A governo algum interessa a antecipação de disputas, pois dissemina a desagregação e resulta em perda antecipada de poder".
O melhor a fazer é se dedicar a uma "agenda de vida real": situação dos estados e municípios, crescimento da economia, seca no Nordeste, royalties do petróleo, investimento em infraestrutura, fornecimento de energia e por aí vai uma gama enorme de problemas.
A arrogância no trato com os parceiros não tem sido boa conselheira para o PT que por ela levou uma surra memorável no Recife e deixou Aécio Neves levar adiante seu plano de reafirmar a liderança em Belo Horizonte. "Falta vocação e humildade para engolir sapos", aponta.
Se quiser chegar forte em 2014, Eduardo Campos acha que o governo precisa se apressar, sem perder de vista a data limite. Em outubro de 2013 vence o prazo de filiação partidária para os candidatos à eleição do ano seguinte quando, então, estará oficialmente aberta a temporada da sucessão.
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