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A eleição para governador mais apertada da história do Paraná foi movida pelo assistencialismo, na opinião do ex-ministro Euclides Scalco (PSDB). "Essas propostas assistencialistas que ele [Roberto Requião, PMDB] pôs em prática foram que lhe deram a reeleição", disse o tucano, que foi o coordenador político da campanha de Osmar Dias (PDT) ao governo do estado.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Scalco afirmou que a vitória por pouco mais de 10 mil votos – diferença inferior ao eleitorado de um bairro de Curitiba – mostrou que parte da população do estado não concorda com o atual estilo de governo. "É preciso encontrar alternativas. Nessa campanha, seja nacionalmente ou no estado, ficou um divisor, o país dos pobres e dos ricos, dos assistidos e dos que querem mudanças."

Embora tenha saído derrotado da campanha, Scalco disse que se sente vitorioso. "O resultado foi ótimo, principalmente para a oposição", afirmou. Com 57 anos de carreira política, Scalco já começa a pensar no futuro. Passadas as eleições, o tucano prepara o terreno para que os oposicionistas de hoje, tanto no Paraná quanto no Brasil, estejam no governo em 2010.

Como o senhor avalia estas eleições para o governo do estado, a mais disputada da história paranaense?

Avalio como uma eleição excelente, o resultado foi ótimo, principalmente para a oposição. O Osmar (Dias) nunca havia tido uma participação efetiva em uma campanha. Ele só havia disputado o Senado e, quando se briga para ser senador, vai no vácuo dos candidatos ao governo. Desta vez, ele teve contato ainda maior e mais expressivo com as bases, ou seja, pôde se inserir nas bases, junto à população. O Osmar se tornou conhecido. E isso porque ele visitou apenas mais de 80 municípios, uma vez que começou tarde a campanha, em 21 de junho. Ele foi aos maiores municípios. E perdeu justamente nos pequenos, pois não houve tempo par ir a todos. Imagine se tivesse conseguido ir.

Como é, para o senhor, trabalhar em uma campanha eleitoral?

É maravilhoso. Sempre podemos conhecer ainda mais o estado, o país e o candidato. Desta vez pude conhecer melhor o Osmar Dias e ver o caráter e a ética que ele tem. Foi uma participação com muita vontade.

O que representou, efetivamente, esse resultado tão apertado, de apenas 10.479 votos de diferença?

Representou que o Osmar conseguiu superar, mesmo com as dificuldades de se chegar às bases, os programas requianistas, como a isenção da micro e pequenas empresas, o do leite, da luz e da água, ou seja, a proposta assistencialista que o Roberto Requião (PMDB) pôs em prática. A eleição mostrou que, embora pudesse haver uma aprovação desses programas, não se concorda com a prática.

Essa foi uma eleição de Osmar Dias contra Requião ou de Requião contra ele próprio?

Olha, com certeza não foi só voto a favor do Osmar. Houve também, e muitos, a favor dele. Mas foi um recado para o Requião refletir bem. O estilo dele de governar é deficitário.

O que o senhor considera que possa ter feito a diferença a favor de Roberto Requião?

Primeiro, os programas assistencialistas. Essas propostas assistencialistas que ele pôs em prática foram que lhe deram a reeleição. Depois, a coerção, a pressão e a cooptação de todas as formas sobre todas as pessoas, principalmente sobre os prefeitos. Faço política desde 1960 e, nem na ditadura senti pressão dessa ordem.

O senhor falou em programas assistencialistas. Mas devido à carência e pobreza em que vivem os brasileiros, essas propostas não são necessárias?

São, têm de existir, mas com contrapartida. Outro dia, um amigo esteve no Nordeste e muitos lá não querem trabalhar porque se o fizerem, perdem os auxílios do governo. É preciso criar frentes de trabalho. Não dá para se criar uma geração de assistidos. O negócio é não dar só o peixe, mas ensinar a pescar. Os atuais governos do estado e federal são assistencialistas e, pior, usam isso eleitoralmente. Isso não é um bom destino. Não se pode fazer apologia ao assistencialismo eleitoral. É preciso encontrar alternativas. Nessa campanha, seja nacionalmente ou no estado, ficou um divisor, o país dos pobres e dos ricos, dos assistidos e dos que querem mudanças. E isso é grave.

O que é preciso, politicamente, fazer para que sejam obtidas as mudanças?

As forças políticas têm de se recompor. Os partidos têm de estar organizados nos estados e tem de se buscar novamente a militância. O PT teve o condão de desmotivar os partidos. Hoje há apenas grupamentos de interesses. Nas próximas campanhas, tudo dependerá se os partidos vão se estruturar. É preciso haver diretórios definitivos nos estados e municípios, com quadros arregimentados. Não é possível que partidos como o PFL, PP, PSDB e PDT não tenham diretórios municipais em Curitiba. Isso é inconcebível. As lideranças têm de ajudar.

E além da força dos pertencentes aos partidos, o que mais pode ajudar nesta organização?

A reforma política tem de ser aprovada o mais rápido possível. Assim, essa cooptação partidária acaba. Tem de haver a fidelidade partidária nesta reforma política. E tem de haver a impossibilidade de alianças nas eleições proporcionais, para deputados estaduais e federais. As dobradas entre candidatos só podem ocorrer dentro dos próprios partidos. Cada partido tem sua legenda. Aliança só na eleição majoritária. E essa reforma política tem de acontecer logo em 2007.

E como ficam as eleições em 2010?

Não dá muito para pensar já em 2010. O Osmar é um novo líder político no Paraná, somado ao Beto Richa (PSDB). Hoje temos no estado, portanto, dois partidos de oposição e duas lideranças importantes de oposição. O importante e fundamental é que o Beto e o Osmar continuem juntos até 2010. Eles não podem se separar para não dar oportunidades para o adversário.

Mas o Requião também é uma liderança forte?

Sim, mas não tem sucessor. Ele teria de preparar uma nova liderança apoiada por ele, o que é pouco provável. Mas só o tempo dirá. Agora, a "Era Requião" tem um prazo de validade, que é 2010.

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