A "nova classe média", trazida ao centro do debate político pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na semana passada, e cobiçada pelo PT, que vê na presidente Dilma Rousseff a figura talhada para conquistá-la, chegou para mudar o cenário eleitoral do país, admitem analistas, marqueteiros e estudiosos.

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O tema apareceu no artigo "O Papel da Oposição", divulgado na semana passada por FHC, e reforçou a condição da nova classe média como um objeto de desejo do mundo político. Trata-se de um vasto universo de 29 milhões de pessoas – pobres que, nos últimos seis anos, subiram da classe D para a C. É uma fatia que muda o mercado de consumo e carrega consigo novos comportamentos e expectativas. Analistas, líderes partidários, comunicólogos e marqueteiros já se esforçam para entender como reagirá, no futuro, esse segmento, que com sua ascensão fez da classe média o maior grupo social do país, com 94 milhões de pessoas (51% da população).

"Essa nova fatia não é gente sem nada, que aceita qualquer coisa. É gente que trabalhou duro, subiu, sabe o que quer, tem mais informação e se torna mais exigente", resume Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope. "Isso merece um discurso novo. FHC acertou ao mandar a oposição ir atrás dela", disse.

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Não por acaso, o economista Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas – primeiro a detectar esse fenômeno, num estudo de 2010 – considera essa iniciativa de Fernando Henrique "a segunda ideia mais inteligente da oposição em anos, depois do plano de estabilização dos anos 1994-2002". Esse brasileiro, diz ele, "quer sonhar, e não apenas diminuir seus pesadelos".

O impacto dessa nova classe já se faz sentir no mundo político, que ainda procura entender a enorme votação da candidata Marina Silva (PV) nas eleições presidenciais de 2010. "Mas é perda de tempo tentar adivinhar se é um grupo de esquerda ou de direita", observa Antonio Prado, sócio-diretor da Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado (APPM), em São Paulo.

Oportunidades

Esse universo, diz Prado, "é composto por cidadãos que tomaram iniciativas, buscaram créditos, tornaram-se microempresários". "Seus filhos estão entrando na universidade via ProUni. Como trabalhadores, não querem um Estado que os tutele, mas que lhes dê oportunidades para crescer." Como cidadãos, continua o analista, esperam "que haja ordem na sociedade, para nenhum malandro lhes passar a perna" – afinal, se esforçaram demais para chegar aonde chegaram. Dos políticos, esse eleitor esperaria "coerência e dedicação ao bem comum".

Mas para quem imagina que isso tudo tem um certo jeito de direita, Prado avisa que "esse brasileiro já foi pobre e percebeu que uma tarefa prioritária do Estado é atacar as desigualdades" – ou seja, a nova classe é a favor dos programas sociais. E, mais do que discurso ideológico, quer bons gestores.

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Marcia Cavallari avalia uma consequência prática da entrada em cena desse eleitor. "Ele percebe que há empregos e sabe que não tem preparo para se candidatar a muitos deles. Então, a qualidade do ensino se torna um fator decisivo para sua vida, para ele aprender e subir. E ele quer que seus filhos cheguem à universidade e tenham uma vida melhor que a dele. Isso torna inevitável, em próximas eleições, o debate eleitoral qualificado sobre o nível da educação no Brasil."