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Eleições 2014

Insatisfação alimenta rumor do "Volta Lula"

O descontentamento generalizado da base a articulação política do Planalto no Congresso alimentou rumores nos últimos dias de que haveria um movimento de aliados e petistas para que Lula seja o candidato do PT à Presidência e não Dilma Rousseff. Por ora, porém, o assunto ainda é tratado como uma mera especulação e não uma realidade. "Não estou vendo isso [mobilização pedindo a candidatura de Lula], não estou sentindo isso. E a Dilma tem uma boa avaliação", disse o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), um dos articuladores do blocão dos descontentes. Censurados pelo próprio Lula, os petistas evitam até tocar no assunto. "O ajuizado é falar que isso [o movimento "Volta Lula"] não prospera", resumiu um cacique do PT. A leitura geral é que, enquanto a presidente Dilma sustentar índices elevados de aprovação popular, não há motivo para questionar sua candidatura. "Ela tem só que melhorar a articulação política", diz o líder do Pros na Câmara, Givaldo Carimbão (AL). Mas nem todos descartam a possibilidade da volta de Lula. "Eventualmente, se essa crise se aprofundar, pode acontecer", afirma o vice-presidente do PDT, André Figueiredo (CE).

  • André Vargas (PT-PR), deputado federal
  • João Arruda (PMDB-PR), deputado federal

Às vésperas do carnaval, um grupo de oito partidos entrou em cena para dificultar ainda mais a harmonia do governo Dilma Rousseff com o Congresso. O "Blocão" dos insatisfeitos soma 219 (43%) dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados e, aliado a partidos de oposição, aproxima-se da quantidade de votos para aprovar propostas de emenda à Constituição (PECs). Quem puxa a marchinha dos descontentes é o principal partido aliado, o PMDB, em um sinal de que o conflito legislativo deve se arrastar para a formação das alianças eleitorais deste ano.

INFOGRÁFICO: Veja como está a distribuição dos votos na Câmara dos Deputados

O recado do Blocão tem sido, até a semana passada, mais complexo do que o apresentado durante outras rebeliões de legendas da base governista por mais cargos e recursos. "É a soma de mais de três anos de um relacionamento muito ruim", descreve o deputado federal paranaense João Arruda (PMDB). Na conta final, estão três fatores: o "desprestígio" na distribuição de ministérios (a interpretação é de que as pastas importantes ficam sempre com os petistas); o bloqueio de R$ 13,3 bilhões em emendas parlamentares anunciado pela equipe econômica no dia 20 de fevereiro; e, em especial, a falta de diálogo com o Palácio do Planalto.

Vice-presidente da Câ­­mara, o paranaense André Vargas (PT) diz que o "nível de estresse" foi ampliado pelas dificuldades de negociação eleitoral. "Os palanques regionais geram alguma tensão", avalia. Maiores partidos do Congresso, PT e PMDB têm problemas para formar aliança em 15 estados.

Resistência

Na semana passada, o Blocão perdeu dois "sócios-fundadores" (PSD e PDT). Mas resistiu à primeira tentativa de reaproximação do governo, que mobilizou 12 ministérios para atender a demandas de deputados aliados que ficaram pendentes no orçamento de 2013.

Em resposta, o grupo de insatisfeitos manteve na pauta do plenário da Câmara a proposta de aprovar uma comissão externa para apurar denúncias de pagamento de propina para funcionários da Petrobras pela empresa holandesa SBM. Principal nome do movimento, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), defendeu a independência do Legislativo e reclamou das interferências do Executivo, que provocam o trancamento da pauta da Câmara há quatro meses.

Embora negue que exerça a liderança do Blocão, Alves foi o organizador da primeira reunião de líderes do grupo, no dia 19 de fevereiro. Um dos presentes foi o paranaense Fernando Francischini, líder do So­­lidariedade, único partido da oposição no grupo – os demais, além do PMDB, são PTB, PP, PSC, Pros e PR. O convite para Francischini partiu de um telefonema de Alves, às 22h20.

"Acabaram me escolhendo para ser o incendiário do movimento. Queriam alguém que, por ser da oposição, poderia dar voz a tudo o que eles pensam sem sofrer retaliação", diz Francischini. Foi dele a sugestão de colocar na pauta a comissão externa da Petrobras.

Ex-tucano, o paranaense também ficou responsável por fazer a ponte com PSDB, DEM, PPS e PSol. A próxima sugestão é ressuscitar a polêmica PEC 300, que cria o piso nacional para policiais civis, militares e bombeiros. A PEC foi aprovada em primeiro turno pelo plenário da Câmara em 2010, mas acabou entrando na lista de "pautas-bomba" por aumentar os gastos orçamentários. O Blocão planeja estourá-la depois do carnaval.

PMDB tem histórico de frear movimentos pela hegemonia

Ícone da luta pela redemocratização, o PMDB nunca conseguiu viabilizar um candidato próprio a presidente competitivo desde a volta das eleições diretas, em 1989. O partido, no entanto, sempre dominou o Congresso e tem um histórico de contrapeso a movimentos em busca de hegemonia.

Durante a Constituinte de 1988, lideranças à esquerda da legenda – como Fernando Henrique, Mário Covas e José Serra – promoveram um racha na condução dos trabalhos que levou à criação do PSDB. Do outro lado, os peemedebistas remanescentes promoveram uma coalizão de centro-direita, conhecida como Centrão. O grupo conquistou diversas vitórias – entre elas, a manutenção do presidencialismo e o mandato presidencial de cinco anos, que nasceu de uma emenda apresentada pelo peemedebista paranaense Matheus Iensen.

Reequilíbrio

"O Centrão reequilibrou o balanço ideológico da Constituinte", avalia o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília. Para ele, o partido manteve-se como a "espinha dorsal" da governabilidade. "O PMDB é um partido que pode ser tudo para todos e que, por não ter uma ideologia firme, consegue conviver com diferentes nuances."

Um ano depois, o partido lançou o "pai" da Constituição, Ulysses Guimarães, à Presidência. Ele ficou em sétimo lugar, com 4,43% dos votos. Em 1994, foi a vez de Orestes Quércia, que fez 4,38% e ficou atrás de Enéas Carneiro (Prona), na quarta posição. Desde o governo Sarney, a legenda só voltou a integrar a coligação vitoriosa na disputa pelo Palácio do Planalto em 2010, com Michel Temer como vice de Dilma Rousseff.

"Como dessa vez nós ‘somos’ governo e não ‘apoiamos’ o governo, havia uma expectativa enorme em torno da nossa participação. Mas acabamos ocupando um espaço menor que no governo Lula", diz o deputado paranaense João Arruda. Até 2010, os peemedebistas comandavam seis ministérios, incluindo Saúde e Comunicação, e agora dirigem cinco (Agricultura, Aviação Civil, Minas e Energia, Previdência e Turismo).

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