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Em um discurso repleto de ataques a vários setores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (23) que está disposto a continuar na vida política e que resolveu voltar a deixar as unhas crescerem já que a presidente Dilma Rousseff é alvo de preconceito de conservadores. Numa fala de mais de uma hora durante Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, em Brasília, o ex-presidente disparou reclamações contra as manifestações, o PMDB --principal aliado do governo--, a oposição e a imprensa.

"Eu acho que a gente tem que dizer que a Dilma não é nada mais do que uma extensão da gente lá. Nós somos responsáveis pelos erros e acertos. Portanto, o que a gente percebe é que mais uma vez os setores conservadores começam colocar as unhas do lado de fora e eu, que já estava cortando as minhas com os dentes, vou deixar a bichinha crescer", afirmou arrancando aplausos da plateia.

Em meio à pressão de parte dos aliados para que volte ao governo, Lula disse que está disposto, mas defendeu a gestão de Dilma. "Eu não fiz tudo que fiz na vida para agora achar que estou errado, estou mais motivado. E se alguém pensar que lulinha está com 67 anos já pegou câncer, eu não tenho tempo para parar e não preciso ser governo para fazer as coisas nesses país. Vou continuar incomodando, falando ajudando a companheira Dilma", completou.

Questionado sobre o "volta Lula", ele disse que "não existe essa possibilidade". "Eu, se pudesse, ia votar a jogar bola, mas o Felipão acho que não está me olhando com bons olhos."Também minimizou eventuais divergências com a presidente. Segundo o petista, sua sucessora sofre mais preconceito do que ele no Planalto. "Tentaram fazer a Dilma diferente do Lula. Tentaram criar uma divisão entre nós. Ela deu um chega para lá. Depois tentaram sempre mostrar diferença, mas depois que viram que não tinham, eles estão com preconceito contra ela maior do que tinham contra mim, maior falta de respeito, uma mulher da qualidade da Dilma."

Lula saiu em defesa de parte das propostas lançadas por Dilma em resposta às manifestações de junho e rebateu às críticas das classe médica contra o programa Mais Médicos, que prevê a importação de profissionais para atuar no interior e na periferia do país."É preciso melhorar a saúde, sim. Se os médicos brasileiros não querem trabalhar no sertão, que a gente traga médicos de fora. Ninguém quer tirar emprego de ninguém. Longe de mim tirar emprego de médico brasileiro, mas o que quero é dar emprego em lugar aonde não tem médico", disse.

Ele exaltou a concessão de novos direitos trabalhistas aos trabalhadores domésticos. "Eu, na verdade, acho que nós só vamos ter um país justo quando a gente não tiver empregada doméstica".O ex-presidente não poupou nem mesmo o principal aliado do governo, o PMDB. Sem citar o nome, ele atacou a proposta defendida pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), de redução do número de ministérios."Quem tem que mexer é a Dilma e eu acho que a Dilma não vai mexer. [...] Fiquem espertos porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda, Defesa. Eles vão tentar mexer na Igualdade Racial, nos Direitos Humanos", afirmou.

Lula elevou a Esplanada dos Ministérios de 24 para 37 pastas. Dilma criou duas pastas: Secretaria de Aviação Civil e o Ministério da Micro e Pequena Empresa.Lula se referiu por algumas vezes à imprensa, todas em tom crítico. O presidente voltou a dizer que era vítima de "maldade" e "preconceito" e insinuou que parte da mídia não deu destaque ao tratamento afetuoso do papa Francisco em relação a Dilma.

O ex-presidente negou desgaste na relação de Dilma com o PT. No fim de semana, a presidente faltou reunião do comando do partido e recebeu críticas. "Eu não sei quem descobre umas divergências que não existem. Eu fui presidente da República e muitas vezes não pude ir a uma reunião do diretório do PT e nem por isso teve divergência. O PT apoia 150% a presidenta Dilma, se precisar 200%. Não há hipótese de ter divergência que não possa ser superada. Se tiver alguma coisa, será discutido entre o partido e a presidenta", afirmou.

Inflação

O petista disse ainda que o governo está atento, mas precisa fazer um esforço monstruoso sobre inflação.

"A inflação é o mal a ser extirpado da política econômica brasileira. Tenho certeza que a presidenta Dilma pensa exatamente isso, o ministro Guido pensa exatamente isso. Temos que fazer um esforço monstruoso da sociedade e do governo para não permitir que a inflação tenha qualquer sinal de volta", disse.

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