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Barracão em que funcionou o comitê de Richa em Londrina: endereço coincide com o queconsta da nota fiscal que comprovaria que o delator do esquema comprou divisórias de madeira. | Gilberto Abelha/Jornal de Londrina
Barracão em que funcionou o comitê de Richa em Londrina: endereço coincide com o queconsta da nota fiscal que comprovaria que o delator do esquema comprou divisórias de madeira.| Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

Uma nota fiscal entregue pelo auditor da Receita Estadual Luiz Antônio de Souza ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) aumenta a suspeita de que a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB), no ano passado, teve caixa 2. A nota, a qual a reportagem teve acesso, mostram que o auditor, investigado pelo esquema de corrupção na Receita, pagou R$ 5,7 mil do próprio bolso pela madeira compensada usada para instalar divisórias no comitê de campanha de Richa que ficava perto do Terminal Urbano, na região central da Londrina. O pagamento, que em tese deveria ter sido lançado como doação eleitoral, não consta da prestação de contas da campanha de Richa.

Oposição começa coleta de assinaturas para CPI da Receita

Sob silêncio completo da base aliada, a bancada de oposição na Assembleia Legislativa atacou o governador Beto Richa (PSDB) pela denúncia de que R$ 2 milhões de propina teriam sido usados na campanha dele à reeleição, no ano passado. Nesta segunda-feira (18), os oposicionistas reiniciaram a tentativa de coletar as 18 assinaturas necessárias para instalar na Casa uma CPI que investigue o esquema de corrupção na delegacia da Receita Estadual em Londrina. Por ora, apenas nove deputados assinaram o documento.

Líder da oposição, Tadeu Veneri (PT) afirmou que o momento exige uma manifestação por parte da Assembleia, que “não pode ficar indiferente diante da gravidade da situação”. O petista ainda rebateu as afirmações de Richa de que as acusações são uma “campanha orquestrada” para atingir seu governo. “São os amigos do governador que estão fazendo as acusações.”

Coletor das assinaturas para a CPI da Receita, o vice-líder oposicionista, Requião Filho (PMDB), protocolou uma representação no Ministério Público Federal pedindo investigação a respeito de suposta fraude na prestação de contas da campanha de Richa em 2014. “Não sei o que uma CPI somaria às investigações do Gaeco. Não vejo razão para a Assembleia entrar nesse tema”, disse o governista Pedro Lupion (DEM).

Investigado pelo Gaeco na Operação Publicano, o auditor Luiz Antônio de Souza firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público (MP) para contar o que sabe e ter redução de sua pena. Ele já disse que o esquema de corrupção na Receita de Londrina teria arrecadado R$ 2 milhões que foram destinados à campanha de Richa.

Despesa maior

Com relação às divisórias do comitê em Londrina, o advogado de Souza, Eduardo Duarte Ferreira, relatou, com base no depoimento do cliente, que o custo foi de R$ 15 mil a R$ 25 mil e que o material foi comprado em mais de uma loja. Isso significa que poderia haver outras notas da aquisição do material.

A reportagem teve acesso a uma nota fiscal, de R$ 5.785, da empresa Gmad Complond Suplementos para Móveis, de 29 de julho do ano passado – período em que a campanha já estava liberada pela Justiça Eleitoral. A nota está em nome de Souza e o local de entrega do compensado usado nas divisórias coincide com o endereço em que funcionou o comitê de Richa. “Ele [Souza] explicou que foi procurado no curso da campanha eleitoral. O imóvel é muito grande e precisava ser dividido”, disse o advogado do auditor.

Penúltimo foragido da Operação Publicano se apresenta à Justiça

O auditor fiscal Miguel Arcanjo Dias, um dos 15 denunciados pelo Ministério Público Estadual (MP) na Operação Publicano, apresentou-se nesta segunda-feira (18) à Justiça. Ele estava com a prisão preventiva decretada desde 27 de março e responde, na Receita Estadual, a processo administrativo por abandono de emprego, já que se ausentou do trabalho por mais de 30 dias enquanto esteve foragido. A informação foi confirmada pelo advogado dele, Eduardo Duarte Ferreira – o mesmo do auditor Luiz Antônio de Souza, que firmou acordo de delação premiada com o MP.

Dias era um dos dois investigados pela Operação Publicano que continuavam foragidos. A outra, que ainda não havia se apresentado até o fechamento da edição, é Ana Paula Lima, mulher de Márcio de Albuquerque Lima, considerado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) como o líder do esquema que cobrava propina em troca de sonegação fiscal. Ele está preso.

O advogado da Gmad, Vinícius Borba, confirmou a autenticidade do documento.

Numa busca feita na prestação de contas da reeleição de Richa, a reportagem constatou que não há doação oficial de Souza à campanha de reeleição do governador. A Gmad também não aparece como doadora ou fornecedora da campanha.

Outro lado

Em nota, o PSDB do Paraná afirmou que “não reconhece a veracidade da despesa alegada” pelo auditor. “A coordenação da campanha eleitoral do PSDB não encomendou o referido material, não autorizou e nem recebeu qualquer nota fiscal referente ao alegado serviço. Todos os serviços contratados em 2014 pela coligação Todos Pelo Paraná e suas correspondentes notas fiscais foram apresentados no relatório de prestação de contas aprovado pela Justiça Eleitoral”, diz o texto do PSDB.

A reportagem não localizou Vítor Hugo Dantas, que foi um dos coordenadores da campanha de Richa em Londrina. Hoje ele é responsável pela Região Metropolitana de Londrina (Comel). Na sede da Comel, funcionários informaram que ele estaria em uma reunião em Porecatu. A reportagem também ligou três vezes para o celular de Dantas, mas não conseguiu falar com ele.

Auditores tinham ‘sala da propina’ em prédio comercial, diz delator

Segundo informações prestadas pelo delator Luiz Antônio de Souza no acordo de delação premiada com o Ministério Público Estadual (MP), os auditores fiscais acusados de envolvimento no esquema de corrupção teriam uma “sala da propina” em um prédio comercial na Rua Alagoas, no centro de Londrina. Lá, realizariam reuniões e guardariam dinheiro recebido do esquema de corrupção na Receita.

Ele acrescentou que, embora a “sala da propina” esteja registrada em seu nome, pertenceria a outro auditor fiscal, Milton Digiacomo, que no ano passado disputou uma cadeira na Assembleia Legislativa do Paraná pelo PSB, partido que fazia parte da coligação que apoiou a reeleição de Beto Richa (PSDB).

A reportagem procurou Digiacomo nesta segunda-feira (18) à tarde. Mas, segundo funcionários da delegacia da Receita Estadual de Londrina, ele não havia aparecido. (FS)

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