Depois de Antônio Palocci, que deixou recentemente a Casa Civil após a denúncia do enriquecimento suspeito do ministro, mais um integrante do governo Dilma Rousseff tem o nome envolvido em polêmica. O ex-senador petista e hoje ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, teria autorizado a compra de suposto dossiê com denúncias contra José Serra, então seu adversário na disputa pelo governo de São Paulo, em 2006.
A operação resultou na prisão pela Polícia Federal de dois dirigentes petistas que guardavam uma mala com R$ 1,7 milhão em um hotel de São Paulo, no caso que ficou conhecido como "dossiê dos aloprados". Segundo reportagem da revista Veja desta semana, a afirmação de que Mercadante foi o mentor da compra dos documentos contra o tucano teria sido feita pelo ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, em conversa com outros petistas, que gravaram o diálogo. A Veja teve acesso às gravações.
"O plano foi tocado pelo núcleo de inteligência do PT, mas com conhecimento e a autorização do senador", disse Veloso aos companheiros. "Ele era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo".
Segundo a Veja, além do aval de Mercadante, a operação teve a participação do ex-governador peemedebista Orestes Quércia, falecido no ano passado, que também concorria ao Palácio dos Bandeirantes na época. A avaliação de Quércia e Mercadante, segundo explicou Veloso, era de que a publicação do dossiê contra o Serra poderia levar a eleição paulista para o segundo turno.
"Os dois (Mercadante e Quércia) fizeram uma parceria, inclusive financeira... Parte (do dinheiro) vinha do PT de SP. A parte mais significativa era do Quércia", disse Veloso, explicando adiante o teor do acordo. "Em caso de vitória do PT, ele (Quércia) ficaria com um naco do governo do Mercadante."
O dinheiro levantado serviria para o pagamento dos empresários mato-grossenses Darci e Luiz Antônio Vedoin, que teriam se encarregado de montar um dossiê falso ligando Serra a um esquema da fraudes no Ministério da Saúde. Um grupo ficaria responsável de avaliar os danos que a divulgação dos documentos causaria à campanha do tucano. Outro cuidaria da divulgação dos documentos na imprensa, e um terceiro da arrecadação do dinheiro.
Pelo relato de Veloso, este grupo demorou a conseguir o dinheiro. "O Mercadante disse que estava tudo pronto em São Paulo. Que o Valdebran [Padilha] podia ir porque já estava tudo juntado, e não estava... O Valdebran alugou um avião para ficar apenas duas horas no aeroporto e foi preso quatro dias depois no hotel".
O empresário Valdebran Padilha era do PT de Mato Grosso e foi preso dias antes do primeiro turno junto com Gedimar Passos e a mala com R$ 1,7 milhão. Procurado por Veja, Veloso admitiu o diálogo. "Era uma conversa privada. Nunca imaginei que ela pudesse sair do círculo do partido", justificou. Veloso classifica sua participação no episódio como "lateral". Perguntado se confirmava as conversas, disse: "Eu estava querendo mostrar às pessoas que não era um "aloprado". Era um desabafo a colegas do partido".
Defesa
Em nota pública, o ministro afirmou ser alvo de "falsas insinuações". "Em primeiro lugar, porque um dos principais personagens citados (Quércia), de quem democraticamente divergi durante toda a minha vida política inclusive nas últimas eleições faleceu recentemente e, por isso mesmo, não pode mais ser ouvido. Em segundo lugar, a matéria não informou que estas ilações já haviam sido mencionadas à época e que o ex-procurador-geral da República Antonio Fernandes de Souza pronunciou-se de modo inequívoco e isentou-me de qualquer envolvimento na suposta operação."
Mercadante argumentou ainda que a revista não mencionou que, por unanimidade, a instância máxima da Justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal, o inocentou do episódio. "As falhas de informação e as opiniões marcadamente distorcidas não mudarão minha atuação à frente do Ministério da Ciência e Tecnologia nem diminuirão o esforço que desenvolvemos para assegurar a mais ampla liberdade de imprensa e a transparência como valor essencial da vida pública."
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