São Paulo (AE) – Marcos Valério Fernandes de Souza e sua mulher, Renilda, enfrentaram horas de depoimentos na CPI dos Correios com a ajuda de comprimidos de Rivotril. Rogério Tadeu Buratti desfiou suas denúncias na CPI dos Bingos amparado por um Lexotan. A publicitária Zilmar Fernandes, sócia de Duda Mendonça, usou meio Frontal para sobreviver à sabatina. Jeany Mary Corner – a chefe das "recepcionistas" – anda sob os efeitos de Frontal e Lexapro. José Carlos Batista, o dono da empresa Guaranhuns, começou a falar na CPI do Mensalão tão tenso que precisou de um Rivotril.

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O uso corrente de remédios controlados por esses personagens pode até servir de alegoria para a multidão de brasileiros que já admitem sem constrangimentos que precisam de remédios tarjas pretas nas horas difíceis. Ou simplesmente para conseguir levar a vida.

O consumo de medicamentos controlados costuma vir acompanhado de debates sobre até que ponto o ser humano tem o direito de domar as dores da alma com compostos químicos. Mas a movimentação nas farmácias mostra que aumenta o número de médicos e pacientes apostando que sim, a farmacologia deve ser colocada a serviço da calmaria interior.

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Levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuário de Medicamentos (Idum) e do Conselho Regional de Farmácia do Distrito Federal mostra que os brasileiros consumiram 115 milhões de caixas de medicamentos controlados entre 2003 e 2004. Só entre os tranqüilizantes, o consumo foi de 36 milhões de caixas.

É uma numeralha que comprova aquilo que o olhômetro já mostrava. "Qualquer um faça o teste: pergunte à sua volta quem já tomou, ou toma substância tarja preta. Muita gente usa e está certíssima. Bem utilizados e com acompanhamento médico, esses remédios só trazem bem-estar. É preciso tratar do tema sem hipocrisia, porque ele está aí e envolve pessoas que utilizam com responsabilidade", afirma Rubens Pitluk, psiquiatra do Hospital Albert Einstein e criador de um site que responde dúvidas sobre o assunto. (www.mentalhelp.com).