A presidente Dilma Rousseff decidiu seguir recomendação de peemedebistas governistas e anunciou que não fará qualquer mudança ministerial antes da votação do impeachment no plenário da Câmara dos Deputados.
A possibilidade era avaliada desde a semana passada pela petista e foi tomada após o PR e o PP informarem ao Palácio do Planalto na segunda-feira (4) que ainda há dissidências internas nas bancadas dos partidos na Câmara para que aumentem seus espaços na Esplanada dos Ministérios.
O adiamento, no entanto, apesar de garantir o apoio de setores peemedebistas contra o impeachment, é avaliado como arriscado por assessores presidenciais, para os quais ele pode estimular traições dentro do PP e do PR.
Novas eleições
Perguntada sobre a proposta do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) de fazer eleições gerais em outubro, a presidente ironizou, dizendo que os parlamentares têm de abrir mão de seus cargos antes. Dilma afirmou também que a proposta do peemedebista não passa de uma “proposta”.
“Essa proposta, como várias outras, são propostas. Eu acho que é uma proposta. Convença a Câmara e o Senado a abrir mão de seus mandatos. Aí vem conversar comigo.”
“O Palácio do Planalto não pretende transformar qualquer reestruturação ministerial antes de qualquer processo de votação na Câmara. Nós não queremos mexer em nada atualmente”, disse a presidente, após visita a um avião de carga da Embraer.
Ela afirmou ainda que o Ministério da Educação “não está em questão” no varejo de cargos para barrar o processo de afastamento e avaliou a possibilidade como uma “especulação”.
A oferta da pasta ao PP chegou a ser avaliada pelo Palácio do Planalto como uma possibilidade de manter o peemedebista Marcelo Castro à frente do Ministério da Saúde, uma reivindicação feita pela bancada do PMDB na Câmara para garantir de 20 a 25 votos contra o impeachment.
Críticas
Dilma ainda afirmou que “nenhum governo conseguirá governar o Brasil se não tiver um pacto pelo diálogo, pela estabilidade, se não respeitarem as regras do jogo”. “A hora que desrespeita a regra de um jogo você desrespeita o próprio jogo democrático. É isso que está em questão neste momento.”
A petista disse que, desde o início do seu primeiro mandato presidencial, “tentam construir mecanismos” para tirá-la do governo. “Primeiro, foi o pedido de recontagem de votos. Depois, falaram que as urnas tinham problemas e não apareceu problema nenhum. Depois tentaram construir mecanismos para me retirar do governo. Um é esse do impeachment, com as pedaladas fiscais de 2015, que não foram julgadas nem pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nem pelo Congresso”, afirmou, lembrando ainda do questionamento sobre as contas de campanha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Acham que, ao tirar um governo legitimamente eleito, esse país vai ficar tranquilo, vai ter pacificação. Não é. Quando você rompe um contrato dessa magnitude, que é base do presidencialismo, que me deu 54 milhões de votos, você rompe contratos em geral. Você rompe a base da estrutura democrática do país”, disse a presidente.
Dilma lembrou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a prever em relatório, no final do ano passado, que o Brasil passaria mais rapidamente pela crise. “Mas isso não se deu e se atribui uma parte disso à instabilidade política. Isso precisa levar em conta”, comentou.
Perguntada se o país podia passar por um convulsão, ela disse que não, que o Brasil não está mais nessa época. “Mas, a instabilidade pode permanecer de forma profunda e extremamente danosa. Quando você de fato tem responsabilidade com o país, você não cria tumulto desnecessário. Não cria tumulto sem base. Precisa abrir o diálogo. O governo está inteiramente disposto a abrir o diálogo”, disse.
A presidente criticou ainda os que pensam que programas como o Bolsa Família beneficiam uma parcela pequena da população. “Não dá para a população de classe média alta achar que o Bolsa Família beneficia poucos”. Ela lembrou ainda que o país tem uma riqueza chamada “mercado interno”.
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