Em entrevista coletiva convocada ontem pela manhã, o prefeito Nedson Micheleti (PT) negou todas as acusações feitas na véspera pela ex-assessora, Soraia Garcia, que acusou a existência de um caixa dois de R$ 6,5 milhões na campanha eleitoral que o reelegeu no ano passado. Ele também chamou para si a responsabilidade sobre "qualquer questão desta campanha".
O prefeito considerou absurdo o valor do suposto caixa dois denunciado pela ex-assessora do PT. "Ela (Soraya) tem falado em campanha de R$ 6 milhões. Isso é campanha de governador, não é campanha de prefeito. É impossível se levantar um volume deste", justificou.
Nedson apresentou nota fiscal da única doação à campanha feita pelo diretório do PT nacional, de 20 mil camisetas orçadas em R$ 85 mil e que consta na prestação oficial do partido. O material teria sido adquirido em uma unidade da empresa Coteminas, com endereço no distrito industrial de Macaíba (RN).
O prefeito também garantiu que irá colaborar com as investigações da Polícia Federal, que ontem abriu inquérito sobre o caso. "Vou esclarecer. Sou o primeiro interessado em esclarecer. Imagina o povo de Londrina, que votou em mim, que confiou em mim, e agora vem uma questão como essa. Eu quero esclarecer até a última linha. Não pode pairar uma dúvida deste porte sobre mim".
Em relação à postura de seu irmão, Nilton Micheleti, que teria dado apoio à ex-assessora, Nedson se esquivou. "É uma questão mais de relação familiar e não vem ao caso. E meu irmão acompanha a pessoa que quiser".
Gazeta do Povo Como o senhor avalia as denúncias de caixa 2 em Londrina?Nedson Micheleti Como já aleguei em nota oficial, na minha campanha nós registramos todas as despesas que tivemos. Essa é minha determinação, não só nesta campanha. Sempre foi minha prática em qualquer campanha política. E até por isso nós tivemos essa despesa de R$ 1,3 milhão. Inclusive nossas dívidas, mais de R$ 200 mil que ficamos devendo, também está registrada na nossa prestação de contas. E nós estamos apresentando todos esses dados. Hoje sou eu quem mais tem interesse de que tudo aquilo que foi falado pela senhora Soraia seja apurado, investigado. Essa é minha determinação, inclusive para as pessoas que têm relação comigo na campanha e no partido. A determinação para que tudo seja apurado, detalhado e, na maior transparência, ajudando a Polícia Federal, ajudando a Justiça para que mostrem claramente que na minha campanha não tem nada disso que esta senhora está falando.
Na sua opinião, o que motivou as denúncias da ex-assessora? Não sei te dizer o que motivou a ação dela. Ela tem falado em campanha de R$ 6 milhões. Isso é campanha de governador, não é campanha de prefeito. Se tivéssemos uma movimentação financeira deste porte não passaríamos o sufoco que nós passamos no final da eleição, quase perdendo para o adversário (Antonio Belinati PP). Na reta final é que conseguimos superar. Se tivesse um dinheiro desse, imagina que campanha teria sido feita. É impossível de se levantar um volume deste. É um volume que não sei de onde ela tirou.
O senhor assume toda a responsabilidade pelas contas de campanha? Absolutamente, de todas as contas de campanha. E confio nas pessoas que estavam na linha de frente. Quem assina a prestação de contas sou eu. Assumo absolutamente toda a responsabilidade por qualquer questão desta campanha. Qualquer pessoa que esteve na linha de frente desta campanha esteve lá por relação direta comigo ou por estar na direção do partido. Então, tranqüilamente, assumo absolutamente tudo sobre minha campanha.
Qual foi a função da Soraia na campanha? Cheguei a encontrá-la uma vez ou outra, no primeiro turno, no começo da campanha. Depois a campanha entra no ritmo que não se encontra mais. Ela ajudava lá no comitê, participava como centenas de pessoas participaram e ajudaram na campanha.
Mas o que impressiona são detalhes que ela fala, inclusive da doação deR$ 1 milhão por uma rede de supermercado. São detalhes minunciosos... Se ela tem detalhes minunciosos ficará fácil também da Policia Federal e da Justiça investigar e comprovar a veracidade (de que não teria havido caixa 2). Eu, aliás, sou o primeiro interessado em que se apure mesmo. Imagina a doação de R$ 1 milhão na campanha! Isso é algo que não acontece em lugar nenhum. Imagine em campanha municipal.
A Soraya foi ao Ministério Público acompanhada do seu irmão (Nílton Micheleti). Como o senhor recebeu esta notícia? É uma questão mais de relação familiar e não vem ao caso. E meu irmão acompanha a pessoa que quiser. Eu estive olhando as declarações dele (na imprensa). Meu irmão fez campanha para mim, pelo menos isso, né? Pelo que eu vi (pela imprensa) meu irmão acompanhou esta moça lá. Aliás, ainda não conversei com ele para saber os motivos deste acompanhamento.
Ele pediu emprego ao senhor? Eu tenho uma relação com meu irmão de irmão para irmão. Isso é que basta.
Nessas conversas de irmão para irmão não houve pedido de emprego? Olha, nem precisava. Nenhum familiar meu fala nada (pede emprego) porque já sabe da minha prática. Eu não emprego parente nenhum na administração municipal. Desde o primeiro mandato. E nenhum familiar meu jamais veio atrás de mim para procurar emprego porque sabe da minha prática política. Eu não coaduno com o nepotismo.
O senhor acha que a Soraya tem uma motivação política ou pessoal? Ainda não tenho como fazer esta afirmação. As duas coisas parecem que estão envolvidas.
Vocês prometeram algum emprego para ela? Imagina se vou prometer emprego em campanha! Nunca fiz isso e quem me conhece sabe do jeito que faço campanha. Jamais fiz isso.
Além do deputado André Vargas (PT), o senhor sabe de mais alguém para quem ela tenha pedido emprego? Não. Sei agora porque o André Vargas relatou isso depois que aconteceram os fatos. Diz que ela o procurou um tempo atrás e pediu emprego a ele. Mas isso é uma relação dela com ele.
Ela era uma voluntária, mas alega ter recebido R$ 1,2 mil por mês. Não é uma contradição? Tivemos muitos voluntários na campanha fazendo diversas atividades. Ela deveria estar ajudando nisso também. E se fazia isso também é porque deveria ter algum tipo de relação com as pessoas que estavam cuidando disso.
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