O Brasil tem hoje 28 partidos políticos, sendo que 19 contam com representação na Câmara. Em meio à salada de siglas, chamam atenção as chamadas legendas nanicas, com pouquíssimos deputados e que só costumam ficar conhecidas no reduzido tempo de rádio e TV a que têm direito nas eleições. Muitas delas são acusadas de negociar suas verbas públicas e tempo de propaganda com outros partidos e de atrasar o funcionamento do Legislativo. Além disso, fica a dúvida: existe ideologia para tanta agremiação?
"Vinte e oito partidos não são muitos, são poucos. A Espanha tem mais de mil, a Inglaterra, cem. Quem tem que dizer se são um, dez ou cinqüenta é o povo. Por que tem que definir de cima para baixo?", defende o presidente do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), Paulo Roberto Matos.
De acordo com o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), o grande número de partidos no Brasil abre margem para negociatas entre as diversas legendas, sendo que muitas delas sequer têm de fato uma ideologia. "É como o slogan do Sebrae: pequenos partidos, grandes negócios. Os nanicos existem só para barganhar e negociar. Os donos dessas legendas recebem repasses para trabalhar para outros partidos. A maior parte deles é de partidos de aluguel", acusa.
Para o presidente do PHS, as legendas pequenas acabam carregando a má fama de parte dos nanicos que, de fato, mantêm atividades suspeitas. Ele faz questão de garantir que seu partido tem uma bandeira definida. No caso, o "solidarismo", ideologia que explica como "baseada fundamentalmente no ensino social cristão".
"Qualquer ação política deve visar primeiramente ao ser humano. Os partidos fazem política em benefício da economia e esquecem do ser humano", lamenta Matos, que repudia a pecha de "partido de aluguel". "Prefiro não citar nomes, mas qual seria o maior partido de aluguel? Quem sempre foi governo, ganhando ou perdendo?", polemiza.
De olho no voto do trabalhador
Entre partidos brasileiros, chama atenção a repetição de denominações, como "social" e "democrático". Mas nenhuma delas supera a campeã "trabalhista", bandeira empunhada por nada menos do que seis partidos: Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Trabalhista Nacional (PTN), Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB) e Partido Trabalhista Cristão (PTC), além das variantes Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e Partido dos Trabalhadores (PT).
"Trabalhismo para nós é lutar contra a informalidade, que é um crime", define o presidente do PTC, Daniel Tourinho. Sua legenda, que já recebeu este ano R$ 1.446.192 do fundo partidário, elegeu em 2006 três deputados federais - entre eles Clodovil Hernandes (SP), agora no PR - e hoje mantém apenas um parlamentar na Câmara: Carlos Willian (MG).
Apesar do cenário, Tourinho rejeita o rótulo de nanico. Lembra que o PTC veio do PRN, partido que elegeu Fernando Collor presidente e se orgulha de ter entre seus filiados o presidente da Câmara de Vereadores de Salvador e o líder do governo na Assembléia Legislativa do Maranhão. "Estamos prevendo eleger 600 vereadores e até 80 prefeitos nas próximas eleições. Temos um projeto e perspectiva de poder. Se vai demandar três, cinco ou dez anos é outra coisa", diz.
Destacam-se ainda no espectro político do país as legendas mais à esquerda, na maior parte diminutas. Entre elas estão PSTU, PCO, PSOL e o histórico PCB. O presidente do PCO (Partido da Causa Operária), Rui Costa Pimenta, define seu partido como trotskista e faz questão de ressaltar sua diferença com outras agremiações socialistas. "Defendemos a luta histórica da classe operária pelo socialismo. O PSTU às vezes fala disso, mas já deu apoio ao PT em uma eleição para a prefeitura de Campinas", lembra.
O dirigente também sai em defesa da existência de vários partidos no país. O PCO até agora não recebeu nada de fundo partidário porque teve as contas rejeitadas. O partido recorreu. "Como pode haver liberdade se vamos restringir o direito do cidadão de constituir um partido? É como defender liberdade de imprensa, mas só ter três jornais", afirma Pimenta.
Para David Fleischer, a liberdade de criar partidos deve ser mantida no país. No entanto, o especialista vê com ressalvas que os mesmos direitos sejam transportados para o Parlamento. "Se tivéssemos uma cláusula de barreira, teríamos só sete legendas, por exemplo. Tem que ter um pouco de ordem no galinheiro. Tem que ter alguma penalidade para o partido que se organiza e elege poucos ou ninguém", afirma.
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