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“A falta de indicações de profissionais da área ou de funcionários de carreira para as direções do Ministério [da Agricultura] levaram a esses problemas.” | Saulo Cruz/Ag. Câmara
“A falta de indicações de profissionais da área ou de funcionários de carreira para as direções do Ministério [da Agricultura] levaram a esses problemas.”| Foto: Saulo Cruz/Ag. Câmara

Cronologia

Entenda a crise na Agricultura:

27 de julho – Após denúncias da revista Veja sobre a liberação irregular de R$ 8 milhões para uma empresa em nome de dois "laranjas", o diretor financeiro da Conab, Oscar Jucá Neto, é exonerado do cargo. Jucá Neto havia sido nomeado no mês anterior por indicação do irmão, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado.

30 de julho – Jucá Neto contra-ataca e, em entrevista à Veja, diz que há um "consórcio" entre o PMDB e o PTB para controlar o Ministério da Agricultura, com a função de arrecadar dinheiro. E insinua que o ministro Wagner Rossi (PMDB-SP) teria oferecido dinheiro a ele para ficar calado.

1º de agosto – Rossi nega que a pasta necessite de uma "faxina".

Congresso

Ministro Rossi depõe hoje na Câmara

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, vai depor hoje na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados sobre as denúncias de suposto uso partidário do PMDB e do PTB em sua pasta. A informação foi dada ontem pelo líder do PT na Casa, Paulo Teixeira (SP). Ele disse que o ministro vai apresentar seus argumentos que, no entendimento do líder petista, têm sido consistentes e convincentes até agora.

O PMDB acertou uma estratégia com o governo de levar o ministro o mais rápido possível ao Congresso para dar explicações, na tentativa de conter a crise. O próprio líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), havia declarado que teria a iniciativa de apresentar o requerimento, convidando o ministro para apresentar explicações.

Agência Estado

Brasília - O loteamento político que ronda as denúncias recentes de corrupção no Ministério da Agricultura é um velho conhecido do paranaense Reinhold Stephanes. Respon­­­sável pela pasta entre 2007 e 2010, ele admite ter sido alvo de várias investidas por cargos do próprio partido, o PMDB. "Eu recebi as indicações, mas não aceitei porque não achei correto", diz o hoje deputado federal.

O principal embate ocorreu quando a direção do partido tentou influenciar na escolha da direção do fundo de pensão da Empresa Brasileira de Agropecuária (Em­­brapa). "Não aceitar indicações me desgastou no PMDB", relata Stephanes em entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo. Para ele, a crise no ministério se deve à falta de profissionais do ramo na gestão de áreas técnicas.

Como o senhor vê a crise no Ministério da Agricultura?

Eu vi com muita tristeza as manchetes que foram publicadas nos últimos dias. Acho que a falta de indicações de profissionais da área ou de funcionários de carreira para as direções e os comandos do ministério levaram a esses problemas. Como eram conduzidas essas indicações na época em que o senhor era ministro?

Quando alguém assume um ministério, ele não é nem o representante do partido, nem do governo de plantão. Ele representa a sua nação. Isso deve pautar o seu comportamento. Temos que ter todo respeito por lideranças partidárias, mas acima de tudo estamos representando a nação. Era assim que eu tentava agir e escolher meus funcionários. Sempre me pautei pela capacidade técnica, do que eles tinham a oferecer de conhecimento para o governo.

Mas se sabe que o senhor enfrentou pressões políticas. Como elas eram feitas?

Pressão política funciona assim: ou você aceita, ou não. No meu caso, eu não aceitei. Eventual­­­mente poderia considerar algumas indicações técnicas que fossem adequadas. Mas só isso.

Houve um caso notório de um racha entre o senhor e uma ala do PMDB que tentou fazer uma indicação política para o comando do fundo de pensão dos funcionários da Embrapa. Como isso aconteceu?

Isso realmente aconteceu e se tornou público na época. Eu recebi as indicações, mas não aceitei porque não achei correto. Não aceitar indicações me desgastou no PMDB.

Foi esse desgaste que impediu que o senhor fosse reconduzido ao cargo no governo Dilma?

Não sei bem, acho que foi uma opção da presidente, que resolveu manter o nome que me sucedeu. Não quero entrar nesse mérito.

E o desgaste persiste?

Persiste. Mas não só por essa razão, por outras também.

O senhor tem uma atuação muito forte atualmente na Comissão de Agricultura da Câmara, mas não tem sido muito prestigiado na relatoria de projetos importantes. É um resquício desse atrito?

O que depende da minha atuação pessoal eu consigo fazer e tenho uma participação realmente forte. No que depende da atuação institucional partidária, da distribuição dos líderes, aí evidentemente minha atuação ficou comprometida.

Um relatório recente do Tribunal de Contas da União fala em descontrole nos gastos do ministério. O senhor concorda?

Mecanismos de controle interno existem e são muitos. Resta saber se eles estão sendo bem ou mal utilizados.

Por que há tantas denúncias a respeito de desvios na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)?

Acho que isso ocorre pela falta de profissionalização da Conab. Ela tem de ser um órgão como os anteriores, como a extinta Comissão de Financiamento da Produção. Esse era um órgão altamente profissional, sem ingerência política.

O ex-diretor financeiro da Conab, Oscar Jucá Neto, disse à revista Veja desta semana que o ministério da Agricultura só tem "bandidos". O que o senhor achou da declaração?

A declaração me surpreendeu porque a palavra que ele escolheu é muito forte. Não conheço os detalhes da entrevista e das razões que fizeram ele dar essa declaração. De qualquer forma, trata-se do irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Se foi indicado por ele, parte-se do princípio que seria uma pessoa capaz. Ou foi mal escolhida.

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