A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pretende se dedicar a campanha eleitoral a partir do final de março| Foto: Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Brasília - Com cabelos curtos e mais sorridente, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fará de tudo para desarrumar o ninho tucano. Na tentativa de demonstrar que não é apenas "técnica", com carreira construída no Rio Grande do Sul, a candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai lembrar que é mineira, nascida em Belo Horizonte, e cumprirá "agenda afetiva" no segundo maior colégio eleitoral do País.

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O comando petista já prevê extenso roteiro de lembranças para a ministra, na região das Alterosas, assim que ela deixar o governo, no fim de março ou início de abril, para se dedicar à campanha. Dilma vai visitar, por exemplo, a escola onde estudou, além de amigos e parentes que moram em Belo Horizonte, como sua mãe e a tia. A ex-guerrilheira formada em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encontrará velhos conhecidos, como o companheiro que escreve um livro sobre sua vida.

Além de ser um celeiro de votos, Minas é o Estado administrado pelo tucano Aécio Neves, que desistiu da candidatura ao Palácio do Planalto após queda de braço com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Certa de que Serra será seu mais forte adversário - e que Minas terá peso fundamental no resultado do campeonato -, Dilma fará um contraponto ao PSDB nas duas principais praças do partido.

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Antes disso, o mais importante fato político da campanha da ministra - que retorna de férias amanhã - será o 4.º Congresso Nacional do PT, de 18 a 21 de fevereiro, em Brasília. É nesse megaencontro, com 1,5 mil dirigentes e convidados internacionais, que a gerente do governo será aclamada candidata do PT na primeira eleição presidencial disputada pelo partido sem Lula na cédula.

CAFÉ COM LEITE - O congresso petista vai aprovar a plataforma de Dilma - embalada pelo mote do "novo desenvolvimentismo" - e a aliança que terá o PMDB como vice da chapa.

O presidente da Câmara, Michel Temer (SP), é cotado para fazer dobradinha com ela por ser de São Paulo - o maior colégio eleitoral, onde o PT nunca consegue ultrapassar a barreira de 30% dos votos - e por comandar o PMDB. Há, porém, petistas que preferem a composição com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, também do PMDB e pré-candidato ao governo de Minas. Corre por fora o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, recentemente filiado ao partido.

A primeira aposta do PT é numa chapa café com leite, formada por São Paulo e Minas. É nessa configuração que Dilma aparece como a "candidata mineira". Embora Lula ironize a possível montagem de chapa puro-sangue entre Serra e Aécio, sob o argumento de que uma dupla de "Tostões" nem sempre se sai bem no mesmo time, o governo teme a união do PSDB nos dois Estados contra Dilma.

Não é à toa que a chefe da Casa Civil iniciará sua maratona de fim de semana por São Paulo. O PT pretende levá-la no sábado a Santo André, Diadema e Mauá. "Queremos intensificar a campanha da ministra na capital, principalmente nas zonas Leste e Sul, e também no interior", afirmou o presidente do PT paulista, Edinho Silva.

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AVALANCHE - A propaganda do governo Lula também terá mais destaque em São Paulo, onde a popularidade de Dilma deixa a desejar. "Falta potencializar os investimentos do governo federal, que somam mais de R$ 100 bilhões no Estado", disse Silva. "Existe uma avalanche de publicidade da gestão Serra que omite a presença da administração Lula."

Na Bahia, único Estado onde a ministra ultrapassou Serra até agora, o problema reside na construção do palanque para sustentar sua candidatura. Lá, a base aliada continua dividida: de um lado está o governador Jaques Wagner (PT), que vai concorrer à reeleição e, de outro, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB).

"Eu disse ao presidente Lula para não pôr a Bahia na lista dos problemas", amenizou Wagner. "Fiz todo o esforço para a aliança com o PMDB e até ultrapassei o limite da razoabilidade. Para casar é preciso a vontade de dois, mas, para brigar, só de um. Então, não tem trauma." Geddel, por sua vez, garantiu que também apoiará Dilma. "Na Bahia haverá dois palanques para ela. Isso está decidido", insistiu o ministro.

Lula, porém, não está gostando nada da ideia de ir a dois palanques. "Parece fácil no papel, mas é sempre complicado fazer isso", reclamou ele, no fim do ano passado. "Na prática, você não tem como fazer dois discursos diferentes e pedir votos para dois candidatos".

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