| Foto: Fernando Bizerra Jr./EFE e Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Não é raro eleitores se surpreenderem com medidas de governantes recém-eleitos que contradizem o que era dito na campanha eleitoral. Nas eleições de outubro do ano passado, porém, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Beto Richa (PSDB), ambos reeleitos para o segundo mandato, não se constrangeram em "vender" ao eleitor um país e um estado bem diferentes da realidade. Hoje, quase quatro meses após terminadas as eleições, a artimanha de marketing político ficou evidente.

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Dilma Rousseff

Ricardo Stuckert/Instituto Lula 
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Confira o que Dilma disse na campanha e o que ela fez logo após a reeleição:

- Impostos

Discurso na campanha

Em encontro com taxistas em setembro de 2014, Dilma negou qualquer possibilidade de "tarifaço" para reajustar o preço da gasolina.

Realidade no governo

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Em 19 de janeiro, o governo federal anunciou a volta da cobrança da Cide (imposto sobre o comércio de combustíveis) e o aumento da alíquota do PIS/Cofins, que resultou em reajuste médio de R$ 0,22 para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel.

O mesmo pacote trouxe aumento de IOF sobre operações de crédito para o consumidor de 1,5% para 3%, e do PIS/Cofins sobre importações de 9,25% para 11,75%.

- Juros e inflação

Discurso na campanha

Dilma acusou o partido de seu principal adversário, Aécio Neves (PSDB), de "plantar inflação para colher juros". Ao mesmo tempo, negou haver descontrole inflacionário no país, bem como rechaçou a possibilidade de aumentar juros.

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Realidade no governo

Três dias após a vitória no segundo turno, o Copom aumentou a taxa Selic de 11% para 11,25% ao ano. Hoje, depois de mais duas altas, a taxa básica está em 12,25%. A justificativa: controlar a inflação. Especialistas, porém, preveem índice inflacionário de 3,26% só para o primeiro trimestre, ou seja: quase 50% da meta prevista pelo governo para todo ano de 2015.

- Direitos trabalhistas

Discurso na campanha

Em reunião com empresários, Dilma garantiu que não mudaria direitos trabalhistas.

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Realidade no governo

Em dezembro, duas medidas provisórias deixaram mais rígidas as regras para obter abono salarial, seguro-desemprego, pensão por morte e auxílio-doença. As medidas foram tomadas em nome da "sustentabilidade da Previdência".

- Política econômica

Discurso na campanha

Dilma criticou duramente Marina Silva (PSB) e Aécio Neves por suas propostas para a economia. Dizia que Neca Setúbal, herdeira do Itaú e conselheira de Marina, e Armínio Fraga, anunciado como ministro da Fazenda de Aécio, influenciariam políticas em favor do mercado.

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Realidade no governoNomeou Joaquim Levy, economista tido como ortodoxo e alinhado ao pensamento de Armínio, como ministro da Fazenda de seu segundo governo.

- Energia elétrica

Discurso na campanha

Não só na campanha, mas durante todo o primeiro governo, Dilma afirmava que a energia não subiria e que o país estava preparado para a demanda necessária ao crescimento.

Realidade no governo

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Em 19 de janeiro, um apagão atingiu metade do país: 11 estados e o Distrito Federal. No dia 20, o Brasil importou energia da Argentina. A partir do primeiro dia do ano já entrara em vigor o sistema de bandeiras tarifárias. Se o consumo de energia subir, o consumidor paga mais caro. A Aneel já aprovou também pedido de reajuste extraordinário feito pelas distribuidoras.

Beto Richa

Marcelo Andrade/Gazeta do Povo 

Veja o que Richa dizia na campanha e compare com a realidade do governo:

- Finanças do estado

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Discurso na campanha

Durante a campanha, Richa insistiu que havia colocado a casa em ordem, após herdar uma dívida de "R$ 4,5 bilhões do governo anterior". E que, no segundo mandato, poderia investir mais.

Realidade no governo

Pouco tempo depois de ser reeleito, em dezembro, enviou um "tarifaço" à Assembleia Legislativa, já aprovado e sancionado. O ICMS de uma extensa lista de produtos foi reajustado de 12% para 18%. Também houve aumento de um ponto porcentual no ICMS da gasolina e de 40% na alíquota do IPVA.

- Investimentos

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Discurso na campanha

Na campanha, o candidato à reeleição desafiou jornalistas a consultar qualquer prefeito do Paraná para saber se o governo anterior investia tanto em obras quanto o seu. Inclusive em municípios administrados por adversários políticos do grupo que comandava o Paraná.

Realidade no governo

Após a derrota no "pacotaço" da semana passada, o governador admitiu que existem obras paradas no estado. O secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, já reconheceu que o Paraná está praticamente sem dinheiro para investimentos.

- Funcionalismo

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Discurso na campanha

Richa sinalizou com a manutenção da política de valorização dos servidores. No primeiro mandato, concedeu reajustes acima da média para algumas categorias.

Realidade no governo

Com o estado em crise financeira, adiou o pagamento do terço de férias dos servidores já no final do ano passado. Também não pagou a rescisão de 29 mil professores temporários que trabalharam em 2014.

- Abertura ao diálogo

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Discurso na campanha

Durante a campanha, Richa sempre ressaltou seu papel de conciliador. A capacidade de diálogo foi apontada como uma das principais qualidades do candidato.

Realidade no governo

Na semana passada, enfrentou a maior polêmica de sua carreira política ao propor à Assembleia a aprovação às pressas e sem discussão de um pacote de austeridade com várias propostas que têm forte oposição da sociedade. O resultado foram defecções na base aliada no Legislativo, revolta de servidores e retirada das propostas após três dias de ocupação da Assembleia e confronto entre manifestantes e a polícia.

- Perseguição

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Discurso na campanha

Quando admitia dificuldades financeiras, Richa as atribuía à "perseguição do governo federal" e cobrava a liberação de empréstimos. Também criticava a falta de repasses federais.

Realidade no governo

Os empréstimos aguardados foram autorizados. Os repasses do Fundo de Participação dos Estados para o Paraná subiram acima da inflação. Mas as contas do estado ainda não fecham.