A guerra fria particular entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), esquentou nesta semana. Após Cunha acusar o governo Dilma de protagonizar “o maior escândalo de corrupção do mundo”, a presidente declarou, na terça-feira (20), que o escândalo não se refere ao seu governo. “Não sabia que a Petrobras não era do governo”, rebateu Cunha.
Pelo impeachment em Curitiba
O movimento Vem Pra Rua promove nesta quinta-feira (22), em Curitiba, um ato em apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A concentração para o evento será no final da tarde, na praça Santos Andrade, no centro da capital. Às 18h30, o grupo deve marchar pela rua XV de Novembro até a Boca Maldita.
O governo e Cunha também travam uma batalha jurídica no Supremo Tribunal Federal (STF). Deputados do PT ingressaram com pedido, que foi concedido em caráter liminar, questionando o roteiro idealizado pelo deputado para o impeachment. Cunha recorreu da decisão, que deve ser analisada pelo tribunal pleno da Corte.
Ainda que se tratem como adversários políticos, Dilma e Cunha dependem um do outro para se manter no poder. Dilma mais que Cunha: o processo de impeachment passa pela mesa do presidente da Câmara – que tem a prerrogativa de dar ou não prosseguimento a ele. Até o momento, o deputado rejeitou todos os pedidos apresentados. Seu alto poder de persuasão entre o baixo clero da Câmara também poderia ajudar Dilma a se manter no poder.
Cunha, por outro lado, depende do apoio da base governista para evitar que as denúncias do Ministério Público Federal (MPF) custem seu cargo de presidente e, até mesmo, seu mandato parlamentar. Em um momento em que a presidente vive em crise permanente com os deputados, porém, o impacto da interferência do Executivo deve ser menos significativo.
Um exemplo disso é que, mesmo com a crise entre Cunha e Dilma, deputados da base governista almoçaram com o deputado e reiteraram seu apoio para que a situação na Câmara “volte à normalidade”. Já os principais partidos de oposição reafirmaram nesta terça (20) posição pelo afastamento de Cunha da presidência da Câmara, mas continuam, nos bastidores, dando suporte a ele para garantir o andamento do pedido de impeachment contra Dilma.
Equilíbrio frágil
A tensão pode afetar o frágil equilíbrio que sustenta suas duas posições, em um momento que ambos passam por crise de legitimidade. Por um lado, Dilma teve as contas do governo desaprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), considerado um pretexto forte para o impeachment. Soma-se a isso o desprestígio do governo, com alto índice de reprovação pela população, a crise econômica, sua dificuldade de sustentação no Congresso e os efeitos da Operação Lava Jato atingindo aliados próximos.
Por outro lado, as revelações sobre as contas secretas de Cunha na Suíça tornaram sua posição frágil. Duas contas pertencentes ao parlamentar foram bloqueadas pela Justiça do país europeu, e nelas havia US$ 2,4 milhões em saldo – dinheiro que não foi declarado à Receita Federal. Outras duas contas teriam sido fechadas antes do início da Lava Jato. Ele nega.
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