Não é raro eleitores se surpreenderem com medidas de governantes recém-eleitos que contradizem o que era dito na campanha eleitoral. Nas eleições de outubro do ano passado, porém, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Beto Richa (PSDB), ambos reeleitos para o segundo mandato, não se constrangeram em "vender" ao eleitor um país e um estado bem diferentes da realidade. Hoje, quase quatro meses após terminadas as eleições, a artimanha de marketing político ficou evidente.
Dilma Rousseff
Confira o que Dilma disse na campanha e o que ela fez logo após a reeleição:
- Impostos
Discurso na campanha
Em encontro com taxistas em setembro de 2014, Dilma negou qualquer possibilidade de "tarifaço" para reajustar o preço da gasolina.
Realidade no governo
Em 19 de janeiro, o governo federal anunciou a volta da cobrança da Cide (imposto sobre o comércio de combustíveis) e o aumento da alíquota do PIS/Cofins, que resultou em reajuste médio de R$ 0,22 para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel.
O mesmo pacote trouxe aumento de IOF sobre operações de crédito para o consumidor de 1,5% para 3%, e do PIS/Cofins sobre importações de 9,25% para 11,75%.
- Juros e inflação
Discurso na campanha
Dilma acusou o partido de seu principal adversário, Aécio Neves (PSDB), de "plantar inflação para colher juros". Ao mesmo tempo, negou haver descontrole inflacionário no país, bem como rechaçou a possibilidade de aumentar juros.
Realidade no governo
Três dias após a vitória no segundo turno, o Copom aumentou a taxa Selic de 11% para 11,25% ao ano. Hoje, depois de mais duas altas, a taxa básica está em 12,25%. A justificativa: controlar a inflação. Especialistas, porém, preveem índice inflacionário de 3,26% só para o primeiro trimestre, ou seja: quase 50% da meta prevista pelo governo para todo ano de 2015.
- Direitos trabalhistas
Discurso na campanha
Em reunião com empresários, Dilma garantiu que não mudaria direitos trabalhistas.
Realidade no governo
Em dezembro, duas medidas provisórias deixaram mais rígidas as regras para obter abono salarial, seguro-desemprego, pensão por morte e auxílio-doença. As medidas foram tomadas em nome da "sustentabilidade da Previdência".
- Política econômica
Discurso na campanha
Dilma criticou duramente Marina Silva (PSB) e Aécio Neves por suas propostas para a economia. Dizia que Neca Setúbal, herdeira do Itaú e conselheira de Marina, e Armínio Fraga, anunciado como ministro da Fazenda de Aécio, influenciariam políticas em favor do mercado.
Realidade no governoNomeou Joaquim Levy, economista tido como ortodoxo e alinhado ao pensamento de Armínio, como ministro da Fazenda de seu segundo governo.
- Energia elétrica
Discurso na campanha
Não só na campanha, mas durante todo o primeiro governo, Dilma afirmava que a energia não subiria e que o país estava preparado para a demanda necessária ao crescimento.
Realidade no governo
Em 19 de janeiro, um apagão atingiu metade do país: 11 estados e o Distrito Federal. No dia 20, o Brasil importou energia da Argentina. A partir do primeiro dia do ano já entrara em vigor o sistema de bandeiras tarifárias. Se o consumo de energia subir, o consumidor paga mais caro. A Aneel já aprovou também pedido de reajuste extraordinário feito pelas distribuidoras.
Beto Richa
Veja o que Richa dizia na campanha e compare com a realidade do governo:
- Finanças do estado
Discurso na campanha
Durante a campanha, Richa insistiu que havia colocado a casa em ordem, após herdar uma dívida de "R$ 4,5 bilhões do governo anterior". E que, no segundo mandato, poderia investir mais.
Realidade no governo
Pouco tempo depois de ser reeleito, em dezembro, enviou um "tarifaço" à Assembleia Legislativa, já aprovado e sancionado. O ICMS de uma extensa lista de produtos foi reajustado de 12% para 18%. Também houve aumento de um ponto porcentual no ICMS da gasolina e de 40% na alíquota do IPVA.
- Investimentos
Discurso na campanha
Na campanha, o candidato à reeleição desafiou jornalistas a consultar qualquer prefeito do Paraná para saber se o governo anterior investia tanto em obras quanto o seu. Inclusive em municípios administrados por adversários políticos do grupo que comandava o Paraná.
Realidade no governo
Após a derrota no "pacotaço" da semana passada, o governador admitiu que existem obras paradas no estado. O secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, já reconheceu que o Paraná está praticamente sem dinheiro para investimentos.
- Funcionalismo
Discurso na campanha
Richa sinalizou com a manutenção da política de valorização dos servidores. No primeiro mandato, concedeu reajustes acima da média para algumas categorias.
Realidade no governo
Com o estado em crise financeira, adiou o pagamento do terço de férias dos servidores já no final do ano passado. Também não pagou a rescisão de 29 mil professores temporários que trabalharam em 2014.
- Abertura ao diálogo
Discurso na campanha
Durante a campanha, Richa sempre ressaltou seu papel de conciliador. A capacidade de diálogo foi apontada como uma das principais qualidades do candidato.
Realidade no governo
Na semana passada, enfrentou a maior polêmica de sua carreira política ao propor à Assembleia a aprovação às pressas e sem discussão de um pacote de austeridade com várias propostas que têm forte oposição da sociedade. O resultado foram defecções na base aliada no Legislativo, revolta de servidores e retirada das propostas após três dias de ocupação da Assembleia e confronto entre manifestantes e a polícia.
- Perseguição
Discurso na campanha
Quando admitia dificuldades financeiras, Richa as atribuía à "perseguição do governo federal" e cobrava a liberação de empréstimos. Também criticava a falta de repasses federais.
Realidade no governo
Os empréstimos aguardados foram autorizados. Os repasses do Fundo de Participação dos Estados para o Paraná subiram acima da inflação. Mas as contas do estado ainda não fecham.
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