Pai de uma jovem assassinada brutalmente, Ari Friedenbach evitou nesta quarta-feira (7) depôr na presença de um dos acusados do crime. Antes de falar sobre os últimos momentos com a filha, ele pediu para que fosse retirado da sala o réu Paulo César da Silva Marques, o Pernambuco, acusado de ter participado do seqüestro e assassinato da jovem Liana Friedenbach e do namorado Felipe Caffé.
"Não quero ver ele na minha frente em hipótese nenhuma. Eu tenho certeza de que eu vou perder a lucidez se isso acontecer", disse o pai. Segundo Friedenbach, em seu depoimento ele falou sobre a relação de Liana com a família, com Felipe e como era o contato da família com o namorado. Além disso, relatou os momentos dela antes da viagem.
O crime ocorreu há quatro anos em um acampamento na região de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo. Ele disse que foi difícil falar sobre a filha. "Foi pesadíssimo, muito difícil, muito desgastante, muito triste", afirmou. Em relação à nova versão do acusado sobre o crime, que negou ter cometido o assassinato em depoimento, o pai da vítima disse que "é uma técnica suicida da defesa porque não sobra o que defender".
Questionado, ele se mostrou descrente sobre a sensação de que justiça será feita ao fim do processo. Segundo ele, mesmo que o acusado seja condenado a 150 anos de cadeia, ele só poderá ficar preso por 30 anos de acordo com a legislação brasileira. Ele lembrou ainda que o réu poderá receber benefícios penais antes deste tempo. "Eu jogo a pergunta para vocês (jornalistas): isso é fazer justiça?"
'Não daria um tapa nele'
A mãe de Felipe, a auxiliar de enfermagem Lenice Silva Caffé, também pediu para que o réu não estivesse presente durante seu testemunho de acusação. Ela disse ao juri como era sua relação com Felipe. Questionada sobre qual seria sua reação ao ver Marques, ela afirmou que não o agrediria. "Eu jamais moveria meu braço para dar um tapa nele. Não quero vingança, só justiça, pura e simples", disse. "Só quero dormir com a certeza de que pelas mãos dele outras famílias não passarão pelo que eu passei."
Das duas testemunhas de defesa de Marques, uma delas, seu irmão, cujo nome não foi divulgado, se recusou a falar no tribunal. Segundo os advogados do réu, isso aconteceu porque o irmão do acusado não teve condições emocionais.
De acordo com a assistente de acusação, Carla Domenico, contratada pela família de Liana, a outra testemunha de defesa, que era um homem que contratou os serviços de pintor de Marques, admitiu ter ouvido do acusado que ele tinha ido caçar com Champinha no final de semana que aconteceu o crime.
Para Carla, o fato de o acusado ter negado a autoria dos assassinatos durante o julgamento é uma "versão mentirosa criada na última hora". Ela diz que as investigações foram feitas de forma limpa e que, na época da reconstituição do crime, ele relatou tudo que havia feito. Uma das advogadas da defesa, Patrícia Ramunni, disse que em nenhum momento a defesa orientou o ré a negar os fatos. Depoimentos
As testemunhas de acusação foram ouvidas entre 18h e 21h30 desta quarta feira (7). Marques deixou a Câmara Municipal de Embu-Guaçu, onde ocorre o julgamento, por volta das 21h40 e foi levado para passar a noite na Cadeia Pública de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Segundo o advogado de defesa e uma assistente de acusação, foi feito um acordo entre as partes para que não fosse lido todo o processo e as testemunhas pudessem ser ouvidas ainda nesta quarta-feira. Em compensação, o tempo do debate entre acusação e defesa foi ampliado em uma hora. Cada lado teve três horas para argumentar diante do júri.
A assistente de acusação de Caffé, Andréa Zuppo Franco, classificou de "cara de pau" a nova versão do crime apresentada por Marques. "Ele se contradisse em todo o depoimento. Primeiro disse que não tinha visto nada, depois admitiu que havia passado um dia com os jovens e que viu Champinha estuprar Liana e que viu o Felipe morrendo", afirmou.
Marques é acusado de homicídio duplamente qualificado contra Felipe e triplamente qualificado contra Liana, além de ter cometido os crimes de estupro, seqüestro e cárcere privado.
No total, cinco pessoas são acusadas de participação no seqüestro e no assassinato de Liana e Felipe. Pernambuco é o quarto a ser julgado. O quinto envolvido, considerado o mentor do crime, é conhecido como "Champinha". Ele era menor de idade, na época, e está internado em uma unidade da Fundação Casa. Três deles já foram condenados em julho do ano passado, cujas penas, somadas, chegam a 169 anos de prisão.
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