O delegado Marco Antonio Desgualdo, do Departamento de Proteção e Homicídio à Pessoa (DHPP), afirmou que a namorada de Ubiratan Guimarães, Carla Cepollina, confirmou em depoimento informal nesta segunda-feira que discutiu com o coronel após ele ter recebido o telefonema de uma outra mulher. Carla foi a última pessoa a ser vista saindo do apartamento e falou à polícia durante cerca de duas horas. O depoimento oficial, no entanto, só ocorrerá nesta terça-feira.
Conhecido pelo massacre do Carandiru em 1992, quando 111 presos foram mortos pela polícia, o coronel reformado Ubiratan Guimarães, 63 anos, foi encontrado morto domingo, por volta das 22h, em seu apartamento. Ele levou um tiro de pistola no abdôme. A bala atravessou suas costas e se alojou no sofá da sala.
Segundo a polícia, a discussão, entre Carla e Guimarães teria ocorrido no sábado, no apartamento dele, onde os dois estavam juntos. Segundo porteiros do edifício, Carla foi a última pessoa a ser vista saindo do apartamento do coronel, por volta das 21h de sábado.
O delegado divisionário Armando Oliveira Costa Filho, que também investiga o caso, disse que a polícia não descarta nenhuma hipótese para o crime, mas ressaltou que não havia sinal de luta corporal e que tudo indica que ele foi morto por uma pessoa conhecida. Perguntado sobre uma possível participação de Carla no crime, foi lacônico:
- Não descarto nada. Ela está, por hora, abalada, e será ouvida formalmente amanhã - disse.
Costa Filho afirmou que roupas que Carla estava usando no sábado, quando esteve no apartamento do coronel, serão encaminhadas para exame residuográfico.
No apartamento de Ubiratan foram encontrados quatro revólveres calibre 38, uma pistola semi-automática 765 e uma escopeta calibre 12. Um outro revólver 38, que pertencia ao coronel, está desaparecido.
O delegado Costa Filho afirmou, no entanto, que ainda não sabe dizer de que arma partiu o tiro que matou o coronel.
A polícia já ouviu quatro pessoas, entre moradores e funcionários do condomínio. Outras seis pessoas devem ser ouvidas. A família, segundo Desgualdo, ainda não prestou depoimento.
Pela manhã, o governador Cláudio Lembo descartou que a morte de Ubiratan Guimarães tenha ligação com a quadrilha que comanda o crime organizado e os ataques a São Paulo. Segundo ele, a certeza vem de informações da própria polícia, que investiga o caso. Lembo negou também relação entre a morte de Ubiratan e a de José Ismael Pedrosa, diretor do Carandiru na época do massacre, morto em outubro do ano passado em Taubaté, no Vale do Paraíba. O assassinato de Pedrosa é atribuído ao crime organizado.
O advogado de Ubiratan e deputado federal Vicente Cascione contou que chegou ao apartamento antes da polícia. Para ele, a morte do coronel não foi uma execução, mas um ato de alguém que era de seu relacionamento e que entrou na casa com o consentimento dele.
O coronel, que é deputado estadual pelo PTB e concorria à reeleição, estava apenas com uma toalha enrolada ao corpo; seu dinheiro, cerca de R$ 180, estava sobre a mesa e nada foi roubado. Os jornais de domingo não foram recolhidos.
De acordo com a perícia policial, o militar estava morto havia mais de 20 horas e sofreu hemorragia interna.
Os porteiros de seu prédio, que fica no Jardim Paulista, zona nobre de São Paulo, afirmaram à polícia não ter ouvido nenhum disparo.
No domingo à noite, assessores do coronel ficaram preocupados com sua ausência e foram visitá-lo. Não conseguiram abrir a porta e foram até a casa de sua namorada para pegar a chave reserva. Segundo os assessores, por volta das 22h, o corpo foi encontrado na sala, que estava com a luz acesa. Embora a porta da sala estivesse trancada, a porta da área de serviço estava aberta. Não havia sinais de luta ou arrombamento.
De acordo com os peritos, apenas um disparo foi efetuado e a hipótese é que o deputado não tenha reagido ao ataque. Ele foi morto de pé e, segundo as avaliações iniciais dos peritos, a uma distância entre 30cm e 50cm. A perícia, que foi encerrada por volta das 3h de domingo, colheu cerca de 20 digitais e diversos objetos do apartamento.
Coronel Ubiratan chegou a ser condenado a 632 anos de prisão pela morte de 111 presos durante a invasão policial que ficou conhecida como 'massacre do Carandiru', em 1992. Ele foi o comandante da operação policial que invadiu o presídio durante uma rebelião. O militar pôde recorrer da sentença em liberdade e conseguiu a anulação do julgamento este ano, sem passar nenhum dia na prisão.
O número "111" fez parte da legenda do deputado em suas duas candidaturas. De acordo com a polícia, ele recebia ameaças contantes desde o massacre do Carandiru.
Para o deputado federal Arnaldo Faria de Sá, correligionário de Ubiratan no PTB, o coronel estava tranqüilo ultimamente.
- Ele não se sentia incomodado por ameaças, estava bastante tranqüilo - afirmou.
O corpo do coronel Ubiratan Guimarães foi velado no Regimento de Cavalaria da Polícia Militar, no bairro da Luz, em São Paulo, e enterrado no cemitério do Horto, no Tremembé, na zona norte.
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