“Dilma está agora em Nova York com o papa. Que ele a absolva”, ironizou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao falar para uma plateia de empresários e políticos neste sábado (26) em Montevidéu, no Uruguai.
Apesar da brincadeira com a viagem da presidente Dilma Rousseff aos EUA, onde ela assistiu a discurso do papa Francisco, o tucano voltou a afirmar que Dilma Rousseff, em sua opinião, “pessoalmente não está envolvida em irregularidades”.
“Acho que Dilma tentou frear o esquema, mas não conseguiu. Não se trata de corrupção tradicional, mas sim do financiamento da hegemonia. Existe o pensamento de que ‘só eu sou bom, então vou fazer de tudo para me manter no poder’“, afirmou o ex-presidente.
O tucano deu uma palestra para cerca de 400 empresários e políticos dos partidos conservadores Nacional (ou Blanco) e Colorado, forças políticas uruguaias que fazem oposição ao atual governo de centro-esquerda no país.
Na plateia, estavam os ex-presidentes do Uruguai Luis Alberto Lacalle (1990-1995) e Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000), a quem FHC se referiu como amigos. Não havia representantes de peso da coalizão governista Frente Ampla.
O presidente uruguaio Tabaré Vázquez creditou sua ausência, por meio de uma carta, aos afazeres derivados das atividades presidenciais. Ele também está nos EUA.
FHC voltou a fazer ironias ao comentar as chances do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar à Presidência em 2018. “Não sei como ele vai voltar, já que nunca saiu”, afirmou.
“O prestígio de Lula diminuiu muito. Não sei o que vai fazer. Mas é muito inteligente, tem uma percepção aguda dos pactos políticos. E não tem vinculação estável com nada, a não ser com o poder”, completou.
Ele disse entender que “vai crescendo no Brasil a sensação de que ‘chegou o momento’. Não está claro se Dilma terá capacidade de ação. Isso não quer dizer que vá cair, mas sim que as condições de superação podem demorar”.
Também avaliou que, “quando o presidente não percebe a força do Congresso, o problema pode ser grave. Tivemos presidentes no Brasil que nem sequer terminaram seu período”.
O ex-presidente explicou o que chamou de uma passagem de um “presidencialismo de coalizão” para um “presidencialismo de cooptação”.
“Temos uma situação econômica muito difícil e uma crise política complexa. Dentro do sistema de cooptação, formaram-se partidos que, na verdade, são agregados com o objetivo de formar parte do orçamento. São falsos partidos, e temos vários deles”.
Ao longo da palestra, FHC frisou várias vezes que qualquer saída deve ser articulada “dentro da Constituição” e, ao final, disse não ser a favor de acabar com o PT.
“O PT canaliza aspirações legítimas, mas seria necessário evitar que cheguem ao poder porque desejam ser hegemônicos. Lula talvez não tenha um sentimento tão favorável a mim. Não me importa”, afirmou.
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