Cesar Zucco: mudanças pontuais podem ser mais eficientes que um grande projeto de reforma| Foto: Divulgação

Reforma política não é solução mágica para todos os problemas do país. É o que defende o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Cesar Zucco: em vez de um grande projeto, seria melhor realizar mudanças pontuais. Para ele, coligação partidária, tempo de tevê e financiamento de campanhas seriam as principais modificações que poderiam conferir avanço ao sistema político brasileiro. "Todo mundo fala em grandes mudanças, mas muitas delas trariam consequências que não pensamos agora. Toda escolha terá aspectos positivos e negativos", comenta. Confira trechos da conversa de Zucco à Gazeta do Povo .

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Um dos grandes temas das eleições neste ano foi a corrupção. Alguma medida adotada em uma possível reforma política seria capaz de coibir ou minimizar o problema?

O fim da corrupção é o objetivo de todo mundo. Mas não existe uma reforma que garanta este objetivo. Não tem ‘canetada’ que vá acabar com a troca de favor ou favorecimento. Sempre se fala em grandes mudanças que seriam capazes de transformações, mas algumas das mudanças mais defendidas poderiam gerar outros problemas que a gente não pensa agora. Na Inglaterra, por exemplo, o voto é distrital, mas há uma antiga discussão sobre transformá-lo em proporcional [sistema adotado no Brasil]. Em todo o lugar do mundo se fala em mudar o sistema eleitoral, porque todos têm prós e contras.

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Qual é o maior entrave para o sistema político adotado no Brasil funcione melhor?

Nós temos um problema com o financiamento de campanha, que aceita doações de empresas. Existem várias soluções possíveis, mas vários modelos têm problemas. Até países com menos corrupção, como a Alemanha, já tiveram escândalos relacionados ao financiamento de campanha. Uma solução seria limitar ou proibir a doação por parte das empresas. Mas aí corre o risco de ter caixa dois ou as empresas podem, por exemplo, financiar um grupo em prol do candidato sem necessariamente admitir a campanha. Haveria as doações ilegais. Mas se proibir completamente, a tendência é dificultar a vida da oposição, porque com menos dinheiro era capaz que o governo ganhasse sempre. Faz sentido querer diminuir os custos e limitar os gastos, mas ainda não existe uma fórmula pronta. Algo que está sendo discutido nos EUA, por exemplo, é que a doação venha de pessoas físicas e com um teto. O candidato teria que levantar o dinheiro com as pessoas e a parte do fundo partidário que receberia seria correspondente àquilo que o candidato conseguiu arrecadar. Assim, os políticos teriam que convencer as pessoas a doar para a campanha. A ideia é que nenhum doador teria mais influência que outro. Essa é uma possibilidade.

Na sua opinião, qual é a principal mudança mais palpável a curto prazo?

Eu advogaria fortemente pelo fim da coligação na eleição proporcional e o fim da possibilidade de que esses partidos somassem tempo para o horário eleitoral. Temos muitos partidos pequenos que acabam sendo apenas ferramentas: eles trocam o tempo de tevê por cargos ou pela oportunidade de eleger um representante. Usam o tempo de tevê como barganha e se não puder ser somado e, a médio prazo, esses partidos que são só ferramentas e não representam de fato um setor da sociedade acabariam deixando de existir.

Muita gente defende o voto distrital. Qual é a sua opinião sobre esse sistema?

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Com relação a isso, sou muito mais reticente. Se por um lado aproximaria o eleitor dos deputados, do ponto de vista geográfico, por outro, tende a reduzir representação de minorias, que não conseguiriam se manter com votos dos distritos. Outro problema seria desenhar e remapear os distritos sempre que é feito um censo da população. Nos EUA isso é um grande problema. Quem já está eleito é responsável por redesenhar os distritos, mas não farão nenhuma mudança que os prejudique. Se aqui não conseguimos nem atualizar número de deputados por estado, o mapa dos distritos tende a ser um problema.

No Brasil, há alguma mudança que está próxima ou que seja possível efetivar?

As pessoas que têm de aprovar qualquer mudança são as que foram eleitas pelo sistema atual. Não precisa ser nenhum gênio para entender que é difícil. Mas agora há certo clamor da sociedade e é interessante que o governo parece estar disposto a discutir o fim da reeleição. Isso até nem é o mais urgente, mas pode ser moeda de barganha para chegar a um consenso sobre o limite no financiamento das campanhas. Se isso acontecesse, estaríamos em grande vantagem e parece que temos mais chances que em outras vezes.