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O episódio do aumento dos salários dos deputados é mais um capítulo da história de um Brasil fracassado e sem perspectiva, na visão do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB). O parlamentar, que chega ao quinto mandato, critica o posicionamento dos colegas, mas destaca que a culpa pela indisposição com a sociedade é do Congresso como um todo. Por outro lado, afirma que a discussão é menos relevante do que o pequeno crescimento econômico do país. "Estamos dentro de um sistema esgotado, que não consegue produzir crescimento nem distribuição de renda", dispara o deputado.

O senhor costuma dizer que o Congresso é refém do Poder Executivo. De onde vem essa relação?

A manipulação do Palácio do Planalto é muito forte. E nesses últimos anos, só aumentou. O governo começou essa história com o mensalão. Havia um processo de corrupção entre os dois poderes, mas o ônus foi transferido só para cima do Legislativo. Não conseguimos reagir ao bombardeio e isso é ruim para todo mundo. Temos de ter independência, dentro do princípio de democracia. Quanto mais bombardeados formos, mais enfraquecido o país vai estar.

Há como recuperar a imagem dos deputados depois da reação ao aumento salarial?

Esse episódio faz parte de mais uma trama elaborada pelo Palácio do Planalto. O Congresso caiu que nem pato, patrocinado pelos líderes da maioria dos partidos que decidiram isso entre eles. Só que o Legislativo inteiro acabou sucumbindo. Não coube outra alternativa, a não ser recuar, porque a indisposição com a sociedade cresceu demais. Eu havia prevenido que qualquer aumento que fosse dado acima da inflação não deveria ocorrer, a não ser que fosse bem explicado. Iria dar motivo para confusão.

O senhor foi ouvido?

Não me ouviram. Parece-me que, olhando para o conjunto da obra, para a relação do presidente com a sociedade, que ele pretende apenas tirar o foco do Palácio para outros problemas. Temos um crescimento econômico pífio. O Brasil está na rabeira dos países em desenvolvimento e não consegue se libertar do atual modelo político. Estamos dentro de um sistema esgotado, que não consegue produzir crescimento nem distribuição de renda. E esta minha crítica extrapola o atual governo e vai até os anos 80, quando o Brasil começou a declinar. E vem declinando cada vez mais.Então somos um país fracassado?

Fazemos parte de uma geração fracassada porque não vamos ver o Brasil chegar ao Primeiro Mundo. Não corrigimos as distorções. O pouco que foi feito nos últimos anos foi o aumento real do salário mínimo. Além disso, só os funcionários públicos saíram ganhando. Em 1994, os gastos com funcionalismo eram de R$ 22 bilhões por ano e hoje chegam a R$ 110 bilhões. Mas ficamos nisso. O atual modelo, reafirmo, é falido. É um modelo que não conduz o Brasil para o desenvovimento. Na verdade, temos um país que funciona mais ou menos.

Que lição o aumento deixa para o próximo mandato do Congresso?

Acabou, não tem mais que discutir esse assunto. A sociedade rejeitou o aumento com toda força que dispunha, e o Congresso se saiu muito mal. O curioso que essa foi uma decisão dos líderes, não de todos os deputados. Mas não podemos tirar a nossa culpa. Aí não tem mocinho, todos nós pagamos a conta. Só que eu repito: o enfraquecimento do parlamento tira toda a atenção de temas ainda mais importantes. Deveríamos estar discutindo o crescimento ridículo da economia, mas estamos discutindo os salários. Porque o parlamento não corresponde ao que a sociedade espera. A população com justa razão se insurgiu. Cabe a nós aceitar a crítica, tomar posições concretas para o futuro. Errar é humano, mas e daí? Agora a gente tem de tomar uma posição mais firme, resoluta, para ver se muda essa situação.

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