Avenidas e praças ganharam uma conotação diferente no linguajar de executivos da OAS. Um simples endereço, fornecido em trocas de mensagens de celular, pode não ser um simples endereço, mas um código para repasses de recursos a políticos, como suspeita a Polícia Federal (PF). O relatório que detalha o conteúdo encontrado em dois celulares do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, apreendidos num mandado de busca, lista esses supostos códigos usados em citações ao então governador da Bahia e hoje ministro da Casa Civil, Jaques Wagner; ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara; e ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em Curitiba e já condenado em primeira instância por suposto recebimento de propina desviada da Petrobras.
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A lista de códigos, com alusões a endereços, foi detalhada pela PF no capítulo do relatório detalhado a Vaccari. Em agosto de 2012, um diretor da OAS escreve a Pinheiro: “Dr. Léo, já combinei com nosso amigo JV (João Vaccari), na rua 150, no nacional”. “O termo rua/avenida/endereço não parece ter relação com o contexto da mensagem ou logradouros que não fazem muito sentido. Esse procedimento foi identificado em outras mensagens”, registra a PF no relatório. Uma referência muito similar foi feita em mensagem com citação ao “Compositor”, apelido usado por executivos da OAS para se referirem a Jaques Wagner, como suspeita a PF. O torpedo está na lista elaborada para detalhar esses códigos.
A mensagem que “chamou a atenção” dos policiais, de 25 de junho de 2014, é a seguinte: “O compositor me ligou x uma demanda para sexta. Seria na Av. Nacional, 600. Bjs”. Para a PF, a mensagem era cifrada. “Não foi localizado o endereço ‘Avenida Nacional’ em Salvador, no estado da Bahia. E o termo pode ser, mais uma vez, um código utilizado para fazer referências a valores pedidos”, cita o relatório.
Os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a OAS doou R$ 4,275 milhões –R$ 3,325 milhões pela direção estadual do PT e R$ 950 mil via direção nacional – à candidatura de Rui Costa. O petista foi eleito governador pelo PT e sucedeu seu padrinho, Jaques Wagner. A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição recebeu R$ 20 milhões da empresa, conforme o TSE.
Em 2012, numa conversa que estaria relacionada a doações de campanha à prefeitura de Salvador, o uso de um endereço como suposto código volta a ser utilizado, conforme listado pela PF. “Vamos aguardar o que JW (sigla que se refere a Jaques Wagner, conforme a PF) decide. O volume é muito alto. 3.600 Street Brown”, escreveu Pinheiro a um executivo da OAS em 17 de outubro de 2012.
Na mesma linha, conforme a PF, está uma mensagem do ex-presidente da OAS ao deputado Eduardo Cunha em 10 de outubro de 2012. “Então seria então 680. Desculpe nº 680 defronte da Pça”.
Em dezembro de 2012, Pinheiro associou a sigla “JW” a um “centro de custo” detalhado da seguinte forma: “45% Fonte Nova, 45% Bahia Norte, 10% Via Expressa”. O estádio Fonte Nova foi reformado para a Copa do Mundo em 2014 por um consórcio formado por OAS e Odebrecht. A Bahia Norte (Odebrecht mais Invepar, que tem a OAS como acionista) tem concessão de rodovia no estado. E a Via Expressa Baía de Todos os Santos foi construída pela OAS.
O GLOBO questionou a Casa Civil sobre os novos trechos do relatório da PF. Não houve retorno até o fechamento desta edição.
Cunha disse à reportagem não se recordar da conversa sobre o “nº 680 defronte da Pça”. Ele afirmou que há mensagens logo em seguida de Pinheiro “para (Nelson) Pelegrino (PT) falando de 1.680” e de Pelegrino, que disputou a prefeitura de Salvador em 2012, mencionando uma conversa com o “governador”.
“Era período de campanha, segundo turno”, disse Cunha.
Outro trecho do relatório da PF mostra uma suposta atuação de Wagner em defesa do mandato do então deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA), que respondia a processo no Conselho de Ética da Câmara, por quebra de decoro. Uma mensagem encontrada nos celulares de Pinheiro, com destinatário desconhecido, com data de 15 de maio de 2014: “Caixão e vela para o Argollo.
O compositor está ajudando, mas é difícil”. Argôlo hoje está preso e condenado pela Justiça Federal no Paraná a 11 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato.
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