Gleisi na Casa Civil: depois da posse, ... ministra trabalhou mais no gabinete... e concedeu apenas duas entrevistas coletivas| Foto: Fotos: Fábio Rodrigues Pozzebom e Antônio Cruz/ABr

Dia a dia

Rotina puxada para seguir a presidente

Gleisi Hoffmann ganhou fama no Senado pelos discursos em defesa do governo e pelos embates em plenário com a oposição – em especial com o conterrâneo e líder do PSDB, Alvaro Dias. Na Casa Civil, no entanto, a paranaense tem sido obrigada a gastar mais energia em longas reuniões técnicas e conversas diretas com a presidente. A rotina de começa às 8 horas e não acaba antes das 21 horas.

Logo pela manhã há um despacho com Dilma Rousseff e outros ministros para tratar dos assuntos do dia. Gleisi está presente em quase todos os eventos da presidente ao longo do dia, mas também fica presa a uma agenda própria, que normalmente envolve audiências com outros ministros. Desde o dia 13 de junho, quando o site da Casa Civil passou a publicar sua agenda, ela teve de dois a sete compromissos individuais diários.

Foram 12 audiências formais com Dilma – sem contar o despacho matinal e as conversas ao longo do dia, seja por telefone ou pessoalmente. A ministra mais próxima foi Ideli Salvatti (Relações Institucionais), que apareceu em cinco reuniões, seguida por Miriam Belchior (Planejamento), com quatro. Entre os 15 ministros listados na agenda, não houve compromisso com o marido Paulo Bernardo (Comunicações).

O paranaense também não quis comentar o primeiro mês da esposa na Casa Civil – disse que ficaria "desconfortável". Desde que Gleisi foi para a Casa Civil, o casal só conseguiu viajar junto para o Paraná duas vezes, em finais de semana. Fora o velório do ex-presidente Itamar Franco, na segunda-feira, a primeira viagem oficial da ministra para fora de Brasília ocorrerá no dia 12, em uma visita a Francisco Beltrão (no Sudoeste do estado) para o lançamento do Plano Safra. (AG)

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29 reuniões

foram realizadas por Gleisi com 15 ministros diferentes. Os recordistas de encontros foram Ideli Salvatti (Relações Institucionais), com cinco reuniões, e Miriam Belchior (Planejamento), com quatro.

15 despachos internos

estiveram na agenda de Gleisi. A ministra tem utilizado esse tempo para se informar sobre programas e temas importantes para o governo, como a tramitação do Código Florestal no Senado.

3 senadores

foram recebidos na Casa Civil. Pela ordem, Humberto Costa (PT-PE), Romero Jucá (PMDB-RR), Clesio Andrade (PR-MG). Gleisi também participou de um almoço com senadores e Dilma no Alvorada.

4 governadores

tiveram reuniões com Gleisi. Pela ordem, Camilo Capiberibe (PSB-AP), Marconi Perillo (PSDB-GO), Renato Casagrande (PSB-ES) e Wilson Martins (PSB-PI).

Quinze horários reservados para despachos internos, 29 reuniões com ministros, contra apenas duas entrevistas coletivas no Palácio do Planalto e três aparições em eventos públicos. As estatísticas da agenda de Gleisi Hoffmann durante o primeiro mês como ministra da Casa Civil, completado hoje, comprovam que ela levou a sério a tarefa de mudar o perfil da pasta, que voltou a se dedicar mais à gestão do que à articulação política. Nessa linha, o período serviu para a paranaense como um curso intensivo de como ser a "Dilma" da presidente Dilma Rousseff.

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A opção pela discrição e pelo trabalho de gabinete, por enquanto, surtiu efeito até entre a oposição. "É cedo para fazer qualquer avaliação, mas só o fato de ela descontaminar o ambiente deixado pelo Palocci já pode ser considerado algo positivo", diz o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), ferrenho oposicionista no Congresso Nacional. Líder do PSDB na Câmara, o paulista Duarte Nogueira tem opinião parecida, mas dá o recado: "O des­­taque de uma pessoa pública não se dá no momento de águas tranquilas, mas na turbulência".

Gleisi assumiu o cargo após a pior tempestade do atual governo, o escândalo que levou à queda de Antonio Palocci. Coor­­denador da campanha de Dilma e interlocutor do PT com o empresariado, o ex-ministro acabou absorvendo a imagem de "estrela" dentro e fora do Pla­­nalto. Menos famosa, a paranaense acabou ganhando pontos justamente por ser considerada mais atenciosa.

"O Palocci era uma pessoa de difícil acesso, enquanto a Gleisi parece mais aberta. Agora, para ver se é isso mesmo, a gente ainda precisa esperar um pouco. O pessoal está apreensivo", diz deputado paranaense Nelson Meurer, líder do PP, terceiro maior partido da base governista na Câmara.

A imagem de política afável tem a ajudado a ministra a passar ao largo de novas confusões. Nas poucas falas à imprensa, houve apenas uma polêmica, quando ela disse que "não há recurso público" do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. A tese de Gleisi é que os recursos viriam da BNDESPar, um braço do órgão em empresas privadas realmente sem interferência do governo, mas cujos resultados têm impacto nas receitas do Tesouro Nacional.

Mudanças

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Se os primeiros 30 dias da paranaense foram marcados pelas raras notícias externas, internamente uma série de mudanças já está em andamento. O primeiro passo foi estreitar a parceria com a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, presidida pelo empresário Jorge Gerdau. Na primeira reunião do órgão, dia 29 de junho, foram definidas, pela ordem, cinco áreas prioritárias do governo: Ministério da Saúde, Infraero, Ministério da Justiça, Previdência e Correios.

Com atenção às férias de julho, Gleisi também se preocupou com anúncio de medidas preventivas a uma nova crise nos aeroportos. Entre elas, está o compromisso das empresas de não operar com overbooking (venda de passagens em número superior ao de assentos). Além disso, comunicou a decisão do governo de que todos os aeroportos tenham internet gratuita.

Ainda na área de gestão interna, a ministra reativou na segunda-feira a Subchefia de Articula­­­ção e Monitoramento da Casa Civil. O órgão vai auxiliá-la no acompanhamento das ações consideradas prioritárias nos ministérios. Seis técnicos já foram nomeados e vão trabalhar em coope­­ração com a Câmara de Políticas de Gestão.

A recomposição da subchefia distancia o ministério da era Palocci e o deixa mais idêntico à era Dilma, que ficou no cargo de junho de 2005 a março de 2010. "Essa é a encomenda que ela [Dilma] me fez [mudar o perfil da Casa Civil]. Quando ela conversou comigo, me disse: 'Olha, não quero você nas articulações da política'", afirmou Gleisi, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo no dia 10 de junho.

Nada a declarar

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Desta vez, no entanto, a ministra preferiu não falar sobre o balanço do seu primeiro mês no governo. Na estreia como mi­­nistra da Casa Civil, há seis anos, Dilma também evitou declarações à imprensa. Na época, ela também havia substituído a então "estrela" do governo, José Dirceu.

Na mesma entrevista, Gleisi disse que a ideia de que ela seria a "Dilma da Dilma" não era correta e que ela não tinha essa pretensão. "Eu tenho muito que aprender ainda", justificou. Entre tantas coincidências com a chefe nas últimas quatro semanas, parece que na prática a resposta foi outra.