Senadores do PT ameaçam, nos bastidores, votar contra a indicação de Roberto Gurgel para um novo mandato a frente da Procuradoria-Geral da República, órgão máximo do Ministério Público Federal (MPF). A ação seria uma retaliação à manifestação entregue por ele em julho pedindo a condenação de 36 réus no processo do mensalão. Boa parte dos réus é do PT.
A articulação petista foi revelada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), em uma conversa na vice-presidência da República na qual participaram Michel Temer e outros caciques peemedebistas. O líder do PT, Humberto Costa (PE), reconhece que há desconforto no partido, mas acha que no fim das contas os petistas darão respaldo à decisão da presidente Dilma Rousseff de reconduzir Gurgel ao cargo de procurador-geral da República.
A sabatina de Gurgel acontece nesta quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Se a indicação for aprovada pela comissão, seguirá para o plenário. Nos dois casos a votação é secreta. Gurgel foi indicado por Dilma após ter sido o mais votado em eleição da Associação Nacional dos Procuradores da República.
O DEM, comandado pelo líder Demóstenes Torres (GO), votará contra Gurgel no Senado devido a seu parecer poupando Antonio Palocci quando o ex-ministro tentava se manter na Casa Civil. O partido tenta convencer o também oposicionista PSDB a seguir o mesmo caminho. Se o PT, no voto secreto, também ficar contra a recondução, a indicação de Gurgel poderia correr risco.
O procurador-geral da República provocou a ira de setores do PT por ter pedido a condenação de 36 dos 38 réus do processo do mensalão um dia após ter sua indicação para um novo mandato oficializada pela presidente Dilma Rousseff.
O esquema foi o principal escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e envolveu autoridades poderosas da época, como o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Cassado pela Câmara, Dirceu retornou às articulações partidárias e integra o diretório nacional do PT. Outro réu, Delúbio Soares, chegou a ser expulso do PT, mas em abril foi autorizada sua volta à legenda.
A denúncia do mensalão, o esquema de pagamento de propina em troca de apoio parlamentar, foi feita por Roberto Jefferson, presidente do PTB, que também foi cassado na Câmara e é réu no processo. Uma CPI investigou o tema e produziu o material que foi a base para as ações do ministério Público.
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