A afirmação de que Ney Braga apoiou “silenciosamente, desde 1962, os militares que planejavam depor o presidente da República João Goulart” não é verdadeira. Na página 193 do livro “Ney Braga: Tradição e mudança na vida política”, resultado da entrevista de Ney para o jornalista Adherbal Fortes, o ex- governador do Paraná conta que se comprometeu com a revolução em 30 de março de 1964. E uma simples revisão dos fatos históricos anteriores aquele ano confirma a versão do ex-governador.
Em agosto de 1961, Ney fez parte do grupo de governadores que enviou um apelo ao Congresso para que fosse estudada a possibilidade do retorno de Jânio Quadros à presidência do Brasil (Jornal Última Hora, 26 de agosto de 1961, pág. 1). Quando a renúncia se tornou irreversível, a adesão de Ney à causa legalista foi da maior importância para a posse de João Goulart (“João Goulart: Perfil, discursos e depoimentos (1919-1976)”, 2004, pág. 64). O jornalista Mauro Santayana conta que Ney Braga aderiu à campanha da legalidade desde as primeiras horas, inclusive se preparando para a luta armada se fosse necessária (Memórias da resistência – Rede Brasil Atual, 2011).
Sylvio Sebastiani, petebista histórico, refutou a afirmação de Ítalo Conti fazendo referência ao acordo que Ney Braga fez com o PTB quando ele se elegeu governador (Jornal Impacto Paraná, 29 de abril de 2009). Para os que duvidam da seriedade daquele acordo, recomendo a leitura da entrevista concedida por Ivo Thomazoni na qual ele narra as fortes reações de aliados de Ney ao acordo que dava o comando político de seu grupo ao PTB nos municípios em que o prefeito pertencia aquele partido (Jornal de Beltrão, 07 de agosto de 2010). O acordo ajudou também a eleger o petebista Amaury de Oliveira e Silva para o Senado em 1962. Como Sylvio mostrou em seu artigo, uma carta enviada por Ney ao Diretório Regional do PTB em 22 de fevereiro de 1963 confirmou a disposição de se manter o acordo a pouco mais de um ano antes da revolução de 1964. Na carta, Ney escreveu que João Goulart era depositário das esperanças populares e que assumira, com autoridade, o comando efetivo do governo federal. Se Ney já estivesse comprometido com qualquer grupo opositor a João Goulart, aquela carta o colocaria em uma situação incômoda, como afirmou Sylvio.
Ney se afastou de João Goulart com a polarização das disputas políticas e se comprometeu, em 30 de março de 1964, com a manutenção do regime democrático a qualquer preço (Ney Braga: Tradição e mudança na vida política, 1996, pág. 193). Mas Ney Braga não foi o único político paranaense a apoiar os militares. Paulo Pimentel atribuiu o afastamento entre eles ao fato de Ney ser francamente castellista enquanto Paulo apoiava Costa e Silva (Ney Braga: Tradição e mudança na vida política, 1996, pág. 173). Jayme Canet Júnior se declarava fã incondicional de Geisel e avisou ao PMDB que no palanque onde ele subiria em 1982 não poderiam ser feitas críticas diretas a Geisel (Veja, 7 de abril de 1982, pág. 27). José Richa votou em Castello Branco para presidente (Diário do Congresso Nacional, 12 de abril de 1964) e, quando prefeito de Londrina, contou com vultuosos financiamentos do governo militar mesmo sendo filiado ao MDB (Histórico dos prefeitos, www.londrina.pr.gov.br, acessado em 19 de janeiro de 2015).
É preciso lembrar que grande parte da imprensa celebrou a saída de João Goulart da presidência. O Globo, por exemplo, publicou um editorial intitulado “Ressurge a Democracia” no dia 2 de abril de 1964, demonstrando um incisivo apoio aos militares. Esse apoio foi mantido durante todos os governos do Regime Militar. Roberto Marinho, proprietário da Rede Globo, chegou a escrever em seu jornal que ele prosseguiu apoiando o movimento vitorioso desde os primeiros momentos de correção de rumos até o processo de abertura (O Globo, 7 de outubro de 1984, pág. 1).
Ney não apoiou os governos militares em todos os seus momentos. Ney foi ministro de Castello Branco, que queria eleições diretas após seu mandato, e de Geisel, que iniciou o processo de abertura política. Ney foi contra a cassação do deputado Márcio Moreira Alves (MDB) e contra a edição do Ato Institucional Número 5 (AI-5). Por isso, foi quase cassado pelos presidentes Costa e Silva (Revista Veja, 20 de julho de 1977, pág. 26) e Médici (Folha de S. Paulo e O Globo, 6 de agosto de 2014). Durante seu discurso de despedida do Senado para assumir o Ministério da Educação e Cultura (MEC), Ney foi interrompido pelo senador Nelson Carneiro (MDB), que afirmou que a escolha de Ney representava a esperança de dias mais claros para o relacionamento entre o Legislativo e o Executivo (Diário do Congresso Nacional, 14 de março de 1974). O deputado Anapolino de Faria (MDB) festejou a ida de Ney para o MEC afirmando que via renovadas suas esperanças de ver o retorno ao estado de direito (Revista Veja, 13 de fevereiro de 1974, pág. 25). Já na década de 80, Ney Braga contrariou Figueiredo apoiando as Diretas Já e Tancredo Neves para presidente (O complô que elegeu Tancredo, 1985, pág. 94).
Novamente quanto à afirmação de Ítalo Conti, é importante lembrar que o nome de Ary Veloso Queiroz, genro de Ítalo, consta como uma das testemunhas no Inquérito Policial Militar contra Oscar Alves, genro de Ney Braga (Pasta do DOPs referente a Oscar Alves, Arquivo Público do Paraná). Segundo aquela documentação, Ary Queiroz teria afirmado que o genro de Ney era “elemento pertencente ao grupo comunista liderado, pelo Deputado Federal – Paulo de Tarso.” Esse fato me faz questionar se Ítalo era realmente um dos colaboradores mais próximos de Ney Braga. E mesmo o pesquisador José Carlos Dutra, que entrevistou Ítalo e outros generais que estavam no Paraná em 31 de março de 1964, concluiu em seu trabalho que a adesão de Ney à revolução foi tomada de véspera (A revolução de 1964 e o movimento militar no Paraná: A visão da caserna, 2004, pág. 198).
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