Curitiba – Para o especialista em marketing político Marco Iten, que conhece os bastidores das eleições desde a década de 70, a proposta que limita o financiamento das campanhas a R$ 7 por eleitor é impraticável. "O maior custo da campanha presidencial é a estrutura que precisa ser montada em toda cidade de referência. Não há como abrir mão dela", diz o marqueteiro, que atuou nas duas campanhas que elegeram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. De São Paulo, onde oferece cursos rápidos para assessores de campanha eleitorais, ele disse que a simples redução dos financiamentos não vai diminuir as despesas na mesma proporção.

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Gazeta do Povo – Qual a repercussão da proposta de financiamento público entre os profissionais que realizam as campanhas?

Marco Iten – Em primeiro lugar, quero deixar claro que sou contra essa proposta, porque é mais uma enganação que parte de um projeto pseudomoralista. Não há nenhuma capacidade de fiscalização. A Lei que está sendo redigida jamais será aprovada se prejudicar os parlamentares. Defender o projeto como solução para se evitar a prática de caixa 2 é tentar enganar a opinião pública. Se o projeto for aprovado, além do caixa 1 e do caixa 2 que existem hoje, os candidatos terão mais uma fonte de recursos.

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– Haverá uma redução dos investimentos em marketing e propaganda?

– Eu acredito que só 2% das campanhas são feitos com investimento em marketing político sério. O setor tende a crescer, até pela dificuldade que os políticos terão para convencer os eleitores a partir de agora. Qualquer campanha que simplesmente investir alto em publicidade será mal vista pelos eleitores. Mas o interesse das grandes empresas em investir não vai desaparecer. A campanha vai custar, no mínimo, os mesmos valores da última eleição. Isso considerando que muitos políticos com mandato vão basear suas campanhas na própria experiência. Eles direcionam o capital disponível de acordo com critérios subjetivos.

– O descrédito da população tende a reduzir os investimentos em publicidade?

– Vamos encontrar a população revoltada com as campanhas caras. Vamos ter seguramente rejeição a grandes shows, montados para mostrar falsa popularidade. Mas o político sem conhecimento ainda acha que o papel, o santinho, o cartaz, o muro pintado, o comício, enfim, a campanha pirotécnica, sempre funciona. O investimento não vai cair. O maior custo da campanha presidencial é a estrutura que precisa ser montada em toda cidade de referência. Não há como abrir mão dela.

– Não há como reduzir os custos então?

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– Existem formas de racionalizar os custos. Você pode evitar erros e economizar, mas quem quer fazer campanha não tem como evitar despesas. Esses números simplesmente não tem relação com o real. A redução do financiamento (a cerca de 10% dos gastos da última campanha) não vai diminuir as despesas na mesma proporção. Não acredito nos números.

– E as empresas realmente vão querer investir, mesmo que seja proibido?

– A predisposição dos financiadores vai ser outra, mas não vai desaparecer. É claro que todos terão maior cuidado com investimentos, oficial ou em caixa 2. Ninguém quer seguir o exemplo dos Correios e acabar até em páginas policiais. A empresa pública mais bem avaliada do Brasil vai levar anos para recuperar sua imagem. As grandes empresas têm interesse em manter relacionamento com os candidatos a presidente do país. O dinheiro vai aparecer de alguma forma.

– Por que custa tanto montar uma campanha?

– A maior parte se gasta nos municípios. É preciso montar uma estrutura em cada lugar, mobilizar deputado federal, deputado estadual, prefeito. Para se vencer, é necessário que, em cada município, haja uma operação. Os gastos em transporte também são altos. O candidato a presidente precisa viajar o país inteiro. É preciso avião à disposição durante meses para a equipe. Muitas vezes, o candidato percorre três estados num mesmo dia. Não tem outro jeito.

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– Toda a reforma política pode estar viciada então.

– A proposta que vai dar aos partidos o poder de definir a lista dos candidatos é outra malandragem sem tamanho. Quem dirige o partido vai estar no topo da lista e seus amigos, logo atrás. O eleitor vai votar no partido e não terá como eleger quem ele quer. É o mesmo que implantar a ditadura partidária. Sem reformas profundas, a legislação continuará concentrando poder nas mãos das mesas executivas dos partidos.

– Como é seu curso para assessores de campanhas?

– No Brasil, faltam profissionais qualificados, que realmente saibam o que fazer nessa área. Falamos de todo o processo. Até os políticos procuram. Eles querem saber o que exigir de um assessor de campanha. A frustração dos eleitores vai incentivar a profissionalização nessa área.