Os documentos que indicam a possibilidade de participação dos deputados federais Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Sandro Mabel (PMDB-GO) no suposto esquema de corrupção comandado pelo ex-diretor da Anac Paulo Vieira foram encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (STF), que pode decidir pela abertura de investigação contra os dois parlamentares.
"Os documentos foram separados da investigação e encaminhados (ao STF). Lá, vão decidir se há elementos para gerar uma investigação", afirmou a procuradora Suzana Fairbanks Oliveira Schnitzlein, responsável pela investigação que resultou na Operação Porto Seguro.
Os dois deputados têm foro privilegiado e não podem ser investigados sem autorização do Supremo. Para não atrapalhar as investigações, o Ministério Público Federal esperou a realização da operação para enviar os documentos.
Não foi revelada qual seria a participação de Mabel no caso. A investigação da Polícia Federal flagrou mais de mil ligações entre Vieira e Valdemar e outros dirigentes do PR. Procurado por meio de sua assessoria, Mabel não se manifestou. Valdemar informou que "não comenta declarações do Ministério Público e que desconhece os fatos investigados" na operação. Na segunda-feira, o deputado havia confirmado ser amigo "há muitos anos" de Vieira.
Durante as investigações do mensalão, em 2005, Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto, citou como pessoa muito próxima a Valdemar o presidente do Grupo Formitex, Alípio Gusmão, que detém o controle da Tecondi, empresa que tentou comprar por R$ 300 mil parecer do TCU por meio de Paulo Vieira.
"Eu vou fornecer aos senhores, e daí os senhores podiam pedir a alguém que entrasse nesse escritório para pegar os registros. Vai ajudar muito nas investigações. Sr. Alípio Gusmão, na Rua Gomes de Carvalho, 1.306 - 8º andar", disse Maria Christina durante depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. O mesmo endereço citado por ela há sete anos como suspeito foi alvo de busca e apreensão feita pela PF na última sexta-feira. Paulo Vieira é genro de Gusmão, que não foi indiciado na Operação Porto Seguro.
Vieira pediu indicação a Valdemar
No depoimento de 2005, a ex-mulher de Valdemar contou que buscava o marido no endereço, e que ele sempre deixava o prédio com uma "mala a mais". "Algumas vezes saía com uma mala - e eu não falei o que tinha dentro. Eu falei: com uma mala a mais e que, coincidentemente, algumas das vezes, a maioria das vezes, mais que 60%, 70% das vezes a gente voltava em avião privado para Brasília", disse Maria Christina na ocasião. Procurada nesta terça-feira pelo GLOBO, ela disse apenas que confirmava o que disse à comissão. Representantes do Formitex também foram procurados, mas não quiseram comentar.
Em um dos telefonemas grampeados pela Polícia Federal, de 28 de maio deste ano, Vieira pede ao deputado a indicação de um vereador de Santos, cidade do litoral paulista, para a assinatura de uma representação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).
O grupo liderado por Paulo Vieira tem forte atuação em negócios da região portuária de Santos, área de influência política de Valdemar, que já foi diretor da Companhia Docas de São Paulo (Codesp).
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